Quem sou eu? O que faço

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João Pessoa, Paraíba, Brazil
Quem sou? O que faço. Sou Maria de Lourdes, tenho, agora, 62 anos, esposa, mãe e avó, formação jurídica, com pós graduação em Direitos Humanos e Direito Processual Civil, além de um curso não concluído de Filosofia. Conheci os clássicos muito cedo, pois não tinha permissão para brincar na rua. Nosso universo – meu e de meus irmãos – era invadido, diariamente, por mestres da literatura universal, por nossos grandes autores, por contistas da literatura infanto-juvenil, revistas de informação como Seleções e/ou os populares gibis. Todos válidos para alimentar nossa sede de conhecimento. Gosto de conversar, ler, trabalhar, ouvir música, dançar. Adoro rir, ter amigos e amar. No trabalho me realizo à medida que consigo estabelecer a verdade, desconstruir a mentira, fazer valer direitos quando a injustiça parece ser a regra. Tenho a pretensão de informar, conversar, brincar com as palavras e os fatos que possam ser descritos ou comentados sob uma visão diferente. Venham comigo, embarquem nessa viagem que promete ser, a um só tempo, séria e divertida; suave e densa; clássica e atual. Somente me acompanhando você poderá exercer seu direito à críticas. Conto com sua atenção.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

PATRIMÔNIO LITERÁRIO

LIVROS  e  REVISTAS.



O meu perfil já registra que “conheci os clássicos muito cedo, pois não tinha permissão para brincar na rua. Nosso universo – meu e de meus irmãos – era invadido, diariamente, por mestres da literatura universal; por nossos grandes autores; por contistas da literatura infanto-juvenil, revistas de conteúdo variado como Seleções, Planeta, Cláudia, Manchete, e/ou os populares cordéis, gibis e almanaques... Todos válidos para alimentar nossa sede de conhecimentos.


Essa ânsia por literatura foi alimentada, durante todo o nosso desenvolvimento, por duas pessoas: a primeira foi a nossa Mãe, professora e defensora da necessidade de capacitação dos filhos para que não se tornassem apenas sobreviventes e sim, pessoas com qualidade de vida. A segunda pessoa foi o nosso Pai. Homem simples, que iniciou sua vida como agricultor, mas que assumiu um compromisso consigo de fazer seus filhos e filhas independentes. Sempre a nos dizer que as filhas necessitavam, mais que os homens, tornarem-se autossuficientes.  Dessa forma não se  sentiriam, jamais, obrigadas a permanecer num casamento infeliz. O amor, o zelo deles em relação a nós não conheceu limites.


Nesse maravilhoso caminho entre os livros, iniciamos muito cedo o contato com os clássicos. Havia, em nossa casa, uma coleção de 40 (quarenta) volumes, com encadernação imitando couro, e gravação com letras douradas, chamada “Clássicos Jackson”, lendo-a conheci: Tolstoi com Anna Karenina e Guerra e Paz; Dostoiévski com Os irmãos Karamazov e Crime e Castigo;  Steinbeck com Vinhas da Ira;  D H. Lawrence com O Amante de Lady Chatterly; Balzac com A mulher de Trinta;  Émile Zola com Germinal;  Victor Hugo com  Os Miseráveis; Flauber com Madame Bovary; também,  As Catilináriasdiscursos de Cícero, feitos no Senado Romano para denunciar Catilina e que era rotineiramente  emprestado, principalmente a políticos de nossa cidade. Havia ainda muitos outros autores universais completando a coleção e que também foram lidos por nós.


Tínhamos a nosso dispor uma Coleção de Érico Veríssimo que nos fazia sonhar com as tramas de romances como “Olhai os Lírios do Campo; O Continente;  Saga; O tempo e o Vento; Um lugar ao Sol; Incidente em Antares. Nesse universo lembranças recorrentes como o Capitão Rodrigo que tomou vida própria saindo do “Continente” e povoando a imaginação de muitos leitores; do mesmo modo, Ana Terra que dá origem a família Terra e integra o primeiro volume da triologia “o Tempo e o Vento”. Com o escritor Gaúcho saíamos de nossa pacata cidade do interior para vivermos maravilhosas aventuras nos Pampas.


Do sul voltamos para o Nordeste. Jorge Amado era o nosso preferido. Coleção completa. Desde o País do Carnaval - primeiro romance -,  até Tereza Batista Cansada de Guerra. Para nós as aventura de meninos e meninas livres como retratados em Capitães da Areia ou mesmo, o romance de Gumercindo – Guma e Lívia -, em Mar Morto; ou, ainda, a pimenta de Dona Flor e Seus Dois Maridos, com direito a mais condimento, em Gabriela Cravo e Canela, abriu um porta para novos conhecimento sobre uma cultura desconhecida - a baiana. 



