Quem sou eu? O que faço

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João Pessoa, Paraíba, Brazil
Quem sou? O que faço. Sou Maria de Lourdes, tenho, agora, 62 anos, esposa, mãe e avó, formação jurídica, com pós graduação em Direitos Humanos e Direito Processual Civil, além de um curso não concluído de Filosofia. Conheci os clássicos muito cedo, pois não tinha permissão para brincar na rua. Nosso universo – meu e de meus irmãos – era invadido, diariamente, por mestres da literatura universal, por nossos grandes autores, por contistas da literatura infanto-juvenil, revistas de informação como Seleções e/ou os populares gibis. Todos válidos para alimentar nossa sede de conhecimento. Gosto de conversar, ler, trabalhar, ouvir música, dançar. Adoro rir, ter amigos e amar. No trabalho me realizo à medida que consigo estabelecer a verdade, desconstruir a mentira, fazer valer direitos quando a injustiça parece ser a regra. Tenho a pretensão de informar, conversar, brincar com as palavras e os fatos que possam ser descritos ou comentados sob uma visão diferente. Venham comigo, embarquem nessa viagem que promete ser, a um só tempo, séria e divertida; suave e densa; clássica e atual. Somente me acompanhando você poderá exercer seu direito à críticas. Conto com sua atenção.

segunda-feira, 3 de março de 2014

COMO DIRIA PEDRO BLOCH


 CRIANÇA DIZ (FAZ) CADA COISA!
 


Fevereiro foi um mês muito difícil. Convivemos com notícias ruins na Economia, na Política, na Saúde, na Segurança e, tristemente, na Justiça. Muito embora tenhamos vivido um período em lua-de-mel com o STF, aplaudido e elogiado aqui e fora de nossas fronteiras - ante a comunidade internacional livre e ética - não conseguimos manter essa luminosidade. Os mensaleiros continuarão mamando, conectados.  O MÊS TRADICIONAL DO CARNAVAL NOS DEIXA, MAIS UMA VEZ, COM CARA DE PALHAÇOS, COM UMA PERFORMANCE PÍFIA E A CERTEZA DE TERMOS OBTIDO A TÃO DESCONCERTANTE VITÓRIA DE PIRRO”.



Não quero começar Março  com coisas tão escabrosas. Os leitores merecem uma pausa e assuntos que revigorem as esperanças, que demonstrem a existência de vida  saudável e condutas humanas qualificadas longe do corporativismo, da doença moral instalada em nosso País.


Fazendo memória, como num flash de minhas lembranças, surge uma luz, de beleza, brilho e inocência a toda prova. Falo, especificamente, de uma seção da Revista Manchete, da Bloch Editores, intitulada “Criança diz Cada Uma”, onde o Pediatra, escritor  e dramaturgo,  Pedro Bloch, semanalmente, nos trazia pérolas do seu convívio com crianças de 3 a 11 anos.  Seus pacientes e alimentadores de sua vocação para letras  que lhes revelavam um universo mágico. Essa coluna fantástica também foi reproduzida pelo seu autor na Revista Pais e Filhos.


O que pode ser mais renovador do que o mundo infantil? Como competir com criaturas fantásticas que criam, a cada segundo, situações inimagináveis aos adultos? Como não se deixar seduzir, encantar e,  ranzinza criar obstáculos a observações, histórias e perguntas inocentes feitas nos momentos mais incríveis? Pois é, vamos passear um pouco nesse maravilhoso universo e sentir a doçura, a inocência devolvendo o riso ao nosso rosto. Algumas histórias narradas por quem viveu o momento nos mostram a diversidade e criatividade das reações infantis. Trago histórias que não foram contadas pelo grande Pedro Bloch, mas que com toda certeza caíria muito bem em suas  colocações e como ele, reservo-me o direito de omitir suas identificações.


Corria o ano de 1963, após 08 anos como caçula a criança viu-se destronada pelo nascimento de um bebê. No princípio, olhou desconfiada, mas a ternura foi maior que o sentimento negativo. Entretanto, ao perceber que a atenção de todos voltara-se para o recém-chegado, teve uma ideia: foi ao jardim pegar formigas para colocar no berço e assim esperar que elas levassem o novo rei da casa ou que o devorassem. Mas as formigas preferiram a segunda hipótese, a pele rosado do neném e assim, uma picada resolveu tudo. O bebê gritou a plenos pulmões e a pretensa destronada foi a primeira a correr retirando-o para livrá-lo dos insetos. Maldade, não: defesa inocente de sua condição.


Numa outra residência, uma criança de dois anos, caçula, caçulinha, viu sua mãe voltar para casa com uma menininha. Enciumada, ficou sempre por perto da mãe e da irmã. Um descuido e a ex-caçula entrou no berço, sentou na barriga da irmãzinha, pegou o talco e derramou com toda sua força sobre o bebezinho. Graças à chegada de sua mãe tudo foi contornado, apesar de existir um mito de que a sinusite que hoje a Advogada de sucesso tem é fruto do banho de talco que recebeu. Insisto: cada criança defende seu território como pode. 



