Quem sou eu? O que faço

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João Pessoa, Paraíba, Brazil
Quem sou? O que faço. Sou Maria de Lourdes, tenho, agora, 62 anos, esposa, mãe e avó, formação jurídica, com pós graduação em Direitos Humanos e Direito Processual Civil, além de um curso não concluído de Filosofia. Conheci os clássicos muito cedo, pois não tinha permissão para brincar na rua. Nosso universo – meu e de meus irmãos – era invadido, diariamente, por mestres da literatura universal, por nossos grandes autores, por contistas da literatura infanto-juvenil, revistas de informação como Seleções e/ou os populares gibis. Todos válidos para alimentar nossa sede de conhecimento. Gosto de conversar, ler, trabalhar, ouvir música, dançar. Adoro rir, ter amigos e amar. No trabalho me realizo à medida que consigo estabelecer a verdade, desconstruir a mentira, fazer valer direitos quando a injustiça parece ser a regra. Tenho a pretensão de informar, conversar, brincar com as palavras e os fatos que possam ser descritos ou comentados sob uma visão diferente. Venham comigo, embarquem nessa viagem que promete ser, a um só tempo, séria e divertida; suave e densa; clássica e atual. Somente me acompanhando você poderá exercer seu direito à críticas. Conto com sua atenção.

domingo, 8 de abril de 2012

A PÁSCOA


 PÁSCOA -

O VOCÁBULO -

"Páscoa" – do hebreu "peschad", em grego "paskha" e latim "pache" – tem o sentido de "passagem", uma trajetória iniciada pelo equinócio da primavera ou ponto vernal, que no hemisfério norte ou boreal - ocorre a 20 ou 21 de março e, no sul, em 22 ou 23 de setembro. Sendo, por tais motivos, antes de ser considerada a festa da ressurreição de Cristo,  anunciadora do término do inverno e do advento da primavera.

Entretanto, para apreensão do significado e discernimento do que representa a Páscoa cristã, se faz indispensável um mergulho na Idade Média rememorando ancestrais pagãos europeus que cultuavam e prestavam homenagem, nesta época do ano, a Ostera, ou Esther – em inglês, Easter, quem vem a ser Páscoa.


Ostera é a Deusa da Primavera da mitologia Nórdica, cuja representação é feita a partir de uma divindade feminina  que tem em sua mão um ovo e  um coelho - símbolo da fertilidade - saltitando festivamente em volta dos seus pés desnudos. Com uma rica significação, até mesmo pela sugestão de renovação de vida, a deusa e o ovo que traz consigo, são alegorias do início de uma nova vida. Presente noutros universos mitológicos, Ostera, na mitologia grega é Persephone, enquanto que na romana, é Ceres.

A festividade de Ostera celebra a fecundidade, sendo um clássico e antigo festejo pagão em comemoração ao acontecimento da chegada de uma outra estação, para os antigos, marcava o Equinócio da Primavera. Desse modo Ostera simboliza e representa a renovação da terra. Em sua festa a fertilidade é cultuada através de cerimônias típicas e símbolos. 

Revigorada pelo inverno a fertilidade se apresenta em perfeito equilíbrio, logo após a estação das chuvas. Nessa ocasião os dias e as noites têm igual duração. A luz noturna divide-se em números de horas iguais a luz diurna. Diz o mito que a deusa Ostera é o reflexo da perfeição da natureza, a restauração do espírito e da mente.

 Sua face transforma-se a cada toque da brisa. Deusa que é das flores, dos frutos, dos animais recém-nascidos, da Primavera, onde a fertilidade se prenuncia, regozija -se ante a presença de novos seres, deixando sua zona de conforto entre as árvores e permitindo ante a visão da vida renovada que sua essência também seja revigorada. Como muitos deuses da mitologia nórdica, Ostera também foi Cristanizada.

A DEUSA NÓRDICA – 

Diz o mito que a deusa Ostera amava as crianças e onde fosse era seguida por elas que também a amavam, em razão de sua beleza, de seu canto suave e belo, de sua magia que as encantava.  Assim, num belo dia estando num jardim com pequeninos à  sua volta, a divindade teve sua atenção desviada pelo vôo de um lindo pássaro que após breve vôo pousou em suas mãos. Com magia transformou-se no animalzinho predileto da deide que era uma lebre, as crianças ficaram felicíssimas e maravilhadas.

