UMA
QUESTÃO MÚLTIPLA
O aumento de temperatura é algo
que tem trazido preocupações significativas quanto aos impactos na atividade
humana. O risco de perda de área das florestas; o aumento nas concentrações de emissões de carbono,
pela diminuição de sua absorção nos
ecossistemas; as secas que levam a diminuição da agricultura; o recrudescimento
na disponibilidade de água para milhões de pessoas; o aumento do nível do mar e
comprometimento de áreas costeiras e, naturalmente, o aumento da temperatura –
nível de calor no meio ambiente - resultando em queimadas, degelos, inundações e mortalidade, tudo isso se dá em razão do aumento de temperatura. Apesar da
importância do tema não é sob essa conotação que me debruço.
Por outro lado, houve no Brasil
um substancial aumento de temperatura em relação a criminalidade, a corrupção
e, também, ao gênero novelesco, assim entendido, como o entretenimento diário e
continuado em capítulos, que imobiliza milhões de pessoas prendendo-as à mídia
televisiva.
É claro que se torna impossível
deixar de registrar as “pegações” de casais forjados nas letras dos autores e
que se apalpam, se agarram, se relacionam em consultórios, provadores de
roupas, ambientes de trabalho e trocam de parceiros como se trocassem de
roupas, exibidos, quase sempre, em cenas que sugerem sexo explícito.
Traição levada ao extremo e nas próprias casas
dos traídos, nas piscinas, nos telhados, nas escadas, na cama do casal, muitas
vezes com os filhos dos traídos inocentemente dormindo no quarto ao lado. Libertinagem, desprezo pelo convencional,
excursão com idas e vindas às preferências sexuais dos personagens. Vilãs que
entregam as calcinhas para fisgar seus chefes; executivos que desrespeitam e destratam
funcionárias, como o caso do afetado Felix que
denominava sua secretaria de “cadela”.
Num universo – imaginário...?
No qual, empregados e empregadas circulam livremente, das camas dos patrões à
fofoca das cozinhas, não há espaço para a monotonia da normalidade. Matronas
acreditam e sustentam a idéia de “sexy appeal”, esse, desgastado, não pela idade, mas,
e sim pelas caricatas e indisfarçadas expressões obtidas à custa de inúmeras
cirurgias plásticas. Vaidades, vulgaridades, maldades, maldades, maldades, em
excesso. Escassez de boas informações, ausência de bom senso, preguiça de
raciocinar, eis o que nos oferta a grande maioria dos entretenimentos em
exibição.
Os novelistas se desafiam e desafiam
os que já apresentaram obras no mesmo gênero. A meta sistematicamente
perseguida: A PIOR PERSONAGEM QUE A IMAGINAÇÃO POSSA CONSTRUIR. QUANTO MAIS VIL,
MAIOR A CHANCE DE SUCESSO. Vale tudo. Pais que odeiam, renegam, desprezam,
boicotam e criam obstáculos à vida dos filhos desde a mais tenra idade. Maridos
que traem, ignoram, roubam, desqualificam e causam sofrimento atroz a aquelas
que utilizam, quando lhes convém, como adorno a ser exibido nas rodadas
sociais. Casais jovens que trocam de parceiros como se estivessem trocando de
roupas.
Indivíduos destituídos de um
átomo sequer de dignidade, vergonha, ética, moral ou qualquer coisa que o
valha. Pululam de um lado para outro, fazem tráfico de drogas, agridem e matam.
Usam as pessoas da forma mais sórdida possível; seduzem e induzem crianças a
mentir, enganam-nas, levam-nas a trilhar caminhos perigosos e descartam-nas
quando não mais lhes interessam.
Entretanto, são personagens interpretadas por
atores e atrizes bonitas, talentosas e que emprestam as vilãs e vilões uma
autenticidade a toda prova, a lista é grande. Os folhetins
não são mais aqueles. O amor, a inocência, a luta real pela sobrevivência –
decentemente - não gera espetáculo,
audiência. A virtude não faz seguidores, pelo menos nas mídias. O vício sempre
tem suas fileiras engrossadas, seja por fruto da criatividade dos autores, seja
pelo dia a dia de milhões de mortos vivos que se arrastam em busca do crack e/ou
da droga de sua preferência. Há até quem enxergue Glamour cercando aqueles que
engrossam suas contas bancárias ceifando vidas.
A temperatura aumenta a níveis
escandalosos. Os casos de corrupção, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha
parecem ter deixado, definitivamente, de serem crimes típicos praticados por
bandidos de “meia tigela”, vendedores de proteção, assassinos a soldo. Não se
originam em bolsões de pobreza, a sofisticação sugere a revelação de uma nova –
porém velhíssima – elite criminosa: a dos engravatados. Com ternos Ermenegildo
Zegna, Saville Row e ou Strong, da Stuart Hughes, adquiridos em euros, dólares. Tais criaturas, novelescas ou reais, ganham e perdem milhões como se fossem
bagatelas. Presos, condenados, mobilizam exércitos em suas defesas e, são
absorvidos pelo mercado de trabalho que põem “emprego” á disposição de
desnudado ex-dignatário. QUE DIFERENÇA DOS HUMILDES LADRÕES DE GALINHA!