O ciúme é um sentimento independente, não respeita nada ou ninguém. Um menininho que não aguentava mais ser deixado de lado na hora do futebol, pelo irmão  e os amigos daquele que o chamavam de fracote, pirralho, perna de pau e dengoso, num certo dia correu para o meio da pelada, pegou a bola e ao invés de sair correndo como era previsível, sentou na gorduchinha e, pasmem, FEZ XIXI, COM A MAIOR TRANQUILIDADE E CARA DE PAU. Os outros, com nojo e com ódio não o pegaram porque os gritos trouxeram a "cavalaria" para fazer a defesa da criança: a mãe e as irmãs, que correram assustadas e frustraram a ira dos jogadores com a justificativa de que ele era criança e não sabia o que estava fazendo.


Estranho mesmo é o que fez uma criança pequena. Também um menino a quem toda a família já explicara o perigo que representava as tomadas. Muito embora todos tivessem insistido no risco de choques e até a possibilidade de morte, esqueceram de dizer que líquidos costumavam ser excelentes condutores de eletricidade. Um belo dia o menino, inquieto como ele só, resolveu tirar a limpo uma interrogação, ato contínuo abriu as calças e urinou na tomada. O choque foi tamanho que o desobediente foi jogado para trás. O que se sabe até hoje é que ficou elétrico: cem por cento agitado.


As meninas muito cedo começavam a imitar as adultas. Adoravam vestir roupas, usar maquiagem, bijuterias e sapatos de suas mães e tias. Normalmente resultava em prejuízos e muitas vezes castigos. Em 1977, com um caprichado figurino a tia brilhara em sua festa de formatura no Curso de Direito da UFPB, no então maravilhoso Clube Cabo Branco. Pois é, a sandália preta com salto dourado e tiras recobertas por strass fixado sobre uma base também dourada era linda, cara e estava no auge. A sobrinha tinha aproximadamente uns três anos, falava pelos cotovelos, ao ser surpreendida pela mãe, usando maquiagem e sapato alto, de festa, foi ameaçada com castigo se houvesse repetição. Não se fez de rogada e disse: “ você é muito chata, minha tia deixa eu usar o batom dela e a sandália de ouro e brilhante e não reclama nada...".  Virou folclore familiar.

E as rapidinhas:



E o menino que puxou a cadeira para ver se o pai era rápido mesmo? Que injustiça o castigo que recebeu!

E a menina que jogava as taças de cristal da varanda no primeiro andar só para ouvir o barulho na calçada? Susto e prejuízo para os adultos, muita diversão para  a pequena.

E aquela que observando o tio consertando a moto pegou a "chave de fenda" e mandou na testa? Nunca explicou o motivo. 

E as meninas que fizeram um contrato de escravidão com o irmão - para lavar os pratos da casa - em troca de um segredo? O coitado saíra para jogar futebol e foi flagrado pelas espertinhas. Ainda bem que a avó descobriu tudo.

E as crianças mudas diante da vizinha toda pronta de longo e maquiada. Animadíssima perguntou? Estou bonita? Em coro: não tia, muito feia. Detalhe, aproximadamente cinco e sete anos.

E outra que olhou a amiga da tia e perguntou . "Tu é homem ou mulher? Detalhe, os seios salvaram a dita cuja.

E os irmão que brincando de índio e brancos amarraram a vizinha no fundo do quintal e esqueceram? Na hora do jantar a busca aflita dos vizinhos pela filha lembrou a todos. Saíram correndo e encontraram a pobre cara pálida dormindo amarrada.

E a porta alianças que recusou-se, terminantemente, a entregar a almofadinha aos noivos?

E as frases?


“Mãe tô com fome de gagau faz meu leitinho rápido!”

“Mãe por que menino tem torneirinha?”

“Mãe não quero usar o shampoo de tia, senão meu cabelo fica branco como o dela!”

“Mãe compre um marido pra mim, eu quero...”

“Mãe por que você bate nas costas do neném pra ele arrotar e briga comigo quando arroto?”

“ Mãe quem cuida das pessoas quando Papai do Céu dorme?”

“Mãe por que Papai Noel é tão velhinho e tem tantos filhos?”

“Mãe você segura com força na minha mão enquanto eu durmo? Assim sei que você não saiu de casa enquanto eu dormia.”

“Papai por que mamãe usa aliança e você não?”

“Mãe dente de leite desmancha no liquidificador?”

“Moço você também ta grávido como minha mãe?”

Uma amostra ínfima do que as crianças podem fazer e dizer no seu dia a dia, num oasis de graça, beleza e imaginação.


Um comentário:

Anônimo disse...

Vixi QUE ISSO AQUI TÁ MUITO BOM, VIXI QUE ISSO AQUI TÁ BOM DEMAIS. Como deixar de lembrar acontecimentos tão importantes? A criançada sempre soube o que queria e o que dava prazer. Texto suave e fácil de ler. Ótimo.
Valdemiro.