CRIANÇA
DIZ (FAZ) CADA COISA!
Fevereiro foi um mês muito difícil. Convivemos com notícias
ruins na Economia, na Política, na Saúde, na Segurança e, tristemente, na
Justiça. Muito embora tenhamos vivido um período em lua-de-mel com o STF, aplaudido
e elogiado aqui e fora de nossas fronteiras - ante a comunidade internacional
livre e ética - não conseguimos manter essa luminosidade. Os mensaleiros continuarão mamando, conectados. O MÊS TRADICIONAL DO
CARNAVAL NOS DEIXA, MAIS UMA VEZ, COM CARA DE PALHAÇOS, COM UMA PERFORMANCE PÍFIA E A
CERTEZA DE TERMOS OBTIDO A TÃO DESCONCERTANTE VITÓRIA DE PIRRO”.
Não quero começar Março com coisas tão escabrosas. Os leitores merecem
uma pausa e assuntos que revigorem as esperanças, que demonstrem a existência
de vida saudável e condutas humanas qualificadas longe do corporativismo, da doença moral instalada
em nosso País.
Fazendo memória, como num flash de
minhas lembranças, surge uma luz, de beleza, brilho e inocência a toda prova. Falo, especificamente, de uma seção da Revista Manchete, da Bloch
Editores, intitulada “Criança diz Cada Uma”, onde o Pediatra, escritor e dramaturgo, Pedro Bloch, semanalmente, nos trazia pérolas
do seu convívio com crianças de 3 a 11 anos. Seus pacientes e alimentadores de sua vocação para letras que lhes revelavam
um universo mágico. Essa coluna fantástica também foi reproduzida pelo seu
autor na Revista Pais e Filhos.
O que pode ser mais renovador do que o mundo infantil? Como
competir com criaturas fantásticas que criam, a cada segundo, situações
inimagináveis aos adultos? Como não se deixar seduzir, encantar e, ranzinza criar obstáculos a observações, histórias e perguntas inocentes feitas nos momentos mais incríveis? Pois é, vamos passear
um pouco nesse maravilhoso universo e sentir a doçura, a inocência devolvendo o
riso ao nosso rosto. Algumas histórias narradas por quem viveu o momento nos
mostram a diversidade e criatividade das reações infantis. Trago histórias que não foram contadas pelo grande Pedro Bloch, mas que com toda certeza caíria muito bem em suas colocações e como ele, reservo-me o direito de omitir suas identificações.
Corria o ano de 1963, após 08 anos como caçula a criança
viu-se destronada pelo nascimento de um bebê. No princípio, olhou desconfiada,
mas a ternura foi maior que o sentimento negativo. Entretanto, ao perceber que
a atenção de todos voltara-se para o recém-chegado, teve uma ideia: foi ao
jardim pegar formigas para colocar no berço e assim esperar que elas levassem o
novo rei da casa ou que o devorassem. Mas as formigas preferiram a segunda hipótese,
a pele rosado do neném e assim, uma picada resolveu tudo. O bebê gritou a plenos
pulmões e a pretensa destronada foi a primeira a correr retirando-o para livrá-lo
dos insetos. Maldade, não: defesa inocente de sua condição.
Numa outra residência, uma criança de dois anos, caçula,
caçulinha, viu sua mãe voltar para casa com uma menininha. Enciumada, ficou
sempre por perto da mãe e da irmã. Um descuido e a ex-caçula entrou no berço,
sentou na barriga da irmãzinha, pegou o talco e derramou com toda sua força
sobre o bebezinho. Graças à chegada de sua mãe tudo foi contornado, apesar de
existir um mito de que a sinusite que hoje a Advogada de sucesso tem é fruto do
banho de talco que recebeu. Insisto: cada criança defende seu território como pode.
O ciúme é um sentimento independente, não respeita nada ou ninguém.
Um menininho que não aguentava mais ser deixado de lado na hora do futebol, pelo
irmão e os amigos daquele que o chamavam
de fracote, pirralho, perna de pau e dengoso, num certo dia correu para o meio
da pelada, pegou a bola e ao invés de sair correndo como era previsível, sentou
na gorduchinha e, pasmem, FEZ XIXI, COM A MAIOR TRANQUILIDADE E CARA DE PAU. Os
outros, com nojo e com ódio não o pegaram porque os gritos trouxeram a "cavalaria"
para fazer a defesa da criança: a mãe e as irmãs, que correram assustadas e
frustraram a ira dos jogadores com a justificativa de que ele era criança e não
sabia o que estava fazendo.
Estranho mesmo é o que fez uma criança pequena. Também um
menino a quem toda a família já explicara o perigo que representava as tomadas.
Muito embora todos tivessem insistido no risco de choques e até a possibilidade
de morte, esqueceram de dizer que líquidos costumavam ser excelentes condutores
de eletricidade. Um belo dia o menino, inquieto como ele só, resolveu tirar a
limpo uma interrogação, ato contínuo abriu as calças e urinou na tomada. O
choque foi tamanho que o desobediente foi jogado para trás. O que se sabe até
hoje é que ficou elétrico: cem por cento agitado.
