FÉ,
AMOR E SECULARIDADE.
Mais de dois mil anos se passaram. Homens e mulheres sofreram tantas mudanças que por vezes há dificuldades em sabermos quem é quem. O
mundo sofreu todos os tipos imagináveis e inimagináveis de mudanças. O Planeta
modificou seu aspecto externo, seu relevo, sua temperatura, tudo; vivemos
continuamente sob mudanças, até porque há uma incessante troca de energia e
massa na natureza além da frenética
interferência humana.
A primeira vista parece ser
impossível que algo neste mundo em eterna ebulição possa permanecer imutável por dois mil anos. E
o melhor, que nós façamos parte desse contexto. Não pensem que fiquei maluca.
Estou sã, até que me provem o contrário. Domingo de Ramos, na Igreja, em
plena celebração, me peguei questionando o porquê do sacrifício do Cristo ser
tão presente, ser capaz de emocionar, levar à profundas reflexões, ditar
condutas, condicionar nossas escolhas.
É por mais que sejamos levados
a evoluir em nossas vidas, que passemos a nos prover de intenções direcionadas
ao autoconhecimento, ou mesmo que adotemos as costumeiras diretrizes do dia a
dia e palavrinhas que nos contextualizam com a realidade, somos surpreendidos
como ainda guardamos em nosso íntimo o que nos foi passado por nossos pais, que
já receberam dos seus de geração a geração.
Nós acostumamos à limitação dos
fatos ao tempo em que eles são de alguma forma, interessantes para nossa vida,
para a sociedade, para aprimorar conhecimentos ou qualquer coisa que o
valha. Muita coisa foi guardada na
memória da humanidade, mas nenhuma delas consegue aproximar-se do marco memorável
que demarcou a história, a fé, o amor, a paixão e a compreensão do Sagrado.
Há, entre todos os
acontecimentos que a humanidade testemunha um MISTÉRIO impossível de ser
ignorado. Um acontecimento capaz de retroceder o relógio secular, de
materializar desígnios Divinos e iluminar a humanidade sobre a ação e a obra de
DEUS.
Falo da PAIXÃO DE CRISTO. Um
momento único na história da humanidade. Iniciado com a Anunciação do Anjo a
Maria e do seu sim, traduzido singularmente no Magnificat, o seu canto de amor.
A história de amor e de aceitação tem muitos personagens. À Maria, mãe do
Salvador, foi indispensável o suave amor de José, que o fez acreditar, protegê-la, desposá-la
e, sobretudo, amar a Jesus portando-se como um Pai e, numa lição espetacular de
humildade ensinar, ao Rei dos Reis, o humilde ofício de carpinteiro.
A História da Paixão de Cristo atravessa
os séculos, desafia a humanidade, a heresia, a apostasia, a agnosia, tudo e até
mesmo as espalhafatosas declarações em busca de parâmetros para imagens a serem
vendidas. Muitos lembram a polêmica frase atribuída a um Diretor da “White Star Line” sobre o TITANIC: “Nem Deus afunda o Titanic.”
A frase imputada a Jonh Lenon, um dos Beatles: “Nos somos mais famosos que
Jesus Cristo”. Uma atitude de Cazuza, que num show no Canecão deu um trago
num cigarro de maconha, olhando para o alto e soltando a fumaça afirmou: “Deus essa é para você”. Todos se
foram, todos morreram, Deus permanece e Jesus ressuscita todos os dias.
Pois é, a Paixão de Cristo está
cada dia mais viva. Não se trata apenas de fazer memória. Não é teatro, não é a
busca pela desejada panacéia, é muito mais que todas as coisas que possamos
imaginar. Talvez o segredo esteja no fato de que a Paixão é alimentada pela Fé.
Nós, católicos, acreditamos que Jesus, o Cordeiro de Deus, através de seu sacrifício
nos inseriu num novo projeto, deu-nos uma nova chance de um dia alcançarmos a verdadeira
Paz. Mas, a Fé não é algo que se
planeje, se calcule ou mesmo se possa transferir a terceira pessoa.
A Fé, em
mim, é um sentimento profundo de entrega e certeza. É confiança, esperança com
credibilidade ante a verdade emanada de um processo construído no mais íntimo de meu ser. A Fé renova ano a
ano a Paixão de Cristo. Ela é portadora da Boa Nova, ela nos diz que todos os
dias, Jesus se sacrifica para que sejamos melhores e possamos ajudar um aos
outros.
A Fé é filha do Amor. Daquele
que transcende à materialidade. Aquele que não necessita ver para crer. Aquele sentimento
maior, capaz de superar distâncias geográficas, eliminar diferenças sociais, étnicas,
religiosas. Amor universal, da humanidade por Deus, e de Deus por todos nós.
