Quem sou eu? O que faço

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João Pessoa, Paraíba, Brazil
Quem sou? O que faço. Sou Maria de Lourdes, tenho, agora, 62 anos, esposa, mãe e avó, formação jurídica, com pós graduação em Direitos Humanos e Direito Processual Civil, além de um curso não concluído de Filosofia. Conheci os clássicos muito cedo, pois não tinha permissão para brincar na rua. Nosso universo – meu e de meus irmãos – era invadido, diariamente, por mestres da literatura universal, por nossos grandes autores, por contistas da literatura infanto-juvenil, revistas de informação como Seleções e/ou os populares gibis. Todos válidos para alimentar nossa sede de conhecimento. Gosto de conversar, ler, trabalhar, ouvir música, dançar. Adoro rir, ter amigos e amar. No trabalho me realizo à medida que consigo estabelecer a verdade, desconstruir a mentira, fazer valer direitos quando a injustiça parece ser a regra. Tenho a pretensão de informar, conversar, brincar com as palavras e os fatos que possam ser descritos ou comentados sob uma visão diferente. Venham comigo, embarquem nessa viagem que promete ser, a um só tempo, séria e divertida; suave e densa; clássica e atual. Somente me acompanhando você poderá exercer seu direito à críticas. Conto com sua atenção.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

RIR

O MELHOR REMÉDIO


  
Sempre ouvi falar dos benefícios do riso. Rotineiramente alguém falava sobre pessoas que gostavam de rir, estabelecendo laços e monopolizando atenções. Influência ou não de tais informações, tornei-me uma criatura sempre disposta a dar boas risadas. Encontrar motivos para rir, foi muito natural em minha vida. Assim, fui crescendo e fazendo amigos.  Lembro, perfeitamente, que na escola, mesmo sendo tranquila, calada, quando chegava a hora de brincar, sentir-se livre, sorrir,  ninguém me segurava. A autoconfiança me fazia esquecer o olhar de censura das irmãs  e, também,  de algumas colegas que não conseguiam ser crianças.*Imagem:terraderusblogs.


Ah se elas soubessem o que eu sabia. Nasci numa cidade, a época,  linda e progressista. Santa Rita, também conhecida como a Princesa dos Canaviais. Cresci numa casa cheia de luz, música, risos e amor. Nesse ambiente, sendo, exatamente, a filha do meio, tendo um casal de irmãos mais novos e um casal mais velho, algumas vezes fiquei sem saber onde me enquadrar. Ouvia frases do tipo: vocês já são crescidos podem ajudar, isso com relação aos três primeiros e/ou, vocês são pequenos, precisam dormir cedo. Eu, confusa, cheia de dúvidas: era grande ou pequena? *Imagem:victorblogmoi.wordpress.com.


As observações quanto ao meu desenvolvimento faziam com que eu não conseguisse encontrar o meu lugar, esperta, saía de mansinho e ria, ria muito, achando que adulto não funcionava muito bem. Coisas de criança. Graças a Deus tenho excelentes lembranças  de risos em minha casa, da alegria e da saudável convivência com meus irmãos, nossos parentes,  nossos amigos e amigas.*Imagem:jessicaozias.blogspot.com.

Mas não era apenas dentro de casa que havia desentendimento quanto a minha condição. Lembro que brincávamos na praça, correndo em bicicletas, pulando corda, cantando as músicas nas rodas: brincadeiras da época. Uma senhora, amiga de minha mãe, numa ocasião à tarde, me censurou porque eu estava uma mocinha e brincava de pular corda com as meninas, na praça, em frente à nossa casa. *Imagem:livrariacorrecutia.com.br


 À noite, toda feliz, fui para o terço na matriz e usei, com muito orgulho, um "tamanquinho" alto, dourado, comprado sob encomenda, pela querida Zilda. Aí quase entro em parafuso. A senhora me chamou e disse que eu era “enxerida”, pois era uma criança e queria ser uma moça. O jeito foi rir e sair correndo para não ser mal educada. *Imagem:umagarotaadolescente.
Em minhas relações familiares, fora da casa paterna, sempre fui muito cordata, tipo boazinha e sorridente. Isso rendeu o carinho de muitos de meus parentes. Se eu não nascera gênio, linda, maravilhosa, com certeza fora concebida num momento de muita espontaneidade, humor e amor, pois  sorrir é uma característica pessoal e que faz a diferença até hoje. Tem mais, do sorriso ao riso, o caminho não é muito longo, entretanto, revela como funciona a minha propensão à viver com alegria.*Imagem:caixaderetalhos.com.br


