Quem sou eu? O que faço

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João Pessoa, Paraíba, Brazil
Quem sou? O que faço. Sou Maria de Lourdes, tenho, agora, 62 anos, esposa, mãe e avó, formação jurídica, com pós graduação em Direitos Humanos e Direito Processual Civil, além de um curso não concluído de Filosofia. Conheci os clássicos muito cedo, pois não tinha permissão para brincar na rua. Nosso universo – meu e de meus irmãos – era invadido, diariamente, por mestres da literatura universal, por nossos grandes autores, por contistas da literatura infanto-juvenil, revistas de informação como Seleções e/ou os populares gibis. Todos válidos para alimentar nossa sede de conhecimento. Gosto de conversar, ler, trabalhar, ouvir música, dançar. Adoro rir, ter amigos e amar. No trabalho me realizo à medida que consigo estabelecer a verdade, desconstruir a mentira, fazer valer direitos quando a injustiça parece ser a regra. Tenho a pretensão de informar, conversar, brincar com as palavras e os fatos que possam ser descritos ou comentados sob uma visão diferente. Venham comigo, embarquem nessa viagem que promete ser, a um só tempo, séria e divertida; suave e densa; clássica e atual. Somente me acompanhando você poderá exercer seu direito à críticas. Conto com sua atenção.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

SER IDOSO – PARTE I


 BREVES CONSIDERAÇÕES -

Neste blog já nos referimos a assuntos os mais variados possíveis, entretanto, e sem qualquer intenção, nos descuidamos de um aspecto importantíssimo de nossa sociedade, de nossas vidas. Vimos as crianças, as mães, as flores, situações jurídicas, memes, coisas engraçadas, tristes, vimos muito, mas, não nós debruçamos sobre o envelhecimento, a idade, a velhice; muito embora a única forma de não vivê-la seja, naturalmente, a morte antes de assim sermos considerados. 


Há substancial diferença entre ser idoso no Oriente, no Ocidente e, bem assim nos Continentes e Nações de per si. Em países como a China e o Japão o velho, o ancião, a velhice, é vista e tratada como sinônimo de respeito e sabedoria. É natural envelhecer e como tal, peculiar a todo  ser vivo. Desse modo para o Oriental contemporâneo esta tem sido uma tradição vigente e cogente.  

Assim, entre esses povos ser idoso é um distintivo que impõe respeito e atenção, inclusive, porque a idade possibilita o acúmulo de conhecimentos e de experiência. Mesmo se nos voltarmos  para tempos remotos o ancião sempre foi visto e considerado alguém digno de respeito, confiança, apto a aconselhar e, normalmente, ser o fiel da balança nas decisões.


As famílias orientais, orgulhosamente, testemunham, através dos relatos, os sacrifícios que os seus idosos fizeram para que pudessem evoluir e tornarem-se, os seus descendentes, as pessoas que naquele momento, com seriedade e reverência, o demonstram, plenos de alegria e cientes do tesouro que possuem. O Oriente reverencia Confúcio e Lao Tzu como personagens principais na consolidação do respeito e privilégio concedidos aos idosos até hoje.


Confúcio, o filósofo que viveu na China antiga, supostamente entre os anos de 551 - 479 a.C, ensinava que as famílias deviam obediência e respeito ao idoso. Como exímio conhecedor da alma humana, apregoou ideais de moral e sabedoria, afirmando "a família como a base de toda a vivência e o humano mais velho (masculino), aquele  a quem se devia obediência. Inclusive, que aos 60 anos o ser humano entende a necessidade da meditação, aos setenta, sem violar regras, pode seguir os desejos de seu coração e que sua maior ambição, dele, filósofo, era que os idosos pudessem viver em paz, principalmente com os mais jovens."

Por sua vez Lao Tzu (590 - 470 a.C) , fundador do Taoísmo, coloca: "a vida nada mais é  do que o ser humano que atua espontaneamente e é idêntico ao centro do mundo". O sábio vê a velhice como um período marcante de aquisição, um somatório,  entendendo que ao completar 60 anos de idade, o ser humano chega a ocasião de emancipar-se da matéria, do corpo e,  através do êxtase, vir a ser um santo.
Os japoneses, tradicionalmente, cultuam o respeito e cuidados com os idosos, frutos de uma educação milenar de dignidade e sabedoria. Para o povo Japonês, aos sessenta anos o homem pode vestir vermelho que é a cor dos deuses.

Quanto ao ocidente, o primeiro texto referindo-se à velhice foi escrito no Egito e data do ano de 2.500 a.C. época em que  se glorificava a beleza física e o vigor, sendo esses imortalizados nas artes. 

