TEXTO RÁPIDO!
Tentei
tudo, busquei concentração, livros, revistas, trabalho, vários canais de televisão, em
nada consegui centralizar meus atos e ações ou mesmo a inércia. Consultei meu
interior, vasculhei no fundo da memória na tentativa de descobrir o que me
incomoda a ponto de impedir o livre curso de meu intelecto. Pois é, parece que
uma luzinha pisca lá no âmago; engraçado, descubro que é algo absolutamente sem
importância.
Admirada
me vejo, ansiosa, pela exibição do último capítulo de Avenida Brasil. O que será
que me consome? São tantas as interrogações e aberrações que encontro
dificuldade na ordenação de possíveis questionamentos. Senão vejamos o que vai
pela cabeça do autor nessa luta entre Nina e Carminha, erroneamente pensadas, elas as antagonistas, como se personificassem o BEM e o MAL.
No
núcleo do lixão, surge, entre tantas, a dúvida sobre a quem recaíra a obrigação de prestar
assistência às crianças, uma vez que Lucinda está presa e Nilo - que era mau e revelou-se vítima - foi morto. Na família
“toupeira” segundo o mais recente bonzinho/vilão/misto de homem e demônio, Santiago,
numa coincidência cretina, o Silas, ex de Monalisa, atual ex/agora mulher de
Tufão, arrasta asas para Ivana, viúva de Max que era amante de Carminha e pai
de seus dois filhos, essa, por sua vez é ex-mulher do jogador. Na prática,
novamente, o cunhado do craque vai ser alguém que já "esteve" com a sua mulher.
Ainda,
nessa mesma família, o patriarca Leleco, "garotão de praia", que traia a segunda
esposa – Tessália - com a primeira, Muricy, que por sua vez trai o segundo marido, Adauto,
com o primeiro, parece perturbado com
fato da desprezada - estar de novo amor
e não demonstrar qualquer problema em se encontrar no mesmo recinto com os
traidores. Inocente trama, a traição
desses casais. Até porque, existem na mente do autor coisas bem mais nocivas nas relações
conturbadas.
E
a esdrúxula história das três patetas amorais, Verônica, Noêmia e Alexia que
adoram ser peças de coleção de um homem estilo bonitinho mas, ordinário ? As ciosas mãezinhas que deixam seus filhos
para trás como se fossem descartáveis, em busca de conforto, Spa, dinheiro, jóias.
E Cadinho? Homem preparado, sem compromisso ético, expert no mercado da propaganda e Marketing que se
torna lavador de carro – sem nenhuma ofensa à profissão – e não ensaia um único
movimento para recuperar seus bens ou seu prestígio ou até mesmo um trabalho
assemelhado ao que o tornara um vencedor? Roubado por um pupilo fica extasiado com a vida de pobreza e preocupa-se, apenas, em manter consigo as três mulheres.
Sobram
vilões e maus exemplos. Lúcio, mistura de garoto propaganda com aprendiz de cafajeste,
enganou a mãe durante muito tempo na trama; se prostituía, aplicava pequenos
golpes até virar o favorito de Carminha. E Valdo? Que era casado com Betânia, ambos
vindos do lixão e aparentemente em busca de uma vida melhor, digna. Repentinamente,
engana sua mulher, rouba e trai a amiga, entregando provas colhidas à vilã chefe,
destruindo não só o casamento mas, o sonho de sua mulher de ter conseguido,
apesar de todos os sofrimentos, escapar à deformação moral muitas vezes
resultantes de vidas em extremos.
Maxwell,
que morreu no melhor estilo suspense, e para não deixar dúvidas foi massacrado.
Foi golpeado com uma coronhada, recebeu golpes de enxada, foi ameaçado com revólver
e de quebra, ainda suscitou nos telespectadores o desejo, intimo e individual, de esganá-lo. Deixou dois filhos criados por Tufão e que se declarada a paternidade carregariam, por toda a vida, o fardo de serem filhos de um parasita, cruel e traidor.
Onde
fica a doente relação de Suelen, Leandro e Roni. O que acontece? Temos uma
mulher e dois maridos? Temos uma mulher um marido e um amante do marido? E o
suposto filho, de quem será? Sim, porque nós não podemos esquecer a passagem da
Maria chuteira pela Gávea. Que tipo de família se pretende com tal imbróglio?
Como responder as perguntas que surgem das crianças a partir dos comentários
das maiores que assistem a novela? Será isso modernidade, atualidade?
Como
aceitar heroínas que mentem, enganam, usam as pessoas sem a menor preocupação
de traí-las miseravelmente e, sem titubear, perseguem uma vingança como se fosse
a única meta de sua existência? Em que figura se enquadra Nina/Rita, ameaçando,
torturando, roubando de forma fria, calculista, ininterruptamente perseguindo a
sua vindita que quase lhe custa o amor de sua vida: Jorginho.
E
Tufão. Antes de qualquer coisa, totalmente surdo, assim como todas as pessoas
de sua casa. Sim, porque os gritos das discussões entre Max e Carminha ou, as
explosões de alegria quando nas farras na suíte do casal, nunca foram ouvidas
por qualquer pessoa. Exceto, Ágata, a pequena sempre escorraçada por sua mãe e
que, numa cena inusitada, ouve uma briga entre sua mãe – Carminha e seu
tio/pai, Max.
Pois
é, o herói Tufão, a mim pareceu terrivelmente caricato. Um homem simples que é
guindado à milionário por seu talento com a bola, torna-se uma figura querida,
respeitada, mas se deixa enganar, desfaz seu casamento com a noiva grávida e
casa-se com a viúva de um homem que matara acidentalmente. Como se fora um
ganho extra, pouco tempo depois é convencido a aceitar um menino que mora no
lixão e por quem se enche de amor paternal e, também, ganha de brinde, um cunhado sanguessuga que fora apresentado à sua irmã pela esposa “devotada”.