O mundo de Jorge Amado, a linguagem picante, as religiões Afro, os costumes diferentes  e  ali desvendados, aguçavam a natural curiosidade que todo adolescente tem a respeito de sexo e vida adulta. A mistura de personalidades boêmias, carolas, mães de santos, capoeiras, coronéis, prostitutas e bordéis, era algo a ser visitado na obra do escritor e, comentado baixinho, em sussurros.  Há, entretanto, uma doce ressalva a ser feita nessa linha focada pelo autor: “O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá”, livro infantil, escrito em 1948, numa homenagem do escritor ao seu filho mais velho, João Jorge nascido naquele ano. Foi publicado em 1952.


Desfrutávamos, também, da companhia de Zé Lins do Rego com O Menino de engenho, Doidinho, Bangüê, Usina, Pureza, Riacho Doce, Fogo Morto, Eurídice, Cangaceiros. Representando uma literatura regional, o escritor, Flamenguista convicto, criou tipos fantásticos como “Carlinhos”, o Coronel José Paulino, o Moleque Ricardo, o Tio Carlos, Capitão Vitorino – o papa rabo, o Coronel Lula de Holanda, o Mestre José Amaro, entre outras. Conhecer o universo dos engenhos, as brincadeiras, a liberdade e a exacerbada sexualidade dos garotos, oferecia a oportunidade de uma viagem a um “mundo” muito perto e ao mesmo tempo inatingível. Com certeza, todos os meninos que leram algum desses livros sonharam ter, pelo menos um dia de Carlinhos.


E a literatura infantil? Ah, essa tinha legítimos representantes. A nossa leitura nessa fatia literária contou com Contos de Andersen, em destaque: O Patinho Feio, O Soldadinho de Chumbo, A Pequena Sereia, A Roupa Nova do Rei. Também tínhamos a Coleção dos Irmãos Grimm com as histórias de Branca de Neve, Cinderela, João e Maria, O Flautista de Hamelin, Rapunzel, Chapeuzinho Vermelho, A Bela Adormecida e outras. E como obras soltas Robin Hood, Robson Crusoé, A caça ao Tesouro, Alice no País das Maravilhas e As Viagens de Gulliver,  com os maravilhosos anões liliputianos.



Ainda tem um lugar especial em minha memória a Coleção Mundo da Criança  - lançada pela Editora Delta, na década de cinquenta, com 15 (quinze) volumes.  Nessa destaco o volume de nº 3, com história maravilhosas como Pedro e o Lobo,  João e o Pé de Feijão, A Princesa e a Ervilha...o volume de nº 2 (dois) trazia, em forma de poesia, relatos tão fantasiosos quanto bonitos onde O Salteador das Estrada, A Princesa Menina (Doliti Diliti Dina),  O Roxinol e o Imperador e, Taturana - a bruxa rainha da festa, arrancaram suspiros e emoções.


Entre os brasileiros que também escreveram para o público infanto-juvenil,  Mestre Monteiro Lobato com seu Sítio do Pica Pau Amarelo, Reinações de Narizinho, Aventuras, Histórias de Tia "Nastacia" , entre outras, fizeram melhores os nossos dias e mais ricas a nossa imaginação. Alguns personagens criados por Lobato  atravessaram gerações como é o caso de Emília, Pedrinho, Narizinho, o Visconde de Sabugosa, a Cuca, Dona Benta e Tia "Nastacia" e o sempre presente Saci Pererê. Era aventura com direito a sonhar acordada.


Não seria justo, deixar da atribuir crédito às revistas. A minha primeira lembrança vai para Seleções do Reader’s Digest que tinha um formato menor que as revistas atuais, primava pela excelência dos artigos, buscava personalidades marcantes, a diversidade nas matérias e a inclusão do humor, o que a tornava ímpar. Por toda a adolescência e faculdade pudemos contar com esse auxílio qualitativo à nossa formação enquanto leitores. 


Também, convivemos desde cedo com as Revistas  Manchete – criada por Adolpho Bloch da  Bloch Editores e, O Cruzeiro, fundada por Carlos Malheiros Dias e publicada pelos Diários Associados de Assis Chateaubriand (Fonte – Wikipédia –a enciclopédia livre), nessa revista, esperava-se, sempre pelo   impagável “amigo da Onça”, numa imortal criação do Pernambucano Péricles, cuja sátira, inteligentemente conduzida, tornou-o um dos mais conhecidos cartunistas brasileiro. A Revista foi, sem dúvida nenhuma e por muito tempo a mais importante publicação brasileira do gênero. 


