SATANIZADA POR CASTRO!
Impossível
não iniciar esta postagem chamando a atenção para a Revista Veja desta semana
que divulga a reunião, ocorrida na Embaixada de Cuba, na Capital Federal,
com militantes de esquerda, pessoas filiados ao PT e PCdoB, bem como membros do governo e da CUT, para tramar um plano de satanização da blogueira
Yoani Sanchez. Conforme a revista, "Ricardo Poppi Martins,
coordenador-geral e Novas Mídias da Secretaria-Geral da Presidência, subordinado ao ministro Gilberto Carvalho, teria também participado do
encontro."
Em pronunciamento indignado o Presidente
Nacional do PPS, Deputado Federal Roberto Freire foi implacável com a
plausibilidade do fato, expressando: "O Gilberto Carvalho tem tantas
explicações para dar, inclusive para a própria Justiça, que essa é só mais uma.
Infelizmente, falta de compromisso democrático é proverbial nesse governo”,
reforçou o parlamentar. Sob esse clima, de desqualificação é que recebemos
nossa ilustre visitante.
YOANI
SANCHÉZ, uma das vozes mais críticas de Cuba e a quem, repetidas vezes, foi
negada a permissão para sair da ilha, pouco importando a justificativa de sua pretensão. Trata-se de uma
jovem senhora, casada, mãe de um filho, com residência fixa, num apartamento
simples no bairro "Centro Havana", na Capital Cubana e que utiliza, por vias
oblíquas, a rede mundial de computadores. Não para o seu deleite pessoal e sim
como canal de oposição ao regime ditatorial e defesa da democracia.
Vista
pelo regime como uma mercenária a serviço dos Estados Unidos e, da
mesma forma por autoridades subservientes a Fidel e seus comandados, a
blogueira encanta os que defendem a liberdade, por seu espírito combativo,
ético e incansável, constituindo-se uma referência para aqueles que, mesmo debilmente,
na surdina, difundem seus protestos, plantam semente de liberdade.
Tendo
se lançado timidamente através de um blog denominado “http://desdecuba.com./generaciony, fala sobre momentos considerados do dia a dia, mas que relatam as dificuldades dos
habitantes da ilha, capitaneada pelos irmãos Castro e que exercem seu domínio como se aquela fosse uma
extensão de suas personalidades.
Com
uma linguagem coloquial, a blogueira, fiel em seus relatos e, principalmente,
por ser o seu blog uma janela através da qual o mundo pode vislumbrar
o comando férreo do Partido Comunista, único partido político no País, bem como a ausência
de cidadania do povo cubano, tornou-se, ela, Yoani, “persona non grata” ao
regime Castrita, aos seus seguidores, e a aqueles que se recusam a enxergar a
realidade política: não há mais lugar na atualidade para se dividir a política
em dois grupos fechados, não é tão simples assim.
Yoani incomoda pelas informações transmitidas aos seguidores do blog e a interessados a exemplo da denúncia que sobreviver em Cuba é algo extenuante aos cubanos; ou mesmo o
quanto é arriscada a locomoção em Cuba, seja na cidade em que mora ou pelo
País; ou ainda em relação à crueldade e desgaste para uma simples
marcação de uma consulta médica; e, também a pressão e a construção negativa de sua imagem por contrapor-se ao regime. Situações do cotidiano, aparentemente simples,
mas que escancaram a condição de sujeição e penúria que exite na ilha.
Sua
atuação como blogueira começou nos idos de 2007, mais especificamente em abril.
Iniciado de modo tímido, com forte carga emocional, ante a uma situação
inusitada de opor-se a uma administração marcada por restrições, perseguições e
por carências materiais de toda ordem. Isso num País fechado, recluso e cuja
“nata social” ainda se traveste de salvadores da Pátria, apesar de negar,
sistematicamente, toda forma de liberdade.
Através
do blog Yoani transformou-se numa pessoa conhecida internacionalmente, sendo
considerada por internautas, jornalistas, escritores e outros, uma das blogueiras
mais conhecidas da Web e quiçá do planeta. Conforme Sandro Vaia - jornalista,
ex-diretor de Redação do Jornal O Estado de São Paulo, que retratou a história
de resistência da jovem em seu livro “A
Ilha Roubada - Yoani, a Blogueira Que Abalou Cuba ", os seus “post”
merecem especial atenção, o que pode ser medido pela ocorrência regular e
aproximada de cerca de 2.000 (dois mil) comentários para cada postagem.
Registra
a mídia, especificamente através de jornais e da Net que, algumas postagens de
Yoani receberam mais de 6.000 (seis mil) comentários. A luta diuturna dessa
cubana, sujeita a Fidel e Raúl Castro, parece ter aberto os olhos do Ocidente sob a
incoerência da negação de tantos direito e da tamanha falta de condições essenciais.
