LIVROS e REVISTAS.
O meu perfil já registra que “conheci
os clássicos muito cedo, pois não tinha permissão para brincar na rua. Nosso
universo – meu e de meus irmãos – era invadido, diariamente, por mestres da
literatura universal; por nossos grandes autores; por contistas da literatura
infanto-juvenil, revistas de conteúdo variado como Seleções, Planeta, Cláudia,
Manchete, e/ou os populares cordéis, gibis e almanaques... Todos válidos para alimentar
nossa sede de conhecimentos.
Essa ânsia por literatura foi
alimentada, durante todo o nosso desenvolvimento, por duas pessoas: a primeira
foi a nossa Mãe, professora e defensora da necessidade de capacitação dos filhos
para que não se tornassem apenas sobreviventes e sim, pessoas com qualidade de
vida. A segunda pessoa foi o nosso Pai. Homem simples, que iniciou sua vida como agricultor, mas que assumiu um compromisso
consigo de fazer seus filhos e filhas independentes. Sempre a nos dizer que as
filhas necessitavam, mais que os homens, tornarem-se autossuficientes. Dessa forma não se sentiriam, jamais, obrigadas a permanecer num casamento infeliz. O amor,
o zelo deles em relação a nós não conheceu limites.
Nesse maravilhoso caminho entre
os livros, iniciamos muito cedo o contato com os clássicos. Havia, em nossa casa, uma coleção de 40 (quarenta) volumes, com encadernação
imitando couro, e gravação com letras douradas, chamada “Clássicos Jackson”, lendo-a conheci: Tolstoi com Anna Karenina e Guerra e Paz; Dostoiévski com Os irmãos
Karamazov e Crime e Castigo; Steinbeck
com Vinhas da Ira; D H. Lawrence com O
Amante de Lady Chatterly; Balzac com A mulher de Trinta; Émile Zola com Germinal; Victor Hugo com Os Miseráveis; Flauber com Madame Bovary; também, As Catilinárias – discursos
de Cícero, feitos no Senado Romano para denunciar Catilina e que era rotineiramente
emprestado, principalmente a políticos
de nossa cidade. Havia ainda muitos outros autores
universais completando a coleção e que também foram lidos por nós.
Tínhamos a nosso dispor uma
Coleção de Érico Veríssimo que nos fazia sonhar com as tramas de romances como “Olhai os
Lírios do Campo; O Continente; Saga; O
tempo e o Vento; Um lugar ao Sol; Incidente em Antares. Nesse universo
lembranças recorrentes como o Capitão Rodrigo que tomou vida própria saindo do “Continente”
e povoando a imaginação de muitos leitores; do mesmo modo, Ana Terra que dá origem a família Terra e
integra o primeiro volume da triologia “o Tempo e o Vento”. Com o escritor
Gaúcho saíamos de nossa pacata cidade do interior para vivermos maravilhosas
aventuras nos Pampas.
Do sul voltamos para o
Nordeste. Jorge Amado era o nosso preferido. Coleção completa. Desde o País do
Carnaval - primeiro romance -, até Tereza Batista Cansada de Guerra. Para nós as aventura de meninos
e meninas livres como retratados em Capitães da Areia ou mesmo, o romance de
Gumercindo – Guma e Lívia -, em Mar Morto; ou, ainda, a pimenta de Dona Flor e
Seus Dois Maridos, com direito a mais condimento, em Gabriela Cravo e Canela, abriu um porta para novos conhecimento sobre uma cultura desconhecida - a baiana.
O mundo de Jorge Amado, a linguagem picante, as religiões Afro, os costumes diferentes e ali desvendados, aguçavam a natural curiosidade que todo adolescente tem a respeito de sexo e vida adulta. A mistura de personalidades boêmias, carolas, mães de santos, capoeiras, coronéis, prostitutas e bordéis, era algo a ser visitado na obra do escritor e, comentado baixinho, em sussurros. Há, entretanto, uma doce ressalva a ser feita nessa linha focada pelo autor: “O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá”, livro infantil, escrito em 1948, numa homenagem do escritor ao seu filho mais velho, João Jorge nascido naquele ano. Foi publicado em 1952.
O mundo de Jorge Amado, a linguagem picante, as religiões Afro, os costumes diferentes e ali desvendados, aguçavam a natural curiosidade que todo adolescente tem a respeito de sexo e vida adulta. A mistura de personalidades boêmias, carolas, mães de santos, capoeiras, coronéis, prostitutas e bordéis, era algo a ser visitado na obra do escritor e, comentado baixinho, em sussurros. Há, entretanto, uma doce ressalva a ser feita nessa linha focada pelo autor: “O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá”, livro infantil, escrito em 1948, numa homenagem do escritor ao seu filho mais velho, João Jorge nascido naquele ano. Foi publicado em 1952.
