A ARTE DE VIVER DE ESPERANÇA
O ser humano necessita criar
nichos psicológicos nos quais possa entrincheirar-se em momentos de
desconforto. São inúmeras as denominações atribuídas às essas zonas inventadas
assim como, os usos e alcance dessas. As atribulações da vida atual, o
corre-corre, a perturbação decorrente das múltiplas escolhas que somos
obrigados a fazer nos leva a construir vias alternativas, comuns ou
individuais.
Observar o que se passa ao
nosso redor pode nos dar pistas dessa criatividade que alcança homens e
mulheres, independentemente de classe social, condição financeira, sexo e opção
sexual, cor, condição cultural, idade.
Acredito que cada um tenha uma
forma própria, para lidar com suas frustrações, desencantos,
ausências, decepções... Há muito ouço uma velha expressão: “ o ano passado foi
melhor”. Não sei até onde podemos crer na afirmativa, talvez funcione em
oposição aos amores. Sempre escuto dos que amam “ser aquele, o amor vivido
naquela ocasião”, o grande amor de sua vida, não obstante tenha vivenciado
outras histórias.
Nada mais desanimador que ouvir
um “não” quando se necessita desesperadamente ouvir “sim”. Difícil encarar
resultados que tira da gente a certeza que habitava em nosso íntimo. O que
dizer então das sucessivas privações dos desejos, da ausência repetida de
satisfação das necessidades?
O querer, o desejar, poderá ser
vivido, no âmago de cada pessoa sem que aconteça realmente, ou seja, sem
exteriorização dessa realização. A essa capacidade de auto enganar-se se dá o nome
de FANTASIA, um dos artifícios que a mente humana produz para atender a
necessidade de viver algo, ser parecido com alguém, ter alguém, enfim,
reinventar seu dia a dia, sua história.
Quem não fantasiou? Quem não se
imaginou naquele emprego tão maravilhoso que parece ter sido feito exatamente
para si? Quem não se imaginou dentro de uma roupa de grife ou pilotando um
carro de luxo? Quem não se viu nos
braços daquela criatura “dos deuses” que, em determinados momentos foi alvo dos
mais profundos desejos? Imaginação, é o
passaporte para essa terra de ninguém.
E como já dizia o meu Pai: “
Pensamento é terra que ninguém anda”. Cada um imagina o que quer e às vezes o
que não quer. A mente humana, pelo menos até agora permanece individualista.
Viajar nas asas da imaginação tem sido válvula de escape para muita gente.
Sonhar acordado é algo que mexe com o equilíbrio e conforme o sonhador ou a
sonhadora pode ter resultados benéficos ou não.
Existem muitas outras estratégias para tratar a
realidade, entre elas o ESQUECIMENTO. Algumas
pessoas esquecem, rapidamente, aquilo que lhes incomoda. Ou pelo menos
aparentam esquecer. A idéia é assemelhada a de tampar ou ouvidos. Se eu não
escuto o que me incomoda não irei me aborrecer. Esquecer aquilo que me é
desagradável vai devolver-me a serenidade daquilo que me é favorável, agradável
e concorde.
De bom grado deixaríamos de
lado tudo o que se opõe a nossos sentimentos, desejos, necessidades. “Esquecer”
funciona como um placebo, não cura, mas, oferece o bálsamo indispensável às
inquietações. O esquecimento proporciona o analgésico que tira a dor, mas não trata a doença.
Na diversificada criação da mente humana uma se
estendeu por toda a humanidade. É utilizada com ou sem justificativa.
Infelizmente muitos a usam compulsivamente. Falo da MENTIRA. Imaginem uma ocorrência que paira sobre
todos. Pode ser algo suave, repentino, sem maldade. Também acontece em
condições de extrema maldade, por pura diversão, por provocação e ou
simplesmente necessidade de controlar o ambiente, as pessoas, questão de poder.
A mentira pode servir para adiar uma resposta difícil, para afastar uma pretensão, para livrar-se de algo inoportuno ou até mesmo para brincar. Infelizmente, a busca pela tranquilidade, pelo conforto da pessoal (mental) poderá fazer com que surjam mentiras graves e que tragam consequências desagradáveis. Dizer que a mentira tem pernas curtas é dar-lhe uma fragilidade nem sempre confirmada. Afinal, mentirosos podem ser exímios naquilo que fazem, saírem-se muito bem e, ao ser descobertos de nada mais vale a verdade encontrada pois a mentira já surtiu o efeito desejado.
