Dormia a nossa pátria mãe tão distraída
Difícil abordar esse assunto. A Copa ficou para trás. Nossos sonhos também. Pois é, não há como ignorar. Perdemos. Não, não perdemos um jogo, a Copa
ou uma competição esportiva, perdemos um padrão comportamental. Ficamos órfãos
de uma certeza que habitava o coração de cada brasileiro, por mais cético que
fosse. Tornamo-nos apenas mais um entre os países arrasados, humilhados,
enxovalhados naquilo que é orgulho nacional.
O mais estranho nesse vexame é que “sabíamos”, há anos, que o nosso time
estava pronto. É. Pronto e acabado. Nada
mais havia para ser feito. O nosso comandante, com todo o rigor e vigor que
impunha aos seus comandados, jamais admitiu interferências de quem quer que
fosse. A ótica do técnico coincidia com a de milhões de inocentes: “a seleção
não necessitava reparos, adequação aos novos tempos”. O futebol, desde a Copa
das Confederações, aparentemente, teria parado no tempo e no espaço, para ver a
banda passar.
Pouco importa milhões de coração batendo a mil, o tum tum tum em
descompasso, as lágrimas das crianças, o choro solitário dos que se
envergonharam com a performance da seleção penta sem concorrentes no número de
vitórias, em ocasiões semelhantes. Restou-nos um gosto amargo de decepção. A
Pátria de chuteira caíra de quatro. Não que acreditássemos ter uma seleção
melhor que a de 1998 quando, o sorriso
amarelo de Ronaldo nos derrubou diante de uma arrasadora França com um fatídico
3 a 1.
Como imaginar tamanha tristeza? Como acreditar numa sucessão relâmpago
de gols surgidos não da competência do rival, mas da indolência de nossos
jogadores? Como explicar aos nossos netos que nossos heróis morreram todos e
não foi por overdose?
Ah! Se tudo fosse como dantes quando a canarinha impunha respeito e certo
temor; quando, por ser o Brasil o único País a participar de todas as Copas,
nos sentíamos os donos da bola; quando jogar futebol era arte e os passes
sucediam-se como mágica numa hipotética figura geométrica traçada pela
genialidade dos jogadores. Que saudade daquele frenético vai e vem, onde o
Brasil e os brasileiros pulsavam num só ritmo.
O passado não admite mudanças, nada nele pode ser removido. Graças a
Deus, senão, quem sabe, poderíamos dormir penta e acordar a ver navios,
indagando sob nossos títulos e recebendo silêncio por resposta. Não
pensem que sou fantasiosa, jamais, sequer em devaneios, vi a minha seleção
massacrada, apanhando de cabeça baixa como se estivesse diante de algo fatal
que não admitisse reações.
Como sempre, surgem as teorias destinadas a justificar, a informar e
descobrir ratos no porão. Malícia, insensibilidade, desejo de frustrar a
possibilidade de renascimento, não sei. Apenas percebo que é mais fácil
produzir mirabolantes versões, esperar suas consequências que aceitar falhas técnicas e
estruturais sinalizadas repetidas vezes.
Diante de sucessivas "Teorias da Conspiração" fazemos memória da
angustiante indagação de Hamlet: “Ser ou não ser eis a questão? Será mais nobre
suportar na mente as flechadas da trágica
fortuna, ou tomar armas contra um mar de obstáculos e, enfrentando-os,
vencer?” E para nós? Será mais fácil dar crédito a tantas histórias que inundam
o imaginário popular que aceitar a fragilidade da nossa seleção?
É evidente que não podemos ser ingênuos ao ponto de imaginar futebol
como um simples esporte. Não dá mais para acreditar em pessoas que gostam, tem
talento e jogam. Há muito que ser jogador, empresariar, dirigir e presidir times ou
instituições afins, transformou-se numa incrível fábrica de fazer dinheiro.
As
cifras astronômicas, os meninos
metamorfoseados em multimilionários, as transações que se superam a cada
dia, a sede de lucros, os empresários do meio, as potências em forma de
federações “mantenedoras” do esporte, tudo isso concorre para que haja margem,
possibilidades reais/concretas, para os
mais impressionantes esquemas cujo objetivo é $$$$$$$$$$$$$ faturar.
Não é tranquilizador afirmar que naqueles terríveis 90 minutos a seleção
foi de uma incompetência sem precedentes. Infelizmente os valores individuais
ali posicionados não conseguiram superar as individualidades. Cada um tornou-se
uma ilha, uma barreira intransponível, impossível de ser vencida pelo conjunto. Não há material de provas e sim evidências de que a fogueira das vaidades parece ter consumido a tudo e a todos, exceto, a FIFA.
A poderosa FIFA deixou claro não ter vindo ao Brasil para ver jogos. O
faturamento superou as expectativas e sugere ter sido mais que suficiente para
que, ao deixar o Brasil, Joseph Blatter declarasse ter "o País realizado a Copa
das Copas".
Infelizmente o futebol brasileiro não acompanhou “o sucesso”, o sol brilhou, verdadeiramente, para a
Alemanha. Restou-nos o cancioneiro, a música a nos consolar: " Se sofri ou se chorei, o importante é que emoções
eu vivi." É verdade, foram muitas. A emoção de ouvir milhares de vozes cantando
o Hino Nacional, a alegria de ver rostos cheios de paixão, esperança...
Nenhum comentário:
Postar um comentário