Enganam-se
os que acreditam que ser blogueira em Cuba e criticar as autoridades locais é
algo simples, de fácil execução e sem consequências pessoais. É do conhecimento
dos que tem interesse na Política Internacional, que em Cuba, assim como toda a
imprensa, a internet é controlada pelo Governo. Sendo considerada uma pessoa “nociva” aos interesses dos irmãos
Castro, Yoani não tem acesso a rede de computadores e em decorrência disso não
pode estabelecer qualquer comunicação com o seu blog. Mas, tem sobre si uma maciça campanha de desqualificação e a constante produção de dossiês e imagens montadas para o convencimento dos mais simples.
Sua
dedicação torna-se ainda mai admirável ante as peripécias utilizadas para
alimentar o seu blog. Os seus textos são digitalizados em computadores que não
possuem conexão com a internet. Uma vez terminado é o texto salvo em disquete,
esse é processado através de lan house e enviado, como arquivo anexo, a
internautas de países os mais variados possíveis. Os amigos que recebem os
arquivos fazem sua tradução, re-enviam o post a um servidor, naturalmente fora
de Cuba e, daí para o mundo em diversos idiomas.
A
vinda de Yoani Sanchéz ao Brasil visa prestigiar o lançamento do documentário
“Conexão Cuba-Honduras”, feito pelo cineasta brasileiro Cláudio Galvão da
Silva, em Jequié/BA, do qual é personagem principal e que enfoca a liberdade de
imprensa em Cuba e Honduras.
Sem o
visto para deixar seu país, entregou à Presidente Dilma, em Havana, uma carta
onde solicitou a sua intervenção para a sonhada autorização. Sua viagem ao
nosso país, concedida sob os olhos e pressão da imprensa, dos países e dos
povos livres, infeliz e vergonhosamente sofreu um deprimente boicote divulgado
na imprensa brasileira e comprovado, a olhos vistos, por atitudes orquestradas,
comportamentos repetidos e lições de cabresto, aprendidas por quem jamais
deveria repeti-las.
Vaiada
em Jequié, impedida de ver o documentário produzido pelo cineasta baiano, quando questionada sobre o fato disse aos jornalistas: “respeito a manifestação, isso
é democracia”. Será?
Terá sido fruto da democracia, vaiar e boicotar quem luta contra um governo
ditatorial? Mudou o sentido das palavras ditadura e democracia? Ou, ainda
permanecem, o primeiro como: “governo que cerceia e suprime as liberdades
individuais” e o segundo “baseado nos princípios da soberania popular e da
distribuição equitativa do poder, tendo como essência a liberdade...? Ressoa indigesta qualquer tentativa de confundir tais conceitos.
Em
visita ao Congresso Nacional, Yoani pode experimentar, mais uma vez, o peso das
cartas marcadas. Pequenos blocos de manifestantes sociais (?) tumultuavam a
visita no lado de fora, entretanto, a cubana, mais uma vez não se intimidou e declarou: “Isso
não me assusta. São meus colegas.”
Uma
vez no Congresso, foi recebida por parlamentares, e assessores e repórteres, sendo encaminhada
ao plenário da Câmara dos Deputados – onde desencadeou-se uma discussão com o
protesto de alguns que não aceitavam a presença da blogueira -, conduzida a sala da Comissão de Relações Exteriores e
de Defesa Nacional foi aplaudida por pelo menos a metade dos presentes,
assistiu ao documentário, falou sobre a criação de seu blog, criticou a falta
de liberdade em Cuba, a satanização pública que lhe é atribuída, expressando,
ainda, o seguinte: “Levo do Brasil a recordação da pluralidade.”
Apesar
dos Generalíssimos, surgidos após cada revolução, o mundo muda a passos largos.
Num momento diferente para os cidadãos cubanos, a blogueira, misto de
insurgente e voz que clama no deserto, representa a esperança de um povo
sofrido e sob o jugo do medo.
“Mutatis mutandis” as civilizações se
aprimoram, todavia algumas questões permanecem e parecem desafiar a constante
evolução, em rota de colisão com atrasos e truculências. Conhecer,
saber da existência e da persistência de pessoas como YOANI SANCHÉZ, a
blogueira premiada por fazer a defesa dos Direitos Humanos e a estudante
paquistanesa MALAIA YOUSUFZA - ferida a bala por talibãs em virtude de defender
o direito à educação para as mulheres - faz acontecer, faz a diferença!
Parabéns
Yoani, inclusive, por entender e se irmanar com aqueles que vaiam você, consciente de que foram manipulados como se fossem
marionetes, escondidos com a cauda de fora, sob o manto da democracia.
Um comentário:
Como sempre, textos coerentes, bem escritos, atualíssimos e dotados de muita sensibilidade. Parabéns...
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