Muitas situações foram superadas com um sorriso. Lembro que minhas irmãs eram lindas. Destacavam-se: uma por ser morena cor de jambo, dona de um lindo rosto e belas pernas; a outra, logo na apresentação, abria sobre as visitas, olhos castanhos, grandes, maravilhosos, adornados por longos cílios que pareciam uma cortina de veludo, tudo isso num rosto de anjo; com o tempo, passou a ter, também, belas pernas. As visitas faziam um ar sofrido e diziam: as meninas mais velha e mais nova são lindas, a do meio, é muito boazinha.*Imagem:kariseroberta.blogspot.com.

A princípio fiquei meio sem graça com as visitas.  Depois o bom humor dominou a chateação e, eu achava a maior graça. Ria a valer da expressão que elas faziam para dizer algo que compensasse a “ausência da minha beleza”. Era um esforço constrangedor para elas que, visivelmente, se afligiam; me dava a maior vontade de dizer-lhes que na minha casa tinha espelho e eu me achava bonita. Mais uma vez encontrei motivos para rir.*Imagem:dreamstime.com.

Por outro lado, o sorriso também me trouxe a admiração dos meninos. Eu não era boba. Ria muito, mas não era só isso. A vaidade natural às adolescentes foi, caprichosamente, cultivada por mim. Nas festinhas conversava muito, assunto não faltava. Vestia-me para estar bem aonde quer que eu fosse.  Dançava, ria, sempre ouvia elogios e tititi sobre o meu sorriso. Ria, ainda mais e disfarçava, mudando o rumo da conversa para que as pessoas não percebessem,  na dança,  um interesse que despertasse a malícia dos outros. *Imagem:mauriciorodrigues1984.blogspot.com.

Comecei a namorar. Continuei rindo e o riso deu origem a outro sentimento. Conheci o monstrinho de olhos verdes – o ciúme. Lembro um namorado que ficava possesso quando eu ria... . Quanto mais raiva ele mostrava, mais vontade eu sentia de rir no contato com nossos amigos e amigas. Outro censurava meu riso, afirmava que eu ria e não sabia o que se passava na mente das pessoas. É claro que isso jamais afetou o meu humor, rindo, chorando ou brincando, mesmo se eu quisesse, não leria a mente das pessoas e jamais me sentiria responsável por pensamentos negativos. *Imagem:pt.123rf.com.


E a vida foi seguindo seu curso. Sorrir me fez conquistar amigos, estreitar laços, espalhar alegria. No meu lar, com meus filhos, um casal, fui séria quando precisava,  mas nunca desperdicei a oportunidade de uma boa risada. Continuei pertencendo “a turma das boazinhas”.  O nosso relacionamento, mãe e filhos, sempre pautado no amor, no respeito e na tolerância, sem excessos. Recordo que uma colega de repartição – estilo durona –  dizia, diariamente,  que os meus filhos quando crescessem jamais me respeitariam e iriam bater em mim, pois eu era muito mole, muito "besta" e sorria demais para eles. *Imagem:esposaemaeorando.blogspot.com.


Ledo engano. Os meus filhos não só me amam, mas me respeitam e riem comigo. Nenhum me causou desgosto ou me fez passar vergonha. Há entre nós amor incondicional. E esse amor, essa cumplicidade, não é apenas em relação aos que saíram de mim, foram gerados no meu ventre, mas e também àqueles que se tornaram filhos quando passaram a fazer parte de nossas vidas, minha nora, meu genro e também as minhas amadas netas. O amor é expansivo, se você permitir ele cresce. Primas, primos,  sobrinhas e sobrinhos, nascidos nessa  lúdica experiência da vida em família, sabem que sorrir e amar são determinantes na minha vida.*Imagem:pt.deposiphotos.com.

É de família mesmo. A minha mãe, quem a conhece sabe: é mais um belo motivo para meu riso.  Quero envelhecer assim como ela: perde um amigo, mas não perde a piada. Com minha filha sinto-me renovada e repaginada quando escuto a sua gargalhada. E vejo como somos parecidas. Ela, tão séria em seu trabalho e, tão sorridente em sua vida familiar e entre amigos. Isso me deixa especialmente feliz, pois sempre agi com responsabilidade, mas sempre sorri, gargalhei muito. *Imagem:picosderoseira.blogspot.com.