Ptah-Hotep filósofo e poeta, registrou como a civilização Egípcia se pronunciava sobre a velhice: “quão penoso é o fim do ancião! Vai dia a dia enfraquecendo: a visão baixa, seus ouvidos se tornam surdos o nariz obstrui e nada mais pode cheirar, a boca se torna silenciosa e já não fala. Suas faculdades intelectuais se reduzem sendo impossível recordar o que foi ontem. Doem-lhe todos os ossos. A ocupação a que outrora se entregara só se realiza agora com dificuldade e desaparece o sentido do gosto.”


Assim, desde há muito, para os Ocidentais, em franca maioria, envelhecer está incluído entre as piores coisas que podem acontecer ao ser humano. Desde a Grécia antiga, já se cultuava a beleza, a perfeição do corpo, das formas harmônicas. Por outro lado a alusão a velhice é registrada nos diálogos de Sócrates, na figura de seu discípulo, Platão, que demonstra interesse pelo velho, suas idéias, seus problemas e seu pensamento. Em contrapartida, Aristóteles enxergava na velhice uma doença, natural, onde a senilidade é a degradação e aniquilamento do ser humano.


O IDOSO NO BRASIL –


A Constituição Brasileira, de 1988 já determina: Art. 230, caput,  “A família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida.” 

Ainda  no § 1º estatui:” Os programas de amparo aos idosos serão executados preferencialmente em seus lares.”



A Lei n. 10741, de 1º de outubro de 2003 –Estatuto do Idoso -, publicada no Diário oficial da União, de 3 de outubro de 2003, define em seu artigo 1º. “É instituído o Estatuto do Idoso, destinado a regular os direito assegurados às pessoas com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos."

Essa legislação instrumentaliza a prática de direitos fundamentais próprios da pessoa humana, considerados sob o prisma da idade. Assim temos, em apertada síntese, o Direito a vida, à liberdade, ao respeito e à dignidade, aos alimentos, a Saúde, a Educação, Cultura, Esporte e Lazer, Profissionalização e Trabalho, a Previdência Social, a Assistência Social, a Habitação e Transporte.



Igualmente, ao tratar do Direito à Vida, no Artigo 8º, o Estatuto registra: “O envelhecimento é um direito personalíssimo e a sua proteção um direito social, nos termos desta Lei e da Legislação vigente." Entre nós há um franco crescimento do envelhecimento, demonstrado de forma clara quando se busca, numa visão macro, o enquadramento de nosso País dentro de perspectivas universais atualizadas, da realidade da população idosa.

Hoje, segundo o IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o Brasil tem cerca de 22 milhões de idosos. Destes, 6,5 milhões – aproximadamente – 30% exercem, plenamente, suas atividades laborativas, respondendo, num percentual de 55% pela renda dos domicílios onde se encontram.


A melhoria das condições de vida, o avanço da Medicina, entre outros, têm proporcionado o crescimento da população idosa, de tal forma que, segundo o próprio IBGE, há a inadiável necessidade de adequação da sociedade para permitir ao nacional alcançar a faixa de idosos, com melhor saúde e qualidade de vida, ambas, garantidoras, de uma velhice operacional, laborativa. Outrossim, há a previsão de que em 2020 teremos  a 5ª. população de idosos do mundo.

O assunto idade, trás a reboque incontáveis aspectos que o envolvem. Não há como desconhecer o PRECONCEITO, a escassez de oportunidades, a visão de que a medida em que envelhece o ser humano se torna um peso morto e que a grande maioria desconhece, por completo, os seus direitos. 

Há uma velada indução destinada a mostrar o idoso – ordinariamente o pobre - como uma pessoa destituída de razão e comando que, por tal situação, torna-se alvo de zombarias, crueldades, permanecendo à margem da sociedade.




Contraditoriamente, tem-se a figura dos idosos ricos, esses gozam de respeito e são bem recebidos pela sociedade em geral. Neles vê-se os cidadãos que comandaram e comandam seus destinos, são donos de sua vontade, fazem ginástica, praticam esportes, têm uma boa convivência social,  frequentam as redes sociais, exercem atividades de direção, são vistos pelo comércio como "grandes consumidores em geral", conhecem os seus direito e, rotineiramente, os exercem. 

Como nos demais segmentos constata-se a desigualdade, a ausência de conscientização do capital vital que o idoso, independentemente da condição social, intelectual e financeira, tem ou pode  oferecer aos mais jovens, a nação.


Há muita inquietação e medo relativamente a velhice. São muitas as indagações que vagueiam entre o porquê do envelhecimento? O como fazer para envelhecer sem sentir-se velho? Até quando trabalhar? Quais os direitos do cidadão e do familiar idoso? O que o Estado, a sociedade, efetivamente faz pelo idoso? Como funcionam e se funcionam realmente as políticas pró idosos, os conselhos que foram instituídos a partir da legislação específica? Como se posicionar ante a religião, a diversão, as relações humanas, o ser? 

São questões a serem abordadas num segundo momento e que dizem respeito a mim, a você e aos seus amigos que têm 60 anos ou mais. Essa porém será uma segunda abordagem, acompanhe-nos. 

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