Mas a medida que o tempo passava, as crianças repararam que a lebre não se mostrava feliz com sua transformação, pois não podia cantar e também não podia voar. Ante a tristeza do animalzinho os pequenos  pediram a deusa que desfizesse a mágica. Condoída Ostera utilizou todo os seus conhecimentos sobre magia e, mesmo assim, não conseguiu reverter o encanto. Era fato consumado e nada podia ser feito. Em seu íntimo a deusa resolveu aguardar a chegada do inverno, que diminuiria seu poder, na esperança de que com o advento da Primavera, renovada em sua força, pudesse, pelo menos por alguns instantes, devolver a forma de pássaro à lebre e assim proporcionar-lhe alguma alegria.  


Com a chegada da Primavera, refeita em seus poderes e magia, a deusa conseguiu transformar a lebre em pássaro por algum tempo. Profundamente grata a pequena ave pôs ovos  em homenagem a  Ostera. Em tributo a Ostera e as crianças, a lebre pintou os ovos e os distribuiu por todo o mundo. A deusa como forma de lembrar a atitude impensada do pássaro, de intervir na natureza, esculpiu a silhueta de uma lebre na lua  que pode ser vista até os dias de hoje.


Há, ainda, o mito de que a denominação Páscoa foi dada pelo deus saxão da fertilidade – Eostre -  que participa das festividades na forma de um coelho, razão pela qual tomou-se o símbolo do coelho de páscoa  na tradição cristã, simbolizando, também, a fertilidade e a fortuna.


O VERDADEIRO SENTIDO DA PÁSCOA

Uma festa com sentido religioso, seja no culto de mitos, seja no fazer memória de passagens e ritos religiosos. Ainda que aos olhos de muitos, a tradição pagã de homenagear a chegada da Primavera seja entendida como tal, para os povos daquela época as festividades tinham uma conotação mista de sacro e profana.  Isto porquê  era dedicada a deusa, tinha a participação de um deus e, por assim dizer, celebrava o milagre da eterna renovação da vida.


 Para o povo judeu, Páscoa é sinônimo de libertação, passagem, festa de fé. A história da Páscoa Hebraica encontra-se inserida no Velho Testamento, no Livro do Êxodo – 12.1-28 - que o coloca, aproximadamente, no ano de 1250 a.C, sendo essa a mais importante celebração do seu  calendário. A festividade marca a libertação do povo judeu do jugo Egípcio, ocasião em que Moisés, liderando os seus, liberta-os de Ramsés – o faraó -  e os guia através do Mar vermelho e do deserto do Sinai. 

A peregrinação pelo deserto, por quarenta anos; a aliança celebrada no Monte Sinai com sua materialização nas Tábuas dos Dez Mandamentos, dados a Moisés por Deus, opera a transformação dos fatos em fé, dês que de histórico – escravidão pelo conquistador, fuga e liberdade – passa a Páscoa a renovar o significado da crença do povo Hebreu no DEUS de amor e misericórdia que os livrou da casa de escravidão.


Ainda, a passagem pelo Mar Vermelho, cujas águas se afastaram para permitir a fuga dos ex-escravos, perseguidos por um povo liderado por um faraó colérico, tornou-se um referencial na história dos judeus, sendo rememorada todos os anos. Nesse período o povo judeu faz o pão ázimo – sem fermento e chamado “matzá”, produzindo-o da mesma forma e pressa que não permitiu a fermentação naquele momento de fuga para a liberdade, para a vida.

Finalmente, num terceiro aspecto, os Hebreus, anualmente, na Primavera, quando na lua cheia, ocorria a celebração da Páscoa sacrificando um cordeiro, puro, sem mácula, que juntamente com o pão ázimo fazia memória da ordem transmitida a Moisés e referida no Livro do Êxodo 12.21.26-27, também com registro no Deuteronômio 12.42. Além do sacrifício do cordeiro e do consumo do matzá, os judeus ficavam em vigília,  como recordação da fuga do Egito, ocorrendo desse modo a continuação e passagem da tradição às novas gerações. 

Mais uma vez, os Hebreus foram submetidos a estrangeiros. A comemoração da Páscoa passou a ter não só a motivação do passado mas e também uma conotação futurista, como expressão da crença na liberdade, esperança essa que os livraria de toda opressão, de forma única e derradeira, com a vitória  sobre a escravidão e o início de um mundo novo, cumprindo-se, dessa forma, a promessa há muito feita ao povo hebreu, que se via como o povo escolhido por DEUS.     

A PÁSCOA CRISTÃ –
Traz um sentido novo de aceitação, de crença na boa nova traduzida nas palavras de Jesus Cristo. A Páscoa cristã revela e confirma o Verbo Encarnado, o Deus Homem, o ministério terreno do Deus Criador que se consuma através do Cordeiro e de sua missão salvadora.