Lembro, também da Revista Planeta, mais ou menos nos idos de 1973 e que se propunha a fazer algo diferente. Tratar de assuntos como parapsicologia, ufologia, esoterismo, meio ambiente entre outros, tornando-se, por isso mesmo, motivo de muita controvérsia. Uma dessas situações eclodiu com a reportagem publicada na Revista Planeta, número 138-C, em março de 84, reeditando uma acirrada discussão entre defensores de uma pseudo aparição de um disco voador sobrevoando a pedra da Gávea e aqueles para quem a aparição era apenas fraude. Com toda a certeza a polêmica aumentou a tiragem da revista e atiçou os leitores.


E os Gibis? Em múltiplas publicações, davam vida e movimento a heróis  para todos os leitores do gênero. Assim, líamos os de faroeste com Kit Carson; Bill Kid; Tex; O Zorro - aquele co Silver e o índio Tonto; Durango Kid;  Wyahtt Earp;  Cheyenne; Nevada; Buck Jones. Gostávamos, também, dos chamados heróis das selvas como Tarzan - com Jane , Boy e shita;  O Fantasma que Anda, com Diana, Capeto, Heroi e os pigmeus; Jim das Selvas; Sheena a Rainha das Selvas; Ninotckhka a Rainha das Selvas, vivida no cinema por Greta Garbo. Entre os herois, aqueles de capa e espada como o Zorro de Don Diego de La Vega, o Príncipe Valente. Os heróis moradores de grandes cidades como  Mandrake e sua noiva a Princesa Narda e o inseparável  guarda costas, Lothar.  O Super homem, extra terrestre constantemente em conflito por não poder se revelar a sua amada Louis lane .


Uma turma de garotos também encantou aos de nossa época. Falo da Turma da Luluzinha e da Revista do Bolinha. Com a interminável ciumeira que Lulu sentia de Glória, na disputa por Bolinha. Plínio Raposo, era o rival de Bolinha no amor de Glória e sempre armava ciladas para mostrá-lo como "atrapalhado", tudo no meio das aventuras de Juca, Aninha, Carequinha e os adultos que faziam os pais e vizinhos dos meninos.  As publicações brasileiras da Disney, através da Editora Abril eram excelentes e uma constante, assim leituras de revistas do Pato Donald, Zé Carioca, Mickey, Tio Patinhas e, mais recentemente, sem nada dever as "estrangeiras", as nacionais criadas e produzidas por Maurício de Sousa, com os quadrinhos da Turma da Mônica, Chico Bento, Cebolinha e outros.


Não podemos esquecer o mais fiel representante literário do Nordeste . Não de suas capitais, onde convivem em perfeita harmonia livros menos cobiçados  e publicações intelectuais destinadas a um público sofisticado, elitizado. Refiro-me aos cordéis, de que tomamos conhecimento através de nosso tio Luís, afeito as coisas da zona rural e que, ele mesmo, parecia, por sua simplicidade e gestos rudes, uma pessoa saída de um daqueles folhetos. Uma literatura que utiliza linguagem simples e histórias aparentemente singelas. Sem o formato utilizados por editoras o cordel passa de geração a geração  personagens "modelos de experiência", para orientá-los , aparentemente sem nenhum roteiro previamente definido.



Quase sempre tendendo a fantasia por fantasia, o cordel não tem outro compromisso senão estabelecer uma forma de comunicação que preserve valores ligados à comunidade. Inclusive, não subestima  clichês que funcionam até mesmo sem que seus autores tenham consciência de tal fato. Alguns ultrapassaram as barreiras nordestinas, como o Romance do Pavão Misterioso; Pedro Malazarte; João Grilo; A Chegada de Lampião no inferno; A história de Lampião e o Cordel Encantado - inspirado na Pedra do Reino, do Grande Paraibano Ariano Suassuna.


Inclusive, para não cometer injustiças, alguns romances ditos de inspiração espírita como  O Morro dos Ventos Uivantes, o Conde de Monte Cristo, Sangue de Tigre, A Caravana Verde,  Éramos Seis e outros, nos fascinava e dava medo. A curiosidade sempre vencia, embora lado a lado com o desconhecido e a insônia resultante.



Não fosse cansar a paciência de meus “quase... cinco leitores”, falaria, da Coleção das Moças, romances, comprados para o deleite de minha mãe e lidos ás escondidas, com personagens lindas e cuja escritora ou escritor M. Dely era a mais lida.  Os livros de bolso, coleções que encantaram as moças entre as décadas de setenta e oitenta, como Sabrina, Barbara Cartland,  Corin Tellado,  Carlos Santander, Bianca, Júlia e outras,  continham um forte apelo erótico e descrições que incentivavam a imaginação, mas esta é outra fase quando já começávamos a ver o mundo como ele é. Quem sabe, num outro momento... Antes porém deixo meu testemunho de que cada uma das formas de literatura aqui citada contribuiu para que eu me tornasse uma adulta com uma visão mais aberta aos mundo, a vida. 

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