CASTRO ALVES E
CARTOLA
Por vezes,
mergulhamos tão fortemente em nosso mundo particular que deixamos passar
excelentes oportunidades para nos expressarmos sobre coisas que tornam a vida
mais bonita, mais colorida e de certa forma, mais amena.
Pois é, nessa
loucura do dia a dia cometemos uma falha imperdoável. Esquecemos, sem o
merecido registro, o dia 14 de Março em que se celebra o DIA NACIONAL DA
POESIA. Ato falho, apenas escusável na avalanche de atividades que roubam, até
mesmo, a nossa sensibilidade e nossa memória afetiva.
A poesia que já
foi amplamente conceituada e definida pelos mais diferentes indivíduos como
literatos, pessoas do povo sem maiores qualificações intelectuais, apaixonados,
loquazes usuários da língua portuguesa e de tantas outras, merece, de nossa
parte, um tributo à genialidade dos que através dela externam seus amores, suas dores, seus sonhos
e decepções.
Essa linguagem
fantástica em que vibram as mais profundas emoções dos seres humanos, transmite
sentimentos e pensamentos que comandam conexões, amorosas ou não; traduz paixão
– pathos – até mesmo em seu sentido patológico e, arrebata de dentro das
pessoas as mais íntimas centelhas de seu pensar.
É óbvio que
algo significativo determinou a data eleita para a homenagem. Nada mais justo
que a escolha tenha recaído sobre o dia do nascimento de legítimo e
festejado brasileiro, representante desse dom criativo. Assim, 14 de Março, dia
do nascimento de Antônio Frederico de Castro Alves, o grande Poeta, Humanista,
Literato, que fez da poesia um grito de dor, de alerta e de amor em pró de
homens e mulheres nascidos livres, príncipes e princesas das savanas e
planícies, aprisionados, escravizados, humilhados, cujo sangue corre em nossas veias,
e, constitui-se dívida para a Nação Brasileira.
Castro Alves
foi a voz, a pena, a rima em forma de protesto. Chorou pelos náufragos dos
tristes “Navios Negreiros”; sofreu com o torpor da melancolia que matava os
cativos e a que chamavam de “Banzo”; desesperou-se com a mãe negra a quem os
filhos eram arrancados do peito e definhavam enquanto ela, a mãe, alimentava os
filhos brancos dos pais que torturavam, mutilavam, estupravam,
milhares de criaturas subjugadas.
Precursor da
abolição é, sem sombra de dúvidas, o maior entre os nossos Poetas. Em sua luta
anti-escravagista produziu a belíssima “Vozes d’a África”, “A mãe do Cativo”,
“Navio Negreiro”... . Uma vida curta,
intensa e fecunda que durou apenas 24 anos. Com a sensualidade a flor da pele, apaixonou-se
por Idalina, para quem criou “Bárbara” do poema “Os Anjos da Meia Noite”. Amou
profundamente Eugênia Câmara – experiente atriz dez anos mais velha que ele, - e cantou seu sentimento
nos versos da Poesia “Meu Segredo”. Enamorou-se de Lídia Fraga e, por último,
caiu de amores – não correspondido – por Agnese Trinci Murri, soprano italiana
que jamais se rendeu aos desejos do poeta.
Sua obra muito
bela e rica acompanhava os seus sentimentos. Sua morte pelo acometimento da
Tuberculose era considerada como típica dos que amavam a noite. A Poesia não se
foi com o Poeta dos Escravos ou Poeta da Liberdade como também foi chamado. Muitos outros vieram depois dele, amaram,
sofreram, vibraram, esboçaram sorrisos e deixando lágrimas escorrerem por suas
faces.
