Quem sou eu? O que faço

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João Pessoa, Paraíba, Brazil
Quem sou? O que faço. Sou Maria de Lourdes, tenho, agora, 62 anos, esposa, mãe e avó, formação jurídica, com pós graduação em Direitos Humanos e Direito Processual Civil, além de um curso não concluído de Filosofia. Conheci os clássicos muito cedo, pois não tinha permissão para brincar na rua. Nosso universo – meu e de meus irmãos – era invadido, diariamente, por mestres da literatura universal, por nossos grandes autores, por contistas da literatura infanto-juvenil, revistas de informação como Seleções e/ou os populares gibis. Todos válidos para alimentar nossa sede de conhecimento. Gosto de conversar, ler, trabalhar, ouvir música, dançar. Adoro rir, ter amigos e amar. No trabalho me realizo à medida que consigo estabelecer a verdade, desconstruir a mentira, fazer valer direitos quando a injustiça parece ser a regra. Tenho a pretensão de informar, conversar, brincar com as palavras e os fatos que possam ser descritos ou comentados sob uma visão diferente. Venham comigo, embarquem nessa viagem que promete ser, a um só tempo, séria e divertida; suave e densa; clássica e atual. Somente me acompanhando você poderá exercer seu direito à críticas. Conto com sua atenção.

sábado, 5 de abril de 2014

JOSÉ WILKER À SERVIÇO DA ARTE

O ESPETÁCULO NÃO PODE PARAR.


O amanhecer traz sempre renovação. Com ele pode chegar  o alento às nossas dores, a alegria de mais um ser humano entre nós, a confirmação de algo muito esperado...enfim, o leque de possibilidades é infinito. Infelizmente, também contamos com a admissibilidade de novos acontecimentos que são contrários aos nossos interesses, às nossas vidas e até mesmo a algo que temos como uma constantes  em nosso existir. Falo do entretenimento,  aspecto imprescindível  que podemos exercitar através das múltiplas formas de cultura ou através do lúdico. O nosso presente, cheio de tensões e encargos, não pode  dispensar o afastar-se, momentaneamente, de tais  obrigações até mesmo para manter a saúde física e mental. 


Pois é, acostumamo-nos á fantasia. Tê-la nos dá o escape necessário à sobrevivência. Assim, nada mais fantasioso que imaginar os personagens  como atemporais. Os heróis e anti-heróis não sofrem a ação do tempo. Quem, em sã consciência, imagina Macunaíma ou Capitão Gancho ou mesmo o Príncipe Hamlet adaptados à nossa atualidade? Imaginem, Macunaíma no melhor estilo Funk, com os cabelo louros, cheio de pinces e amante de tudo que lhe possa abrir a mente. Capitão Gancho com uma prótese de titânio podendo, inclusive, pegar, delicadamente uma flor no estilo bem me quer...mal me quer...  E o Príncipe Hamlet, formado em Filosofia, Teologia, Física  e Medicina não mais nutrindo qualquer curiosidade sobre a existência, vagando pela cidade no mais profundo ócio.



Os meus heróis não morreram de overdose. A bem da verdade faz parte do mito que o herói nunca morra. Não importa se de quadrinhos, produto de computadores, da criatividade de gênios das letras, do cinema, da televisão... pouco importa a origem, são imortais e, no máximo, abrem a cortina e pedem passagem para um outro plano. Sua obra fica entre nós.





Hoje o amanhecer trouxe  um tom cinzento. Nuvens de chuva sobre o litoral emprestando à paisagem um tom melancólico. Não sabíamos, mas a natureza chorava para nos revelar que JOSÉ WILKER, alguém cujo arco de vida se estendera nos palcos desse imenso Brasil, partira de uma vez por todas para a fama, levando consigo algo que homem nenhum poderá roubar: uma imagem construída ao longo de sua vida artística e que se caracterizava  por sua capacidade intelectual, seu talento, sua presença marcante em cena.



Um Artista fantástico. Ator, Diretor, Narrador, Apresentar, Critico de Cinema. levava o público ao deleite nos palcos do Teatro, no dia a dia da Televisão, nas telas do Cinema. Cearense, 66 anos, deu vida a inúmeros personagens em 36 Telenovelas, 4 Seriados, 3 Minisséries. Dirigiu 2 telenovelas, 1 seriado e 1 filme. Atuou em mais de 40 filmes. Seu último trabalho na televisão brasileira deu vida ao médico Dr. Herbet em AMOR A VIDA.  