As
meninas muito cedo começavam a imitar as adultas. Adoravam vestir roupas, usar
maquiagem, bijuterias e sapatos de suas mães e tias. Normalmente resultava em
prejuízos e muitas vezes castigos. Em 1977, com um caprichado figurino a tia
brilhara em sua festa de formatura no Curso de Direito da UFPB, no então maravilhoso
Clube Cabo Branco. Pois é, a sandália preta com salto dourado e tiras recobertas
por strass fixado sobre uma base também dourada era linda, cara e estava no
auge. A sobrinha tinha aproximadamente uns três anos, falava pelos cotovelos,
ao ser surpreendida pela mãe, usando maquiagem e sapato alto, de festa, foi
ameaçada com castigo se houvesse repetição. Não se fez de rogada e disse: “
você é muito chata, minha tia deixa eu usar o batom dela e a sandália de ouro e
brilhante e não reclama nada...". Virou folclore familiar.
E as rapidinhas:
E o menino que puxou a cadeira para ver se o pai era rápido mesmo? Que injustiça o castigo que recebeu!
E a menina que jogava as taças de cristal da varanda no primeiro andar só para ouvir o barulho na calçada? Susto e prejuízo para os adultos, muita diversão para a pequena.
E aquela que observando o tio consertando a moto pegou a "chave de fenda" e mandou na testa? Nunca explicou o motivo.
E as meninas que fizeram um contrato de escravidão com o irmão - para lavar os pratos da casa - em troca de um segredo? O coitado saíra para jogar futebol e foi flagrado pelas espertinhas. Ainda bem que a avó descobriu tudo.
E as crianças mudas diante da vizinha toda pronta de longo e maquiada. Animadíssima perguntou? Estou bonita? Em coro: não tia, muito feia. Detalhe, aproximadamente cinco e sete anos.
E outra que olhou a amiga da tia e perguntou . "Tu é homem ou mulher? Detalhe, os seios salvaram a dita cuja.
E os irmão que brincando de índio e brancos amarraram a vizinha no fundo do quintal e esqueceram? Na hora do jantar a busca aflita dos vizinhos pela filha lembrou a todos. Saíram correndo e encontraram a pobre cara pálida dormindo amarrada.
E a porta alianças que recusou-se, terminantemente, a entregar a almofadinha aos noivos?
E as rapidinhas:
E o menino que puxou a cadeira para ver se o pai era rápido mesmo? Que injustiça o castigo que recebeu!
E a menina que jogava as taças de cristal da varanda no primeiro andar só para ouvir o barulho na calçada? Susto e prejuízo para os adultos, muita diversão para a pequena.
E aquela que observando o tio consertando a moto pegou a "chave de fenda" e mandou na testa? Nunca explicou o motivo.
E as meninas que fizeram um contrato de escravidão com o irmão - para lavar os pratos da casa - em troca de um segredo? O coitado saíra para jogar futebol e foi flagrado pelas espertinhas. Ainda bem que a avó descobriu tudo.
E as crianças mudas diante da vizinha toda pronta de longo e maquiada. Animadíssima perguntou? Estou bonita? Em coro: não tia, muito feia. Detalhe, aproximadamente cinco e sete anos.
E outra que olhou a amiga da tia e perguntou . "Tu é homem ou mulher? Detalhe, os seios salvaram a dita cuja.
E os irmão que brincando de índio e brancos amarraram a vizinha no fundo do quintal e esqueceram? Na hora do jantar a busca aflita dos vizinhos pela filha lembrou a todos. Saíram correndo e encontraram a pobre cara pálida dormindo amarrada.
E a porta alianças que recusou-se, terminantemente, a entregar a almofadinha aos noivos?
“Mãe
tô com fome de gagau faz meu leitinho rápido!”
“Mãe
por que menino tem torneirinha?”
“Mãe
não quero usar o shampoo de tia, senão meu cabelo fica branco como o dela!”
“Mãe
compre um marido pra mim, eu quero...”
“Mãe
por que você bate nas costas do neném pra ele arrotar e briga comigo quando
arroto?”
“
Mãe quem cuida das pessoas quando Papai do Céu dorme?”
“Mãe
por que Papai Noel é tão velhinho e tem tantos filhos?”
“Mãe
você segura com força na minha mão enquanto eu durmo? Assim sei que você não
saiu de casa enquanto eu dormia.”
“Papai
por que mamãe usa aliança e você não?”
“Mãe
dente de leite desmancha no liquidificador?”
“Moço
você também ta grávido como minha mãe?”
Uma amostra ínfima do que as crianças podem fazer e dizer no seu dia a dia, num oasis de graça, beleza e imaginação.
Uma amostra ínfima do que as crianças podem fazer e dizer no seu dia a dia, num oasis de graça, beleza e imaginação.
Um comentário:
Vixi QUE ISSO AQUI TÁ MUITO BOM, VIXI QUE ISSO AQUI TÁ BOM DEMAIS. Como deixar de lembrar acontecimentos tão importantes? A criançada sempre soube o que queria e o que dava prazer. Texto suave e fácil de ler. Ótimo.
Valdemiro.
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