Quem sou eu? O que faço

Minha foto
João Pessoa, Paraíba, Brazil
Quem sou? O que faço. Sou Maria de Lourdes, tenho, agora, 62 anos, esposa, mãe e avó, formação jurídica, com pós graduação em Direitos Humanos e Direito Processual Civil, além de um curso não concluído de Filosofia. Conheci os clássicos muito cedo, pois não tinha permissão para brincar na rua. Nosso universo – meu e de meus irmãos – era invadido, diariamente, por mestres da literatura universal, por nossos grandes autores, por contistas da literatura infanto-juvenil, revistas de informação como Seleções e/ou os populares gibis. Todos válidos para alimentar nossa sede de conhecimento. Gosto de conversar, ler, trabalhar, ouvir música, dançar. Adoro rir, ter amigos e amar. No trabalho me realizo à medida que consigo estabelecer a verdade, desconstruir a mentira, fazer valer direitos quando a injustiça parece ser a regra. Tenho a pretensão de informar, conversar, brincar com as palavras e os fatos que possam ser descritos ou comentados sob uma visão diferente. Venham comigo, embarquem nessa viagem que promete ser, a um só tempo, séria e divertida; suave e densa; clássica e atual. Somente me acompanhando você poderá exercer seu direito à críticas. Conto com sua atenção.

terça-feira, 8 de maio de 2012

EDUCAÇÃO - FATOR DE DESENVOLVIMENTO HUMANO PARTE III



CRÍTICA À UTOPIA?

A Educação é, e sempre será, uma ferramenta a serviço da humanidade com a missão precípua de elevar a qualidade de vida das pessoas, dos países de um modo geral. Já foi dito que é um acelerador, por excelência, para a qualificação indispensável à nossa realidade. Inclusive, podemos afirmar com segurança, que é dificílimo para um povo preservar-se e ser competitivo com uma educação deficitária.


 Aliada à idéia da educação temos a tão sonhada “perfeição”. Desde os primórdios da humanidade que as civilizações buscam um ideal de excelência, uma utópica situação que permita ao originário daquela localidade a invejável posição de ser o melhor entre os melhores. 

Desse modo observamos que ainda que haja ética, nobreza de propósitos, a busca de um bem comum, vamos sempre detectar um sentimento que leva as civilizações, as sociedades e, aos indivíduos de per si, a procura de características que façam a diferença, que os distinga dos demais e, invariavelmente, para melhor.

Desde o Brasil Colônia até os dias atuais, muito se fala em educação no exterior. Os cidadãos de classe alta por muito tempo enviaram, rotineiramente, os seus filhos, paras as melhores escolas fora do Brasil. Tal situação era, marcantemente referente ao ensino superior. Assim, o sonho do brasileiro, rico, era ter seu filho, sua filha, cursando uma universidade famosa como Coimbra, Lisboa,  Harvard, Nancy, Oxford, Sorbonne, MIT, Yale, Cambridge, Amsterdã, Edimburgo, Helsinque e outras. 

Entretanto, considerando-se que o ensino Superior, também chamado terciário, cuja finalização confere ao aluno grau acadêmico e/ou diplomas profissionais; além das chamadas Pós-graduações, com Especializações, Mestrados, Doutorados, são inatingíveis sem a educação de base, hoje, ensino fundamental e médio, reitera-se a realidade que se teimava ignorar: a necessidade interna de boas Escolas, notadamente na base e com especial atenção para a Escola Pública.

Não satisfazia mais a população consciente a falácia de que o Brasil era o País da igualdade. Não mais atendia os anseios da população a mesmice de que pobre tem que estudar em escola de má qualidade...pública. Igualmente, não bastava a educadores como Paulo Freire a nossa escola onde: o modelo tradicional de prática pedagógica de “educação bancária”, que visava à mera transmissão passiva de conteúdos do professor, ator absoluto assumido como aquele que supostamente tudo sabe, para o aluno, que era assumido como aquele que nada sabe.” 
 