Foi casado  com as atrizes Renée de Vielmond com quem teve uma filha de nome Mariana;  Guilhermina Guinle;  Mônica Torres mãe de sua segunda filha chamada  Isabel e, por último a Jornalista Cláudia Montenegro,  que é mãe de sua filha Madá.  Uma existência impactante. Um homem que embora se dissesse agnóstico, colocava amor em tudo o que fazia.
   

Falo, já com saudade, de seu rosto expressivo sempre com um quê de "você que sabe". Um artista completo. Brilhante em tudo o que fez. Detalhista, foi um intérprete como poucos, capaz de levar o público ao riso ao choro; do endeusamento à raiva, em questão de segundos. Zé, como gostava de ser chamado, com seu riso enigmático e sua voz potente, sensual, dispensava a barriga tanquinho, as pernas poderosas ou outras tolices que escravizam os pseudos galãs de hoje.



Nele, tudo era muito, muito visceral.  O olhar parecia penetrar as pessoas. Sua estatura crescia a medida que falava. Sua personalidade envolvia a todos. Parecia estar, constantemente, sob luzes. Acredito que refletia dons, qualidades inatas e que não o deixavam ser apenas mais um ZÉ.



Entre os personagens que mais fizeram sucesso visualizo: MUNDINHO FALCÃO, na primeira versão da novela Gabriela. Um jovem, inteligente, determinado e apaixonante exportador Baiano que derruba o Cel. Ramiro Bastos, casa-se com sua neta Gerusa, tornando-se o novo Intendente da progressista cidade de Ilhéus. VADINHO, o marido falecido na obra de Jorge Amado, "Dona Flor  e seus dois maridos" . Um vulcão em erupção, aparecia nu nas horas mais inconvenientes e deixava em fogo a ex-viúva. LORDE CIGANO, de By by Brasil, um dos sucesso do ator no cinema, sob a direção de Cacá Diegues; no filme, rodava o País numa trupe mambembe vendendo ilusões, inclusive,  prometendo neve para o Brasil. ROQUE SANTEIRO, seu personagem de maior sucesso. Emblemático, o que era sem nunca ter sido, Santo Fujão, que está sempre associado a figura do ator. GIOVANNI IMPROTTA, bicheiro exagerado,  misto de manda chuva e capacho de uma paixão, mostrava sua satisfação exclamando: Felomenal. Encarnou a figura do Presidente JUSCELINO KUBITSCHEK, na Minissérie JK, na segunda fase, tornando-se  o político, cujo riso em nada devia ao original.  Uma interpretação a altura de seu talento. 


Soube ser mau. Mostrou-se antiético, violento, agressivo. Foi convincente ao extremo, vivendo o Deputado pistoleiro TENÓRIO CAVALCANTI no filme O HOMEM DA CAPA PRETA que protagonizou o famoso Caso Imparato e a tentativa de assassinato a Antônio Carlos Magalhães. Wilker convenceu a todos do quanto podia tornar-se asqueroso, com o Coronel JESUÍNO LACERDA e seu temido bordão: "deite que eu vou lhe usar", no remake de Gabriela. Moldou um ZECA DIABO feio, de cara fechada e livre de censuras para a versão cinematográfica do BEM AMADO em 2011. O seu canto do cisne na televisão foi na novela Amor à Vida onde viveu o melancólico Dr. Herbet, um homem dividido entre o passado e o presente.



Pensar José Wilker é como abrir uma obra de arte que você leu, releu, retorna  a leitura  e sempre encontra coisas novas e que você e eu, nós havíamos deixado escapar. Sua vocação para camaleão nos deu a oportunidade de vermos os tipos mais controversos possíveis. Interpretar  para ele era transformar-se e adotar expressão tão diferentes que sugeria a presença de outra pessoa. Um homem bonito, charmoso e sugestivo de uma boa pegada. Uma bela voz, um timbre cheio, sensual. Um Homem, um Artista, um fazedor de ilusões. Deixa saudades e na orfandade pessoas que riram, choraram, amaram, sofreram, sonharam, odiaram, aplaudiram e esperaram o dia seguinte para, mais uma vez, beber da fonte mágica de seu talento.


Acho que no céu estão ensaiando um grande espetáculo. Nesse ano foram chamados para cantar lá em cima: Nelson Ned, Milky Mota, Márcio Vip, Dino Franco; para animar a festa Marly Marley, Virgínia Lane, Paulo Schroeber, Nonato Buzar, Canarinho e, para atuar, Nico Nicolairewsky, Arduíno Colassanti, Paulo Goulart e nosso amado José Wilker, todos sob a câmera humanista e documental do inesquecível Eduardo Coutinho. Que cada um deles tenha encontrado a sua morada na casa do Pai. 

Aplausos para a cortina que se fecha!





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