Quem sou eu? O que faço

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João Pessoa, Paraíba, Brazil
Quem sou? O que faço. Sou Maria de Lourdes, tenho, agora, 62 anos, esposa, mãe e avó, formação jurídica, com pós graduação em Direitos Humanos e Direito Processual Civil, além de um curso não concluído de Filosofia. Conheci os clássicos muito cedo, pois não tinha permissão para brincar na rua. Nosso universo – meu e de meus irmãos – era invadido, diariamente, por mestres da literatura universal, por nossos grandes autores, por contistas da literatura infanto-juvenil, revistas de informação como Seleções e/ou os populares gibis. Todos válidos para alimentar nossa sede de conhecimento. Gosto de conversar, ler, trabalhar, ouvir música, dançar. Adoro rir, ter amigos e amar. No trabalho me realizo à medida que consigo estabelecer a verdade, desconstruir a mentira, fazer valer direitos quando a injustiça parece ser a regra. Tenho a pretensão de informar, conversar, brincar com as palavras e os fatos que possam ser descritos ou comentados sob uma visão diferente. Venham comigo, embarquem nessa viagem que promete ser, a um só tempo, séria e divertida; suave e densa; clássica e atual. Somente me acompanhando você poderá exercer seu direito à críticas. Conto com sua atenção.

terça-feira, 30 de setembro de 2014

JÁ DIZIA ROBERTO FREIRE


“SEM TESÃO NÃO HÁ SOLUÇÃO”
 

 

É muito comum ouvir-se a expressão: está inspirado. Naturalmente traduzimos a deixa como se aquele ou aquela, a quem foi atribuída à inspiração, está apaixonado, motivado por algo que invadiu seu coração, tomou o seu ser.




A nossa imaginação imediatamente cria asas. Cogitamos as mais românticas e estapafúrdias suposições. Rapidamente vamos traçando uma série de possibilidades. Multiplicam-se, em nossos pensamentos, as opções e perguntas que buscam atender a curiosidade crescente. 



É impossível não reconhecer. A paixão tem que estar presente. Já dizia ROBERTO FREIRE, desde 1987 que “SEM TESÃO NÃO HÁ SOLUÇÃO”. E o que fala esse Médico Psiquiatra, autor dessa obra sob tão intrigante título? Com maestria, de modo original, transcreve um entendimento pessoal e livre, nos terrenos político e psicossocial, utilizando-se, para tanto, de ensaios, entrevistas e, finalmente, um manifesto. 


Há na obra tamanho apelo que a partir da indutiva contracapa, já se apresenta diante dos leitores um novo dínamo, um catalisador de emoções, senão vejamos o que diz o escritor: 




Descobri que é chegada a hora de acrescentarmos ao tempo e ao espaço mais uma dimensão fundamental à vida no universo: o tesão. Porém não me refiro ao tesão do Aurélio, mas sim ao do Caetano, por exemplo. Para mim esse tesão não habita dicionários oficiais; entretanto, é o que anima e encanta os  poetas tropicais. 


Tesão sem passado, apenas contemporâneo e vertical, ele é produto semântico e romântico dos que sentem desejo pelo desejo, alegria pela alegria e beleza pela beleza. Mas pode linda tesão de quem sente desejo pela alegria, beleza pelo desejo e alegria pela beleza.” Não há como fugir. Movimento, vida, paixão, tesão... impulso, ação e reação. Essa gana pela vida, por alguém ou por algo, se torna motor contínuo para nossas ações.

 

 
Engana-se quem reserva esse estado para um só aspecto: o sexual. Ora, aquilo que você faz por fazer, a exemplo do levantar-se, num dia comum, pode não lhe trazer prazer algum. Entretanto, se nessa ocasião você está fechando um grande negócio há meses perseguido ou, vai reencontrar um amigo querido, uma amiga do tempo de escola que você está curiosíssima para saber se está bem, se está realizada pessoal e afetivamente ou, ainda, se vai colher os frutos de um trabalho cuidadosamente elaborado, repentinamente aquela manhã lhe traz um ânimo novo, uma vontade que diferencia e motiva. Sair da cama deixa de ser um ato mecânico, transforma-se em prelúdio.



Ser morno, apático, insosso, não é exatamente a melhor coisa. A não ser que eu esteja sendo traída pela memória, há na Bíblia uma passagem que repele essa atitude.   Afinal a vida é cheia de escolhas e, obviamente, temos que tomar nossas decisões e responder, de uma forma ou de outra, por aquelas que fizemos ou que faremos. 




Vemos isso todos os dias e em relação a todo o nosso viver. Decidir nem sempre é fácil. Às vezes deixar-se levar oferece uma tentadora zona de conforto. Por que não aderir a aquele tipo de música? E por que não escutar o apelo comercial que invade nossos lares vendendo carros, eletrodomésticos, bebidas e outros artigos? Por que não aceitar como verdadeira a enxurrada de informações despejadas nas diversas formas de mídias?




Como é tentador não inquietar-se. Como é frustrante, para quem tem consciência de sua humanidade,  tornar-se lagartixa. Aceitar e balançar a cabeça para tudo e para todos. Isso é anular-se,  fechar os olhos e os ouvidos, bebendo da fonte ofertada pelos outros,  sem construir e evidenciar conhecimento próprio.



E nossas Paixões? Chamas que desequilibram a nossa capacidade de emitir julgamento, corroem nossas experiências, desviam a nossa conduta e cerceiam todas as tentativas de racionalidade. Transformadas em “pathos”, patologia, doença, vêm munidas de poderoso anestésico, privam-nos dos sentidos, espalham a dor, o horror e, as vezes, morte.


São múltiplas em suas apresentações. Ora é alguém que não mais convive com a criatura objeto de seu desejo e que, em represália, tira-lhe a vida sob a alegação de que não pode viver sem o seu “Amor”.  Ora é um “Esporte qualquer”, com especial ênfase para o futebol no qual torcedor ou torcedores ao invés fazerem vibrar seus corações com os hinos, os jogos, os gols de seus amados “Times”, em nome dessas paixões, apedrejam carros de cima de viadutos, espancam, matam, com requintes de crueldades, torcedores de times rivais.


E a Política? Instrumento de transformação da sociedade, registro vivo da atividade humana enquanto partícipe da polis. Também não é diferente. Em nome dessa,  vidas são ceifadas, lógica e ética jogadas ao lixo, comunidades destruídas, honras aviltadas num inabalável círculo vicioso, onde a tortura psicológica está sempre presente, constituindo na visão do sociólogo e autor Luciano Oliveira aquilo que deu título  a seu livro: “Do Nunca Mais ao Eterno retorno.”


Pois é a pressão psicológica se faz presente no âmbito da Política. É uma prática tão antiga quanto exitosa, principalmente entre os menos esclarecidos, mais fragilizados socialmente. Tais criaturas,      maltratadas pela vida, buscam consolidar suas esperanças depositando-as com esse ou aquele candidato. Até ai tudo bem. Os problemas se acentuam e as cidades se transformam em verdadeiros campos de batalha, quando o equilíbrio é substituído pela irracionalidade que transforma amigos em inimigos, parentes em desafetos, ambientes do dia a dia em odiosos nichos de angústia.



 Que tal fazer o caminho inverso? Sabendo que “Sem Tesão não há Solução” canalizar essa energia, dando o melhor de nós para que possamos ser construtores de um novo tempo.