 Portanto, ao aluno recaia o ônus de arquivar e reiterar o que fora expresso pelo professor.  Entretanto, para Paulo Freire, essa situação configurava-se como arrogante e determinante no sentido de que havia apenas a preocupação  de que o aluno teria ou não “decorado” o que fora dado em sala de aula e, também, a avaliação da aprendizagem fiscalizava, por assim dizer, se a transmissão fora apreendida conforme expusera o professor, de forma a vincular e limitar o alunado.

Desse modo, a concepção de educação libertadora, produziu pérolas conforme se transcreve: “Gosto de ser gente porque a História em que me faço com os outros e de cuja feitura tomo parte é um tempo de possibilidades e não de determinismos.” Paulo Freire. Pedagogia da autonomia, 1997.


 Paulo Freire sonhou e o fez, de forma a conferir dignidade. Reais oportunidades aos alunos, bem como aos professores e demais profissionais da área que, verdadeiramente, preocupavam-se com o quadro da educação nacional. 
 
Assim, em recente artigo na Revista Veja foi veiculado que “A utopia sufoca a educação de qualidade”. O autor da afirmação ressalta que a pretensão é formar cidadão consciente e tolerante e que há responsabilização da escola por sua formação e, inclusão de conteúdos como meio ambiente, saúde, cotas raciais e necessidades especiais. Chegando a uma conclusão de que uma “agenda maximalista seria uma maneira de sanar desigualdades e corrigir injustiças.”   

Aduz, inclusive, o autor do artigo que: “Um dos males que assolam nossa educação é a esperança vã de pensadores e legisladores de que uma escola que mal consegue ensinar o básico, resolva todos os problemas sociais e éticos do país. ”Em seguida e após algumas considerações extrai três perguntas com as quais instrui a sua visão, questionando o seguinte: 1. nossas escolas conseguem dar conta desse recado? 2. esse desejo expansionista faz bem ou mal ao nosso sistema educacional? 3. mesmo que todas essas nobres intenções fossem exequíveis, sua execução cumpriria as aspirações de seus mentores, construindo um país menos desigual? Na esteira dessa idéia é que se esboça o que seria uma análise, uma reflexão personalíssima ante uma atitude critica.

Assim, não obstante a verve afiada e por vezes carregada de uma lógica construída a partir de premissas direcionadas para esse resultado, nos resta trabalhar a questão inicialmente posta: A UTOPIA.

Sonhar o que é absolutamente possível, não é sonho. Utopia, sonho, fantasia, tem como essência a qualidade de inatingível. Todavia a educação “ utópica” de Paulo Freire nada tem a ver com a quimera, o monstro com cabeça de leão, corpo de cabra e cauda de dragão. O desejo de fazer e ver a interação entre aluno e professor; realidade e didática; qualidade e público; educação > política  > transformação; sugere libertação de toda e qualquer forma de opressão.

Possibilitar a entrada da luz, onde reinam as trevas é oferecer um mundo novo. Asseverar que alunos da escola pública não necessitam de disciplinas como música, sociologia e filosofia, sob o argumento de que para cada hora dedicada a tais matérias resultaria na perda daquele precioso tempo para o ensino de disciplinas  basilares – leia-se, “necessárias ao aluno pobre”, como português, matemática e ciências é marchar na direção contrária à realidade dos dias atuais.


 As indagações ofertadas no texto referido, têm, naturalmente, naquele contexto, respostas que embasam seu ponto de vista. A idéia de que a nossa escola não dá conta do recado, não pode transformar o aluno pobre em um cidadão consciente é verdadeira, da mesma forma que o é a certeza de que a escola privada também não consegue.

Por outro lado é também impensável que diante de um mundo tão aberto haja relutância a transmissão de conhecimentos sobre saúde – incluindo-se, nesse aspecto noções de higiene, informações sobre sexo, gravidez prematura e outros -; igualmente causa estranheza a ojeriza a discussão de cotas raciais ou o convívio com alunos de necessidades especiais. Tais assuntos são discutidos diuturnamente haja vista a inclusão dessas situações nos mais variados meios de comunicação, seja na televisão (em novelas), nos jornais diários ou não, em publicações acadêmicas e outros. Trazer tais assuntos para a sala de aula é inserir o aluno na contemporaneidade.