Desfrutávamos, também, da
companhia de Zé Lins do Rego com O Menino de engenho, Doidinho, Bangüê, Usina,
Pureza, Riacho Doce, Fogo Morto, Eurídice, Cangaceiros. Representando uma
literatura regional, o escritor, Flamenguista convicto, criou tipos fantásticos como “Carlinhos”, o Coronel José Paulino, o Moleque Ricardo, o Tio Carlos, Capitão
Vitorino – o papa rabo, o Coronel Lula de Holanda, o Mestre José Amaro, entre
outras. Conhecer o universo dos engenhos, as brincadeiras, a liberdade e a exacerbada
sexualidade dos garotos, oferecia a oportunidade de uma viagem a um “mundo”
muito perto e ao mesmo tempo inatingível. Com certeza, todos os meninos que leram algum desses livros sonharam ter, pelo menos um dia de Carlinhos.
E a literatura infantil? Ah,
essa tinha legítimos representantes. A nossa leitura nessa fatia literária
contou com Contos de Andersen, em destaque: O Patinho Feio, O Soldadinho de Chumbo, A
Pequena Sereia, A Roupa Nova do Rei. Também tínhamos a Coleção dos Irmãos Grimm
com
as histórias de Branca de Neve,
Cinderela, João e Maria, O Flautista de Hamelin, Rapunzel, Chapeuzinho
Vermelho, A Bela Adormecida e outras. E como obras soltas Robin Hood, Robson Crusoé, A
caça ao Tesouro, Alice no País das Maravilhas e As Viagens de Gulliver, com os maravilhosos anões liliputianos.
Ainda tem um lugar especial em minha memória a Coleção Mundo da Criança - lançada pela Editora Delta, na década de cinquenta, com 15 (quinze) volumes. Nessa destaco o volume de nº 3, com história maravilhosas como Pedro e o Lobo, João e o Pé de Feijão, A Princesa e a Ervilha...o volume de nº 2 (dois) trazia, em forma de poesia, relatos tão fantasiosos quanto bonitos onde O Salteador das Estrada, A Princesa Menina (Doliti Diliti Dina), O Roxinol e o Imperador e, Taturana - a bruxa rainha da festa, arrancaram suspiros e emoções.
Ainda tem um lugar especial em minha memória a Coleção Mundo da Criança - lançada pela Editora Delta, na década de cinquenta, com 15 (quinze) volumes. Nessa destaco o volume de nº 3, com história maravilhosas como Pedro e o Lobo,
Entre os brasileiros que também escreveram para o público infanto-juvenil, Mestre Monteiro
Lobato com seu Sítio do Pica Pau Amarelo, Reinações de Narizinho, Aventuras, Histórias
de Tia "Nastacia" , entre outras, fizeram melhores os nossos dias e mais ricas a nossa imaginação. Alguns personagens criados por Lobato atravessaram gerações como é o caso de Emília,
Pedrinho, Narizinho, o Visconde de Sabugosa, a Cuca, Dona Benta e Tia "Nastacia" e o sempre presente Saci Pererê. Era aventura com direito a sonhar acordada.
Não seria justo, deixar da atribuir crédito às revistas.
A minha primeira lembrança vai para Seleções do Reader’s Digest que tinha um
formato menor que as revistas atuais, primava pela excelência dos artigos, buscava personalidades marcantes, a diversidade nas matérias e a inclusão do humor, o que a
tornava ímpar. Por toda a adolescência e faculdade pudemos contar com esse
auxílio qualitativo à nossa formação enquanto leitores.
Também, convivemos
desde cedo com as Revistas Manchete – criada
por Adolpho Bloch da Bloch Editores e, O
Cruzeiro, fundada por Carlos Malheiros Dias e publicada pelos Diários Associados
de Assis Chateaubriand (Fonte – Wikipédia –a enciclopédia livre), nessa revista, esperava-se, sempre pelo impagável “amigo da Onça”, numa imortal criação do Pernambucano Péricles, cuja
sátira, inteligentemente conduzida, tornou-o um dos mais conhecidos cartunistas
brasileiro. A Revista foi, sem dúvida nenhuma e por muito tempo a mais importante publicação brasileira do gênero.