São
tão poucas as personagens de quem se possa colher coisas boas que fica no ar
uma gama de perguntas sem respostas. As crianças, os adolescente da novela parecem sem
rumo. Ao sabor da maldade dos adultos. As mulheres, sem exceção, ou se mostram devoradoras de
homens ou tolas, enganadas, embora, algumas, transitem tranquilamente nas duas
faces.
Voltando
aos personagens principais, Carminha, redimida no último capítulo parece que a
qualquer momento vai preparar uma das suas, dar um golpe ou coisa que o valha. Tendo convencido a todos como vilã, não consegue como boa moça. Falta o elemento de convicção, a verdade que tornava Carminha ímpar, má de forma natural espontânea.
Jorginho e Nina, inicialmente grávidos, demonstram ter encontrado o caminho. Tufão e Monalisa aparentam, após três anos, numa mesa de buracos, um desengano, uma postura de amigos acima de tudo. Muricy e Leleco, continuam travando embates e levando a vida entre tapas e beijos. Cadinho, finalmente, com Diógenes - presidente do Divino Futebol Clube - auto-investido de autoridade para tal, conseguiu casar com suas três mulheres. Fechando a novela, o casal número um, Jorginho e Nina, visita Carminha que, uma vez livre da cadeia, passara a morar e sobreviver do lixão e ali, conhece o neto, filho do jovem casal.
Jorginho e Nina, inicialmente grávidos, demonstram ter encontrado o caminho. Tufão e Monalisa aparentam, após três anos, numa mesa de buracos, um desengano, uma postura de amigos acima de tudo. Muricy e Leleco, continuam travando embates e levando a vida entre tapas e beijos. Cadinho, finalmente, com Diógenes - presidente do Divino Futebol Clube - auto-investido de autoridade para tal, conseguiu casar com suas três mulheres. Fechando a novela, o casal número um, Jorginho e Nina, visita Carminha que, uma vez livre da cadeia, passara a morar e sobreviver do lixão e ali, conhece o neto, filho do jovem casal.
Os empregados constituíram um caso a parte. Na casa de Tufão inexiste o politicamente correto. Carminha trata a todos como se estivesse vivenciando o regime da escravidão. As empregadas "Janaína e Zéze", obedecem, correm, se esgotam buscando atender a megera e vingam-se, falando mal da patroa e torcendo para que algo dê errado. Merece destaque, ainda, a performance de Nina/empregada que entra e sai na hora que deseja, influencia o dono da casa, a filha caçula, envolve-se com "o filho" do casal, com o cunhado da dona da casa, torna-se confidente e posteriormente algoz dessa e, afinal, revela-se como se fosse um anjo vingador.
Instiguei de todas as formas os neurônios buscando algo de bomem Avenida Brasil , que
Graças a Deus, termina hoje. Não encontrei na novela uma mensagem que
dignificasse homens e mulheres, ou mesmo respeito aos idosos, as crianças, as
instituições. “Casamento a três, a quatro...”, trocas de casais, mentiras, sequestros, incesto, homicídios violência, vadiagem, ingestão de álcool, drogas, tudo foi detectado no
folhetim. Onde, exatamente, há uma pequena ideia de algo bom? Até mesmo mãe
Lucinda, bondosa em seu íntimo, carregava a mácula do adultério e de um
pseudo-assassinato. Discordo completamente da afirmativa de que essa novela da Globo expressa a realidade da classe média brasileira. Não acredito que sejamos destituídos de senso moral, honestidade e ética numa escala de depravação onde, até o incesto se faz presente.
Instiguei de todas as formas os neurônios buscando algo de bom
No
entanto os altos índices do IBOPE, os picos de audiência mostram que eu devo
estar redondamente enganada. Em todos os lugares em que estive hoje encontrei pessoas
falando sobre o meso tema. Numa reflexão, lembro que a novela é diversão. Mas, a
toda hora, vemos os autores incluírem notas de utilidade pública, situações
contra discriminação, lições preciosas. Então, por que é demais pretender o
saudável? Por que ressoa estranha a hipótese de vidas normais, comportamento sadio,
respeito às leis dos homens e da natureza? A exceção de atos de bondade vinculados às crianças do lixão, bons propósitos, foram raros e equivocadas as caracterizações dos heróis e heroínas.
Resta-nos o alívio de saber que, pelos menos por enquanto, não teremos lições de estelionato, fraudes e tantos outros delitos que envolveram, diariamente, os telespectadores, os artistas, toda a produção. Nesse caso, a emoção, infelizmente andou "pari passu" com a tensão e o horror. Os contrários me perdoem, mas Divino, só o bairro. BOAS, SOMENTE AS INTERPRETAÇÕES MAGISTRAIS QUE TESTEMUNHAMOS.
2 comentários:
Magnífico o seu texto minha tia, mas o final da própria foi TERRIVEL, quem já se viu uma vilã a novela toda e no último capítulo é a melhor pessoa. Literalmente só em novela mesmo!O convencimento de Carminha passou bem longe rsrsrrs...
Parabéns, ótimo texto!
D. Lourdes,
Acho que a senhora fez uma bela crítica. Sabemos que novela é entretenimento, como o futebol, mas temos que reconhecer ou enxergar a mensagem subliminar que vem junto com as excelentes atuações dos personagens e o alto nível da produção. Acho mesmo que se incentiva uma "desconstrução moral" a cada novela como essa...
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