Isoladamente, nenhum sistema de ensino poderá ser o único agente a burilar consciências mas e, com toda a certeza, é um caminho a nos lembrar o que é a sociedade  e dar a entender a necessidade de transformação. É evidente que a escola tem que caminhar “pari passo” com a família, com a coletividade. Excluir conhecimento não é garantia de que os que lhes são permitidos venham, efetivamente, a ser absorvidos pelo alunado. 


 Na opção de exclusão proposta, a única certeza é de que mais uma vez se nega ao aluno pobre a oportunidade de conhecimento. Se a escola vai dar conta e garantir o resultado desejado, é possível que não. Mas a perspectiva é de que em conjunto com outros fatores, as informações trazidas com disciplinas diversas das aludidas pelo signatário do texto observado, possam, realmente introduzir novos conhecimentos.

Quanto a segunda indagação, o chamado desejo expansionista, certamente fará a diferença, tanto para o bem como para o mal. Expandir sem as ferramentas adequadas poderá sim causar o enfraquecimento do sistema. Dotar a educação do necessário a sua realização plena é decisão de governo, políticas públicas voltadas para esse fim e efetivamente executadas. A intenção e a realidade não têm que ser dissociadas, ao contrário urge que caminhem num mesmo sentido. 

Não é a questão legal que se revela mais ou menos importante ao cenário educacional e sim a vontade política de por em prática aquilo que realmente atende às necessidades. A legalidade tem que estimular e proporcionar os meios para uma educação de qualidade, o contrário disso ressoa perverso para todos. Não é, também, papel do educador público decidir “se vai formar um cidadão virtuoso ou um aluno de raciocínio rápido” ou mesmo “se o aluno é analfabeto mas solidário”. Uma situação não exclui a outra. 


O profissional seja de qual área for , necessita adequar o tempo que lhe é dado à meta estabelecida previamente. Muito embora cada vez mais se configure, no cenário nacional, que a deficiência na educação, na saúde, na segurança e em tantos outros aspectos administrativos resultam da ausência de políticas públicas que efetivamente expressem a necessidade geral. 

O que se vê é que a indiferença, quanto aos destinatários das medidas públicas,  acompanha a regra cruel estabelecida de um desenvolvimento  dispare seja no tempo e no espaço, na diversidade do atendimento a ricos e pobres, na burocracia que não promove o desenvolvimento perseguido.

A idéia não é desempenhar parte do programado e sim buscar alternativas para cumpri-lo integralmente.  Com toda a certeza os intelectos constantemente de plantão para criticar podem oferecer alternativas que não sejam, necessariamente, cortar conteúdos, conhecimentos.


Finalmente a terceira indagação questiona se o atendimento das nobres intenções curriculares atenderia às aspirações de seus mentores e construiria um país menos desigual. E por que não? Quem escreveu um testamento deixando para os ricos a herança da intelectualidade e para os pobres a condenação à mesmice? A escola pública precisa ter qualidade exatamente para eliminar diferenças. 

Se os alunos ricos já trazem de casa competências intelectuais que serão repassadas aos alunos pobres através da escola não será certamente a adição dessas disciplinas que retardará a aprendizagem desses últimos. Não é o currículo o vilão da história. 

O “deus mercado”, competitivo e impessoal, apesar de ter apontada  a remuneração pela produtividade, ainda não tem nesta forma   uma unanimidade. Até mesmo não há um consenso meritório. As oportunidades combinam inúmeros fatores. Invariavelmente a necessidade da empresa, a mobilidade do interessado, a disponibilidade e aceitação as regras compõem o geral. 

Para alguns além do já citado exige-se: beleza, desenvoltura, capacidade de liderança, competitividade entre outros. Onde a especificidade dita a regra um bom currículo faz a diferença. Para a massa o que se vê, infelizmente é tão somente o interesse patronal.