A confusão impera. É tão ggrande que, no Brasil, não há como saber: a arte imita a vida? Ou é o contrário? Criar tipos insensíveis, desumanos, pervertidos e sonsos como o Dr. César na novela das 21:00 horas, da Globo, tem que ter uma referência – é muita depravação para surgir do nada. E Aline? Muito bem satirizada como Galine – que em nome da vingança trai, rouba, envenena, engravida e odeia o próprio filho? Figurinha execrável, que arma as mais intrincadas situações sempre explorando a fraqueza dos demais, seja a insegurança de Paloma, a curiosidade e a testosterona de Bruno, a sordidez de Ninho, a pobreza de intelecto de Edith, o desamor e a sofrida crueldade de Felix, a insistente frieza de Márcia em vender a “pirigueti” Valdirene, para um marido rico e corneado; a falta de ética profissional e pessoal de Michel, Patrícia, Sílvia, Tâmara, Gláucia, Amarylis, Eron, Pilar e outros.
Em alguns momentos não há como
distinguir quem é bom ou mau. Não falo apenas em referência a personagens, mas e
sim no dia a dia. Os noticiários trazem à baila crimes os mais terríveis e
inimagináveis. As televisões abertas ou fechadas, o cinema, não ficam para trás;
não são os monstros, gigantescos ou fisicamente deformados os que mais metem
medo. O verdadeiro terror é ditado pela inteligência do personagem que pode até
ser o “alter ego” de quem o criou. As conspirações, os atentados, os rachas, as
associações para o crime, fórmulas para ludibriar, roubar, defraudar
informações, são rotinas nos programas exibidos.
Mas, se você não tem interesse por ficção, a realidade é exatamente igual ao que nos oferta a imaginação dos autores. Os que sofrem seqüestros, não raro são gratos aos sequestradores por terem poupado suas vidas. Os agredidos, muitas vezes buscam justificar os agressores por não sentirem confiança na proteção que o sistema –as autoridades – deveria dar-lhes como cidadãos.
A temperatura continua a subir de forma impensada. Basta ver os canais que transmitem sessões dos Tribunais Superiores ao vivo. Advogados se digladiando. Pode, também, impressionar-se com a “leveza” de parlamentares defendendo o indefensável publicamente em entrevistas a jornais e televisões ou, em suas casas Legislativas, onde estiverem, o que importa é a defesa da inocência. A sugestão é a aquisição imediata de litros e mais litros de óleo de Peroba, antigo e eficaz para dar realce à madeira e, portanto, aos caras de pau.
Que maravilhosa licença poética
nós dá a televisão com a espetacular novela “O Cravo e a Rosa”. Baseada em clássicos como
a Megera Domada de William Shakespeare e Cyrano de Bergerac
de Edmund Rostand e, também, na Indomável de Ivani Ribeiro e o Machão de Sérgio Jockyman. Obras que fogem por completo do que se vê nos dias atuais.
A temperatura sobe, no delicioso romance, por
conta dos embates entre Julião Petruchio e Catarina Batista, o casal principal;
as implicâncias de Petruchio com seu auxiliar Calixto que sempre se refere às
caveiras dos pais do patrão; as tentativas de Calixto em beijar D. Mimosa; os
queixumes de Bianca; a honradez do professor Edmundo, a vilania de Marcela,
Heitor e Serafim; a cegueira de Cornélio, o adultério de Dinorá, a covardia do
banqueiro Batista. Enfim, os vilões também estão lá, mas merecem bem menos
destaque e são ingênuos adolescentes se comparados aos que já nominamos.
Nos céus a temperatura subiu. Não há aqui nenhum recurso linguístico. Realmente houve um acréscimo considerável de calor e de atenções motivados pelo cometa Ison. Esperado por astrônomos de todas as partes do mundo e que, segundo as previsões de especialistas se desintegraria com sua aproximação ao astro rei.
O Jornal “A Folha de São Paulo”,
na data de 6 de Dezembro de 2013, publica, sob o título “Depois da morte, a ressurreição
d0 Ison” da autoria de Salvador Nogueira* que registra a continuidade da saga
do cometa, divulgando informações de Karl Battams, um dos coordenadores da campanha de observação organizada pela Nasa,
que anunciou pelo twitter: “Certo, estamos cravando, e você ouviu primeiro
aqui: acreditamos que uma pequena parte do núcleo do Ison SOBREVIVEU ao periélio.” * Jornalista de ciência e autor
de sete livros.
O Sol não conseguiu desintegrar
o cometa. Tudo conspira para que nada seja previsível, rotineiro, usual. Quem
se arriscaria a afirmar que personagens como José Dirceu, José Genoino, Delúbio
Soares, Marcos Valério, Bispo Rodrigues, Valdemar Costa Neto, Pedro Correia e Vinicius
Samarane e outros, conheceriam a papuda por dentro, gozariam de sua
hospitalidade? Quem em sã consciência diria que passariam as festas de Natal e Ano Novo longe do Whisky de sua preferência, distante de belas mulheres, sem os sabores típicos da época?
As previsões apostavam nas
pizzas, na desintegração do cometa, no quanto pior melhor, na elevação das
temperaturas. Faltou combinar para quem “esquentaria a chapa “ ou seja quem
seria apanhado no meio da confusão. A temperatura aumentou. A televisão não tem
limites, a papuda não tem ar condicionado, o cometa conseguiu vencer o sol, aumentar
o seu brilho, a sua força e, naturalmente o seu calor. Os petralhas verão o Ano Novo surgir quadrado,
2 comentários:
LOURDES
Os resultados que temos visto indicam uma nova página na nossa História. Há um rompimento com a tradicional aspecto da sociedade brasileira em penalizar apenas pobres, negros, prostitutas, travestis. Há mais coisa no ar do que tão somente o aumento da temperatura, aumentou também a possibilidade de sermos vistos - com mais respeito.
Tadeu
Muito obrigado por sua visita e pelo elogio...
Vai chegar um dia,
em que tudo que eu diga;
Será poesia...
Manoel Carlos Alves
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