Quanto ao meu filho, fechado para quem o vê superficialmente, é capaz de deixar o sorriso iluminar seu lindo rosto com as minhas brincadeiras, ficando vermelho de rir. A neta mais velha se parece com o pai. Séria. Mas não dispensa uma brincadeira quando é avó que puxa o saco de risadas.. A neta mais nova, a nora e o genro são adeptos da alegria, gostam da minha bagunça.*Imagem: not1.xpg.uol.com.br.


Não é que a vida me pregou uma peça gostosa, deixando no meu rosto um sorriso de um lado ao outro! Estava eu bem quietinha e tranquila. Certa de que a minha carreira amorosa já estava devidamente encerrada e, vejam só: eis que de repente, sem alarde, sem luar, sem violão mas, com direito a passeio na orla, show no Centro Histórico, feira de artesanato, jantares olhando a lua refletir sua luz sobre o mar e outros programas compatíveis com a situação,  surge um amor para embalar  a famosa meia idade. *Imagem:www.minasfoco.com.


Aos que não acreditavam no romance, só podemos contrapor nove anos com amor, dedicação, cumplicidade e claro, muito riso. Pensar que levei mais de meio século para encontrar um outro amor, que me levasse a renunciar ao meu status de "dona absoluta de meu nariz",  faria rir até um frade de pedra, ante a incompetência demonstrada. Só rindo para encarar.*Imagem:camilagatta.blogspot.com.

É com muita saudade, mas sem tristezas, que me lembro do exercício de minhas funções nas repartições por onde passei. Foram trinta e dois anos de trabalho. Meu Deus, como foi divertido. Como sorri, ri, fiz amigos, vivi. Tenho a absoluta certeza – estou bem de autoestima  – que onde trabalhei levei meu sorriso como um direito natural.  Através dele senti melhorar as relações interpessoais no trato diário. Vi diminuírem as desavenças, brotar mais espontaneidade e  união. Sorrir é para mim um dom, uma fantástica magia para mútua ajuda  em momentos difíceis.* CréditoImagem:www.canstockphoto.nl.


Para mim, trabalhar fora de casa nunca foi apenas sobrevivência digna, me manter e aos meus filhos. Muito mais que isso, foi um aprendizado prazeroso, diário e ininterrupto. As relações humanas no trabalho representaram inesgotáveis fontes de contribuição para a minha realização pessoal e profissional. Aprendi muito com elas e eles. *Imagem:carreiras.empregoscom.br


No ambiente profissional algumas pessoas tornaram-se marcantes em minha história. Uma delas, que considero uma irmã, ganhou, desde os primeiros meses, a minha total admiração, por sua absoluta habilidade de bem administrar o salário miserável pago pelo Estado da Paraíba e, além disso, ter excelente senso de humor. Muitas vezes ri lembrando as hienas. Corajosas! São feias de doer, fazem sexo uma vez por ano, alimentam-se de restos de outros animais – carcaças – e, mesmo assim riem... riem... riem.*Imagem:nossojor.br.


Outros e outras colegas me conquistaram por suas atitudes,  tendo sempre uma palavra amiga, um gesto afetuoso, uma mensagem de amor e paz. Alguns gostavam de rir e me faziam sentir em casa. Os que destoavam foram desafios e contribuíram, mesmo sem querer ou saber, ora para fazer subir minha pressão, ora para exercitar a verve, ora para mostrar o que eu nunca deveria dizer ou fazer, contra quem quer que fosse. *Imagem:economia.uol.com.br.


Ao longo dos anos concluí: os que pensam e agem como nós, nos completam, mas não nos desafiam; os divergentes nos obrigam a pensar, nos instigam a ser cada vez mais fiéis aos nossos sentimentos, aos nossos ideais, à formação que recebemos. Sorrir, respeitar e ter cuidado no trato diário com os demais, produz milagres. Incentivar os inseguros nos deixa muito mais conscientes  e certos de sermos partes de algo muito maior: o universo, que conspira a nosso favor.   No conjunto da obra uma certeza, como cita Fernanda, minha doce sobrinha: Ser feliz é uma obrigação diária.