Lembro, também da Revista Planeta, mais
ou menos nos idos de 1973 e que se propunha a fazer algo diferente. Tratar de assuntos
como parapsicologia, ufologia, esoterismo, meio ambiente entre outros, tornando-se, por isso mesmo, motivo de
muita controvérsia. Uma dessas situações eclodiu com a reportagem publicada na Revista Planeta, número 138-C, em
março de 84, reeditando uma acirrada discussão entre defensores de uma pseudo
aparição de um disco voador sobrevoando a pedra da Gávea e aqueles para quem a
aparição era apenas fraude. Com toda a certeza a polêmica aumentou a tiragem da
revista e atiçou os leitores.
E os Gibis? Em múltiplas publicações,
davam vida e movimento a heróis para todos os leitores do gênero. Assim, líamos os de
faroeste com Kit Carson; Bill Kid; Tex; O Zorro - aquele co Silver e o índio Tonto; Durango Kid; Wyahtt Earp; Cheyenne; Nevada; Buck Jones. Gostávamos, também, dos chamados heróis das
selvas como Tarzan - com Jane , Boy e shita; O Fantasma que Anda, com Diana, Capeto, Heroi e os pigmeus; Jim das Selvas; Sheena a Rainha das Selvas; Ninotckhka a Rainha das Selvas, vivida no cinema por Greta Garbo. Entre os herois, aqueles de capa e espada como o Zorro de Don Diego de La Vega, o Príncipe Valente. Os heróis moradores de grandes cidades como Mandrake e sua noiva a Princesa Narda e o inseparável guarda costas, Lothar. O Super homem, extra terrestre constantemente em conflito por não poder se revelar a sua amada Louis lane .
Uma turma de garotos também encantou
aos de nossa época. Falo da Turma da Luluzinha e da Revista do Bolinha. Com a interminável ciumeira que Lulu sentia de Glória, na disputa por Bolinha. Plínio Raposo, era o rival de Bolinha no amor de Glória e sempre armava ciladas para mostrá-lo como "atrapalhado", tudo no meio das aventuras de Juca, Aninha, Carequinha e os adultos que faziam os pais e vizinhos dos meninos. As
publicações brasileiras da Disney, através da Editora Abril eram excelentes e uma constante, assim leituras de revistas do Pato
Donald, Zé Carioca, Mickey, Tio Patinhas e, mais recentemente, sem nada dever as "estrangeiras", as nacionais criadas e produzidas por Maurício de Sousa, com os quadrinhos da Turma da
Mônica, Chico Bento, Cebolinha e outros.
Não podemos esquecer o mais fiel representante literário do Nordeste . Não de suas capitais, onde convivem em perfeita harmonia livros menos cobiçados e publicações intelectuais destinadas a um público sofisticado, elitizado. Refiro-me aos cordéis, de que tomamos conhecimento através de nosso tio Luís, afeito as coisas da zona rural e que, ele mesmo, parecia, por sua simplicidade e gestos rudes, uma pessoa saída de um daqueles folhetos. Uma literatura que utiliza linguagem simples e histórias aparentemente singelas. Sem o formato utilizados por editoras o cordel passa de geração a geração personagens "modelos de experiência", para orientá-los , aparentemente sem nenhum roteiro previamente definido.
Quase sempre tendendo a fantasia por fantasia, o cordel não tem outro compromisso senão estabelecer uma forma de comunicação que preserve valores ligados à comunidade. Inclusive, não subestima clichês que funcionam até mesmo sem que seus autores tenham consciência de tal fato. Alguns ultrapassaram as barreiras nordestinas, como o Romance do Pavão Misterioso; Pedro Malazarte; João Grilo; A Chegada de Lampião no inferno; A história de Lampião e o Cordel Encantado - inspirado na Pedra do Reino, do Grande Paraibano Ariano Suassuna.
Inclusive, para não cometer injustiças, alguns romances ditos de inspiração espírita como O Morro dos Ventos Uivantes, o Conde de Monte Cristo, Sangue de Tigre, A Caravana Verde, Éramos Seis e outros, nos fascinava e dava medo. A curiosidade sempre vencia, embora lado a lado com o desconhecido e a insônia resultante.
Não fosse cansar a paciência de meus “quase... cinco leitores”, falaria, da Coleção das Moças, romances, comprados para o deleite de minha mãe e lidos ás escondidas, com personagens lindas e cuja escritora ou escritor M. Dely era a mais lida. Os livros de bolso, coleções que
encantaram as moças entre as décadas de setenta e oitenta, como Sabrina,
Barbara Cartland, Corin Tellado, Carlos Santander, Bianca, Júlia e outras, continham um forte apelo erótico e
descrições que incentivavam a imaginação, mas esta é outra fase quando já
começávamos a ver o mundo como ele é. Quem sabe, num outro momento... Antes porém deixo meu testemunho de que cada uma das formas de literatura aqui citada contribuiu para que eu me tornasse uma adulta com uma visão mais aberta aos mundo, a vida.
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