O Amor gera todas as coisas
e segundo Bento XVI, é o sentimento que procura o bem e a paz para todos os
seres humanos. O Amor Ágape nos faz voltar no tempo, sentir a dor, a traição, o presente
da Eucaristia, a infâmia das acusações, a omissão de Pilatos, a crucificação e
morte, a ressurreição..., a mensagem para que sejamos pessoas melhores, nos
amemos e propaguemos o porquê da vinda,
morte e ressurreição do Cristo.
O Amor está presente em nossas
vidas até quando não o sabemos. Existe amor no bom dia que você dá a um
desconhecido, valorizando-o, lembrando-o de que está vivo, é um filho de Deus.
Igualmente existe amor quando nos dedicamos e damos o melhor de nós mesmos no
nosso trabalho. E o que dizer do olhar carinhoso, do sorriso amigo que
dedicamos no dia a dia a tantas pessoas que nos procuram, muitas vezes apenas para
ter com quem trocar duas palavras?
O Amor nos diz que a Paixão não
foi em vão. O Amor testemunha a Graça, a Palavra, a doçura dos corações, a
abertura para Deus, a conversão em reconhecimento de que o Deus Encarnado, o
Verbo Divino, veio para Redenção de toda a humanidade e através dele pudemos entender
o significado da obediência, da humildade, da paciência, da justiça, da constância
e da fidelidade a vontade do PAI.
A PAIXÃO DE CRISTO É REAL,
ATUAL E CONSTANTE. Acontece todos os dias, nas pessoas que são imoladas em
assaltos, assassinatos, raptos, torturas, humilhações, chantagens e todas as
formas de negação ao Deus da Vida. Ela, a Paixão, mantém seus pilares. O nosso
cotidiano nos mostra diuturnamente os agressores, a briga pelo poder, a
bajulação ininterrupta, os modernos Pilatos que lavam as mãos, viram o rosto,
escondem a corrupção, se negam a enxergar a dor, o horror, a fome, a ignorância.
Os personagens da Paixão estão
todos aí, ao nosso redor. Cada um de nós pode ter tido o seu dia de Pilatos, quando
nos negamos a ver as injustiças ao nosso redor. Quantas vezes fomos Pedro e
negamos Jesus ou quem sabe, um nosso
conhecido ou mesmo desconhecido, pobre, maltratado, humilhado e que precisava veementemente
de um gesto, uma palavra, uma ação?
Será que em nenhum momento de nossas vidas nos portamos como Judas Iscariotes, depositando nossas aspirações sobre outros, que não sonham os nossos sonhos e por isso “merecem” o beijo da entrega? Quantas vezes fomos Tomé e ignoramos os sinais, desdenhamos e somente acreditamos naquilo que se materializa diante de nós?
Será que em nenhum momento de nossas vidas nos portamos como Judas Iscariotes, depositando nossas aspirações sobre outros, que não sonham os nossos sonhos e por isso “merecem” o beijo da entrega? Quantas vezes fomos Tomé e ignoramos os sinais, desdenhamos e somente acreditamos naquilo que se materializa diante de nós?
Essa descrença, essa ausência
de compromisso cristão, essa forma distorcida de ver aos homens e a Deus
crucifica todos os dias. Esse motor contínuo, essa lei imutável do nunca
mais ao eterno retorno, nos faz consciente do quanto contribuímos para a
nova versão da Paixão de Cristo. Mas nem tudo está perdido. A
nossa Semana Santa não é feita apenas de Sexta Feira. A esperança renasce, Cristo
Ressuscita e nós temos de volta a Promessa Sagrada de um lar eterno assegurado
pelo sangue redentor do Cordeiro de DEUS.
A Páscoa acontece em cada
coração, em cada consciência. Ela não é só a vitória sobre a morte, é,
fundamentalmente, a vitória sobre o pecado, a regeneração que nos aviva e enche
de esperanças. Jesus passa da morte para a vida, das trevas para a luz, o
templo arrasado, colocado abaixo, está novamente de pé. As Escrituras foram
cumpridas. Com a Páscoa celebramos o mistério da salvação pela ressurreição de
Jesus Cristo.
Todas as vezes que estendemos
nossas mãos para os que necessitam de ajuda, todas as vezes que defendemos os
que são injustiçados, todas as vezes que matamos a fome, a sede, livramos do
frio e da vergonha aqueles que nos procuram, acontece a Páscoa em nosso âmago.
É verdade, estávamos mortos pelo egoísmo, pela insensibilidade, pela omissão e
por tantos outros sentimentos negativos e o nosso irmão, talvez até o último na
escala social de nossa atualidade, nos resgata para Deus por um simples gesto
de amor, por uma concessão à vida, ao projeto de Deus.
Tenho a absoluta certeza de assim
como a PAIXÃO DE CRISTO REPETE-SE TODOS OS DIAS, É ATUALÍSSIMA, TAMBÉM O É A
RESSURREIÇÃO, A PÁSCOA DO SENHOR.
Um comentário:
pretty nice blog, following :)
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