Felizmente, o ser humano, talvez até imersos em Livros Sagrados, cunhou a ESPERANÇA. Questiona-se o que vem a ser essa zona de conforto imaginária? Funciona mais ou menos como uma projeção para o futuro – não muito longe – daquilo que queríamos para o agora, o já.
A esperança é algo tão
confortável, tão fantástico, que é capaz de existir por anos a fio, sustentar
sonhos, ilusões e ainda proporcionar alegria pela simples lembrança de que o
desejo será um dia satisfeito.
Aguardar o que mais se deseja,
confiantemente, é algo que não tem preço. Nós, brasileiros, já fomos rotulados
com a seguinte frase: “Brasileiro Profissão Esperança”. A origem dessa expressão foi à peça escrita
em 1966 pelo grande Paulo Pontes. Produtor, Escritor e Dramaturgo Paraibano, nascido em Campina Grande. A obra em si fala sobre Antônio Maria e
Dolores Duran, de como suas vidas estiveram o tempo todo vinculadas.
Entretanto, a mensagem, o eco detectado no letreiro o fez repositório de uma
condição típica à brasilidade: a assunção da Esperança.
A peça foi escrita numa época de efervescências
sociais e políticas cujas mudanças, ocorridas
a partir de 1963, fomentavam sonhos e montavam ilusões. O título forte,
significativo, gerou na cabeça de muitos quase que um comando: saber esperar,
ter esperança. O sucesso da peça, levada aos palcos em sua primeira montagem no
ano de 1970, mais que uma expectativa, trouxe implícito o êxito capitaneado
pelas interpretações de Maria Bethânia e Ítalo Rossi, sob a direção de Bibi
Ferreira.
Em 1974, uma nova montagem de
“Brasileiro, Profissão Esperança” trouxe Paulo Gracindo e Clara Nunes, também
com a direção de Bibi Ferreira. Sucesso de palco, povo, crítica, já reconhecido
e aclamado, mexia com a imaginação de todos desde a mera menção de seu título. Apenas a sugestão já se fazia suficiente para atiçar o imaginário de todos, do intelectual ao iletrado.
A esperança é o último dos
nichos de conforto fabricados pela mente humana a deixar-nos. Esperamos dias
melhores, maiores realizações, o sucesso de nossos entes queridos, a saúde, a
paz o amor. Esperamos também ver, um dia, mais honestidade, ética, verdade,
compromisso, foco... . Enfim, temos ESPERANÇA em nos mesmos, em nossos jovens, em
nossas crianças, em nossos experientes idosos. Somos tão esperançosos que
insistimos na busca de bons representantes para o povo, de melhores
oportunidades, de uma divisão justa da riqueza e, também, de que venhamos um
dia alcançar consciência social, tão propalada quanto usurpada.
TER ESPERANÇA É ENXUGAR O PRANTO, CONTER O GRITO, SUFOCAR A DOR E ESBOÇAR UM SORRISO, NA CERTEZA DE QUE, UM DIA, NÃO IMPORTA QUANDO, ESTAREMOS, NOVAMENTE JUNTOS NA CASA DO PAI.
Ter ESPERANÇA é acreditar que
um dia combater-se-á, realmente, a corrupção; é ter fé nos bons propósitos
emanados de pessoas éticas, corretas; é crer em investimentos, em curto espaço
de tempo, nas áreas de educação, saúde, segurança e tecnologia, comparáveis ao que hoje se investe para o evento copa do mundo; é confiar na
adoção pelos governantes de políticas de geração de empregos e rendas, que
melhorem a qualidade de vida das populações.
TER ESPERANÇA É ENXUGAR O PRANTO, CONTER O GRITO, SUFOCAR A DOR E ESBOÇAR UM SORRISO, NA CERTEZA DE QUE, UM DIA, NÃO IMPORTA QUANDO, ESTAREMOS, NOVAMENTE JUNTOS NA CASA DO PAI.
LEMBREM-SE: A ESPERANÇA NÃO É SÓ
A ÚLTIMA QUE MORRE, É PRIMEIRA QUE NASCE QUANDO MORREM AS POSSIBILIDADES HUMANAS.
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