Nomes como Cláudio
Manoel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga, Olavo Bilac, Cecília Meirelles,
Gonçalves Dias, Manoel Bandeira, Augusto dos Anjos, Mário de Andrade, Dolores Duran, Mário
Quintana, Carlos Drumond de Andrade, Vinicius de Morais, Cora Coralina, Elisa Lucinda, Patativa do Assaré, Jessier Quirino, e tantos
outros que se expressaram ou se expressam com liberdade, livres do jugo e das amarras da
crítica, colocando em suas criações as mais diferentes leituras de seus
sentimentos, certamente sugerem uma amostra do quanto, nós brasileiros, fomos e
somos influenciados por essa arte lírica.
Mas, a poesia não
é algo que se encastele nesse ou naquele segmento de nossas vidas. Está
presente no nosso dia a dia; em momentos simples, em atitudes mágicas, músicas
belíssimas que falam de amor, nas manifestações artísticas como o teatro, a
pintura, a escultura e a dança.
Como deixar de
ver poesia no beija flor que de galho em galho executa um bailado sobre si,
beija as flores sorvendo o néctar de cada uma? Impossível ignorar a sequência poética
nos gestos de uma criança que ergue as mãos abre um sorriso e atira-se nos
braços de quem ama? Irreal deixar de sentir
a poesia nas palavras de Cartola: “Queixo-me às rosas, mas que bobagem... As
rosas não falam...Simplesmente as rosas exalam...O perfume que roubam de ti,
ai...
Qual a alma
empedernida que não se comovia com a poesia, a paixão de Paulo Autran em cena?
E a poesia pura de Michelangelo, traduzidas em corpos belos, madonas perfeitas, peças inimitáveis cheias de
angústia visceral? Será força de expressão falar da poesia arrebatadora de
corpos vibrando nos brilhantes movimentos do “Lago dos Cisnes” ou mesmo na
paixão dos corpos entrelaçados na volúpia do Tango?
Não há dúvidas
a poesia acompanha a vida. Irrompe com a presença da musa inspiradora na mente
do poeta. Existe em seu estado latente independente de porquês. Surge na rima
culta dos intelectuais e, igualmente, povoa os sentimentos contidos nos poemas
de cordel, na viola matuta dos “cantadores”, “repentistas” e de tantos quantos
sintam pulsar em seu peito um entusiasmo criador que os transformem.
POESIA É
ISSO:
“A vida bate e estraçalha a alma
e a arte nos
lembra que você tem uma.”
Estella Adler
As Duas Flores
Castro Alves
São duas flores
unidas,
São duas rosas
nascidas
Talvez do mesmo
arrebol.
Vivendo do
mesmo galho,
Da mesma gota
de orvalho,
Do mesmo raio
de sol.
Unidas, bem
como as penas
Das duas asas
pequenas
De um
passarinho do céu...
Como um casal
de rolinhas,
Como a tribo de
andorinhas
Da tarde no
frouxo véu.
Unidas, bom
como os prantos,
Que em parelha
descem tantos
Das profundezas
do olhar...
Como o suspiro
e o desgosto,
Como as
covinhas do rosto,
Como as
estrelas do mar.
Unidas...Ai
quem pudera
Numa eterna
primavera
Viver, qual
vive esta flor
Juntar as rodas
da vida,
Na rama verde e
florida,
Na verde rama
do amor!
As Rosas Não
Falam
Cartola
Bate outra vez
Com esperanças
em meu coração
Pois já vai
terminando o verão
Enfim
Volto ao jardim
Com a certeza
que devo chorar
Pois bem sei
que não queres voltar
Para mim
Queixo-me às
rosas
Mas que bobagem
As rosas não
falam
Simplesmente as
rosas exalam
O perfume que
roubam de ti,ai
Devias vir
Para ver os
meus olhos tristonhos
E, quem sabe,
sonhavas meus sonhos
Por fim
TUDO ISSO ME
FASCINA!
Um comentário:
Boa noite,
Passando para te agradecer a gentil visita e deixar-te um cordial abraço, claro sem esquecer de dizer-lhe qua adoro este belo blog...
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