É provável que ao empregador não interesse que o candidato a empregado tenha, em algum momento, recebido aulas de filosofia, música e sociologia.  Faz parte de uma cultura enraizada e que serve como uma luva a escola recusada por Paulo Freire, a idéia de que operário não pode e não deve pensar. A questão e deficiência da escola pública, hoje, não estão adstritas à grade curricular, é histórica e sua correção não será obtida com uma simples exclusão de disciplinas.

“Se a educação sozinha não pode transformar a sociedade, tampouco sem ela a sociedade muda.” Paulo Freire.


Não acredito que os brasileiros prefiram uma escola que ensine a fazer pagode (música) a uma que fracasse ao ensinar tabuada. Ao contrário, insisto, que estudar música, filosofia, sociologia, não exclui estudar matemática. Também discordo da venda de paraísos terrestre em função de “abissal” desconhecimento da maioria da população. O despreparo de que fala a matéria, jamais seria em função das mudanças operadas na grade curricular. Mais uma vez estamos diante de um problema crucial e recorrente. Falta de vontade política em patrocinar políticas públicas de qualidade voltadas à Educação. 



Discordo, inclusive que a utopia de uma educação com qualidade, como todas as outras acabe em decepção, atraso. Há 25 anos, o grupo "Nós do Morro," no Vidigal, vive momento de intensa produção cultural e artística – um sonho que deu certo; A Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida – de Hebert de Souza, o Betinho; o sonho do homem voar; o sonho da cura de doenças; o sonho de liberdade de ex-colônias; o sonho de plebéias que tornaram-se princesas; o sonho de “caipiras” que viraram estrelas; o sonho e um mundo melhor, mais justo, mais fraterno. Sonhar é preciso. Inclusive com educação de qualidade. 



 Todavia, concordo plenamente com o texto quando registra: “ A escola não pode fracassar, pois é a alavanca de salvação do Brasil.” Peço apenas permissão para estender: A escola é a catarse capaz de eliminar séculos de trevas. Ignorância. 

"Os sonhos devem ser ditos para começar a se realizarem. E como todo projeto, precisam de uma estratégia para serem alcançados. O adiamento destes sonhos desaparecerá com o primeiro movimento."(Paulo Freire)


2 comentários:

TANIA MARA disse...

É Maria de Lurdes. Não é atoa que cada vez mais, a mão de obra verdadeiramente qualificada e eficiênte esteja em falta.
Ainda esta semana tive a infelicidade de precisar de profissionais da área de saúde pública e me deparei com pessoas mal instruídas (pra não dizer mal educadas) e totalmente despreparadas para tratarem com seres humanos.
E a culpa disso é a péssima maneira que esses "profissionais" foram treinados, se é que receberam algum treinamento.
Hoje em dia, muitos não tem o sonho da profissão, mas sim o valor salariál que ela prodúz.Isto, aliádo à uma politicagem mesquinha e pobre em cultura, torna "porta de fundos" entrada garantida.E quem paga o pato somos nós.

Bjos querida. Não sei se vc é mãe ou não mas de qualquer forma te desejo um felíz dia das mães
Abraços

Maria de Lourdes disse...

Tânia,

Vocẽ, como sempre, muito coerente e politizada. Fico feliz em saber que existem pessoas que refletem diante de um quadro que lhe é negativo e fazem a leitura correta das coisas. Com tod a certeza quem lhe atendeu é despreperado e isso implica numa série de acontecimentos que, invariavelmente desaguam numa educação deficiente, na ausência de bons curso. Acho que todo profissional teria que passar por qualificações rotineiras e entre essas um bom aprnedizado na área de relações humanas no trabalho. Obrigada por seu comentário.
Sou mãe e acho que a maternidade me faz uma pessoa melhor. Um grande abraço e se vocẽ não viu a postagem do Dia das Mães, Deus lhe abençõe.
Maria de Lourdes