“SEM TESÃO NÃO HÁ SOLUÇÃO”
É
muito comum ouvir-se a expressão: está inspirado. Naturalmente traduzimos a
deixa como se aquele ou aquela, a quem foi atribuída à inspiração, está
apaixonado, motivado por algo que invadiu seu coração, tomou o seu ser.
A nossa imaginação
imediatamente cria asas. Cogitamos as mais românticas e estapafúrdias
suposições. Rapidamente vamos traçando uma série de possibilidades. Multiplicam-se,
em nossos pensamentos, as opções e perguntas que buscam atender a curiosidade
crescente.
É impossível não reconhecer. A
paixão tem que estar presente. Já dizia ROBERTO FREIRE, desde 1987 que “SEM
TESÃO NÃO HÁ SOLUÇÃO”. E o que fala esse Médico Psiquiatra, autor dessa obra
sob tão intrigante título? Com maestria, de modo original, transcreve um
entendimento pessoal e livre, nos terrenos político e psicossocial,
utilizando-se, para tanto, de ensaios, entrevistas e, finalmente, um manifesto.
Há na obra tamanho apelo que a partir da indutiva contracapa, já se apresenta
diante dos leitores um novo dínamo, um catalisador de emoções, senão vejamos o
que diz o escritor:
“Descobri que é chegada a hora de acrescentarmos ao
tempo e ao espaço mais uma dimensão fundamental à vida no universo: o tesão. Porém
não me refiro ao tesão do Aurélio, mas sim ao do Caetano, por exemplo. Para mim
esse tesão não habita dicionários oficiais; entretanto, é o que anima e encanta
os poetas tropicais.
Tesão sem passado,
apenas contemporâneo e vertical, ele é produto semântico e romântico dos que
sentem desejo pelo desejo, alegria pela alegria e beleza pela beleza. Mas pode
linda tesão de quem sente desejo pela alegria, beleza pelo desejo e alegria
pela beleza.” Não há como fugir. Movimento, vida,
paixão, tesão... impulso, ação e reação. Essa gana pela vida, por alguém ou por
algo, se torna motor contínuo para nossas ações.
Engana-se quem reserva esse estado para um só
aspecto: o sexual. Ora, aquilo que você faz por fazer, a exemplo do
levantar-se, num dia comum, pode não lhe trazer prazer algum. Entretanto, se
nessa ocasião você está fechando um grande negócio há meses perseguido ou, vai
reencontrar um amigo querido, uma amiga do tempo de escola que você está
curiosíssima para saber se está bem, se está realizada pessoal e afetivamente
ou, ainda, se vai colher os frutos de um trabalho cuidadosamente elaborado,
repentinamente aquela manhã lhe traz um ânimo novo, uma vontade que diferencia
e motiva. Sair da cama deixa de ser um ato mecânico, transforma-se em prelúdio.
Ser
morno, apático, insosso, não é exatamente a melhor coisa. A não ser que eu
esteja sendo traída pela memória, há na Bíblia uma passagem que repele essa
atitude. Afinal a vida é cheia de escolhas e,
obviamente, temos que tomar nossas decisões e responder, de uma forma ou de
outra, por aquelas que fizemos ou que faremos.
Vemos
isso todos os dias e em relação a todo o nosso viver. Decidir nem sempre é
fácil. Às vezes deixar-se levar oferece uma tentadora zona de conforto. Por que
não aderir a aquele tipo de música? E por que não escutar o apelo comercial que
invade nossos lares vendendo carros, eletrodomésticos, bebidas e outros
artigos? Por que não aceitar como verdadeira a enxurrada de informações
despejadas nas diversas formas de mídias?
Como
é tentador não inquietar-se. Como é frustrante, para quem tem consciência de
sua humanidade, tornar-se lagartixa.
Aceitar e balançar a cabeça para tudo e para todos. Isso é anular-se, fechar os olhos e os ouvidos, bebendo da
fonte ofertada pelos outros, sem
construir e evidenciar conhecimento próprio.
E
nossas Paixões? Chamas que desequilibram a nossa capacidade de emitir julgamento, corroem nossas experiências, desviam a nossa conduta e cerceiam todas as tentativas de racionalidade. Transformadas em “pathos”, patologia, doença, vêm munidas de poderoso anestésico, privam-nos dos sentidos, espalham
a dor, o horror e, as vezes, morte.
São múltiplas em suas apresentações. Ora é
alguém que não mais convive com a criatura objeto de seu desejo e que, em
represália, tira-lhe a vida sob a alegação de que não pode viver sem o seu “Amor”.
Ora é um “Esporte qualquer”, com
especial ênfase para o futebol no qual torcedor ou torcedores ao invés fazerem
vibrar seus corações com os hinos, os jogos, os gols de seus amados “Times”, em
nome dessas paixões, apedrejam carros de cima de viadutos, espancam, matam, com
requintes de crueldades, torcedores de times rivais.
E a Política? Instrumento de transformação da
sociedade, registro vivo da atividade humana enquanto partícipe da polis.
Também não é diferente. Em nome dessa, vidas são ceifadas, lógica e ética jogadas ao
lixo, comunidades destruídas, honras aviltadas num inabalável círculo vicioso,
onde a tortura psicológica está sempre presente, constituindo na visão do sociólogo
e autor Luciano Oliveira aquilo que deu título
a seu livro: “Do Nunca Mais ao Eterno retorno.”
Pois
é a pressão psicológica se faz presente no âmbito da Política. É uma prática tão antiga quanto
exitosa, principalmente entre os menos esclarecidos, mais fragilizados socialmente. Tais criaturas, maltratadas pela vida,
buscam consolidar suas esperanças depositando-as com esse ou aquele candidato. Até
ai tudo bem. Os problemas se acentuam e as cidades se transformam em verdadeiros
campos de batalha, quando o equilíbrio é substituído pela irracionalidade que
transforma amigos em inimigos, parentes em desafetos, ambientes do dia a dia em
odiosos nichos de angústia.
Que
tal fazer o caminho inverso? Sabendo que “Sem Tesão não há Solução” canalizar
essa energia, dando o melhor de nós para que possamos ser construtores de um novo
tempo.
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