Nesse contexto referido temos a notícia do acontecimento maior da civilização cristã. Um menino veio ao mundo, nascido de uma virgem, Deus, único e verdadeiro, que experimentou todas as facetas da humanidade, menos o pecado. Sua passagem entre nós nos lega, além da extraordinária missão, os textos do Evangelho, testemunhos vivos de um caminhar que mudaria a face da terra, ditando uma inversão, segundo a qual a Lei fora feita para o homem e não o homem para a Lei.

A humanidade contamina-se com a boa nova, o Cristo nos mostra uma época que chega a seu final e a instalação de um novo tempo, moldando uma nova consciência libertadora. O homem se faz novo, tal qual argila moldado no Espírito, livre do pecado. O cordeiro foi imolado, seu sangue redimiu a todos. O Calvário é um símbolo de uma nova aliança firmada com sangue. O Cristo sinaliza a necessidade da morte do homem velho - a morte para o mundo e o nascimento para Deus.  É ELE O CORDEIRO PASCAL.


 “A última ceia teria sido na quinta-feira, véspera da Páscoa (14 Nisan), tendo Jesus sido preso pela polícia do templo, liderada por Judas. Foi levado ao antigo sumo sacerdote Anás para interrogação e dali enviado para o sumo sacerdote Caifás, em cuja casa passou a noite.
 "Na sexta-feira de manhã (14 Nisan) o sinédrio se reuniu e decidiu entregar Jesus ao governador romano, acusado de sedição. Pilatos ouviu o caso e propôs ao povo a anistia a um prisioneiro. O povo preferindo Barrabás, Jesus foi condenado à cruz.(...) Jesus teria sido crucificado ao meio- dia da véspera da Páscoa (14 Nisan), tendo morrido às três horas da tarde, em presença apenas de algumas mulheres da Galileia. 

Com a autorização de Pilatos, José de Arimateia ou José e Nicodemos sepultaram o corpo de Jesus em uma tumba antes do pôr do sol, no dia 7 de abril de 30 d.C.”.
(2009, p.89) Comentários ao texto “A Morte Do Jesus Histórico”, de John Dominic Crossan por Pedro Paulo A. Funari, professor titular do Departamento de História do IFCH/ Unicamp e coordenador do Núcleo de Estudos Estratégicos (NEE/Unicamp).


A ressurreição do Cristo, a vitória sobre a morte, o triunfo sobre o pecado, experiência singular que modifica sobremaneira a humanidade. Dois milênios nos separam daquela semana em que Cristo foi imolado, todavia, até hoje é o ressuscitado que chama, atrai e converte as almas para DEUS.  A história viva do sangue derramado por todos nós nos incute responsabilidade de nos tornarmos multiplicadores e testemunhas de sua missão gloriosa, sem a qual possivelmente a humanidade teria afundado no egoísmo, na solidão, na imensa tristeza de não ter consigo a certeza da existência de DEUS.

A Páscoa cristã chega até nós, preservada a partir dos discípulos,  das primeiras comunidades e, por figuras ímpares do Cristianismo como Paulo, os evangelistas, Mateus, Marcos,  Lucas e João que relatam desde o nascimento, o início da missão de Jesus, o maravilhoso Sermão das Montanha, os milagres, as curas, o ministério de Jesus, as Parábolas, a dádiva da oração ensinada por Jesus e que se traduz num inquestionável código de ética, a Paixão e Ressurreição de Jesus através da qual as trevas que caíam sobre a humanidade foram afastadas e deram lugar a Luz de DEUS.



A Paixão de Cristo, ato de amor aos homens, além do profundo teor religioso guarda uma inegável ética. O filho unigênito imolado no altar do Amor. A renúncia a condição Divina, o não ao que seria o afastamento do cálice, a dor da mãe na entrega do Filho, a certeza de uma vida nova, a ressurreição, tudo isso é PÁSCOA, tudo isso é vida plena, tudo isso é dádiva de DEUS PARA OS HOMENS.




SÍMBOLOS DA PÁSCOA: 



A deusa revigorada




 
Coelhos




Ovos pintados




 


O sangue que salva

  
A Santa Ceia

O Cordeiro Pascal


A Ressurreição

O Peixe
A Páscoa Judaíca
A Páscoa e a criança

A TODOS UMA FELIZ PÁSCOA CHEIA DE REFLEXÕES, RESPONSABILIDADES E AMOR.



Um comentário:

Luzia disse...

Texto maravilhoso e imagens belíssimas mainha, muito bem selecionadas para ilustrar suas sábias palavras. Parabéns mais uma vez, bjs.