O QUE DIZER SOBRE LUZIA
Ter veia poética, produzir rimas que avivam a sensibilidade dos enamorados. Dar letra e melodia a vida, a paixão, a dor, ao amor, em magistrais canções, como fizeram e fazem os grandes compositores. Tirar do coração a magia que eterniza sentimentos. Cantar a vida de forma harmoniosa. Dons que diferenciam pessoas. Não tenho nenhum desses. Talvez, a opção da prosa descompromissada. Sim, bem ou mal, sempre gostei de falar, escrever, sobre
pessoas e fatos, sejam atuais ou passados, brincar com eles, entremeá-los de
forma a criar uma linha do tempo contextualizando, estabelecendo um foco. Mas, em segundos, fugir sem escrúpulos,*Imagem: canaltech.com.br.
Hoje, no entanto, busco lá no
fundo do baú o mês de fevereiro. Não o presente, mas aquele que somado ao ocorrido no dia 03 de novembro de 1980, tornou-se símbolo de realização da mulher que habita o meu corpo. Corria o ano de 1982, morava em Brasília e
tinha vindo a João Pessoa para festejos. Os de todos nós, Natal e Ano Novo e
um em particular. Seria mãe pela segunda vez. A maternidade se avizinhava ante a proximidade do nascimento de minha filha, cujo sexo a tecnologia já me
revelara. Esse é o foco: a chegada de Luzia. *Imagem: blogs.diariodonordeste.com.br
Tudo começou quando, cheia de planos e querendo
aproveitar o máximo a permanência entre familiares, absolutamente serena,
embora em avançada gravidez, resolvi passear no sertão paraibano, não perderia
aquela chance. Logo, logo voltaria ao planalto central. Fui cheia de graça e alegria, levando pela mão
Fred, meu filho mais velho de apenas 2 (dois) anos e 2 (dois) meses. Me sentia leve, disposta, apesar de estar grávida de oito meses. *Imagem.www.fotosearch.com.br.
A viagem, confortável, com
meu cunhado e minha irmã, numa “Caravan” marrom, que voava na estrada, transcorreu
na mais perfeita tranquilidade. Bom, a estrada, sem as benesses da duplicação,
nos obrigava a percorrer os quilômetros entre a Capital e a cidade de Santa
Luzia em, aproximadamente, 4 h a 4 h 30 min.
Fui rindo das brincadeiras de Fernando,
do espanto de Fred com os animais que pastavam e, perdoe-me, da seriedade de
minha irmã. Que entre um mistério e outro de seu terço cuidadosamente rezado, tecia algum
comentário*Imagem:carrosnaweb.com.br.
Chegamos a Santa Luzia. A primeira
cidade do sertão da Paraíba e que, naquele período, já enfrentava o segundo ano
de seca. Estranhamente, para mim que me acostumara ao calor do asfalto e a
aridez do clima do Distrito Federal, senti um pouco de frio. Instintivamente
agasalhei Fred que teimava, teimava, teimava, em não querer vestir o casaco.
Ora, mãe tem o hábito de “não errar”. Se a mãe sente frio, na lógica materna, o filho devia sentir. Kkkkkkkkk.
Pobre criança.* Imagem:pt.clipart.me
Uma vez no sertão Fred soltou-se,
literalmente. Corria, caía, levantava, corria e caía novamente. Rindo. Tudo na
maior alegria. No dia seguinte fomos à querida “Malhada do Umbuzeiro”, localizada no Junco do Seridó e, naquela época,
pertencente a Seu João Bernardino e Dona Neném, adoráveis velhinhos, pais de Fernando. Ali a
felicidade foi geral. Adorava a fazenda, os costumes e as pessoas. Além disso o meu estado parecia motivar mais sorrisos, mais atenção de todos.*Itunes.apple.com.
O dia, naquele recanto de
paz e beleza transcorreu diferente de tantos que eu passara lá. Todos muito
solícitos, amáveis e cuidadosos comigo, especialmente os irmão mais velhos
de meu cunhado, Antônio Bernardo e Maria Geni, ambos se esmeraram em gentilezas. Gostava de conversar com eles, a forma como se referiam a família, a terra que tanto amavam. Sentia-me em casa. Experimentava a sensação de ser querida naquele lar. *Imagem: revistadominios.com.br.
Usufrui de cada minuto daquela família hospitaleira. Como se não bastasse, fechando com
chave de ouro a visita, fui servida com um lanche dos deuses: num prato fundo,
cheio de queijo quente, coberto com rapadura ralada, formava-se um mel de
engenho que se infiltrava no queijo. Fred, no meu colo, sorvia pequenas porções
e sorria com o gosto doce daquela merenda. Até hoje encho minha boca de água,
só com a lembrança daquela comida tão simples quanto gostosa. Era dia 10 de fevereiro,
uma quarta feira. À noite me senti estranha. Claro, coloquei a culpa na gula.
Quem mandou comer tanto? * Imagem:amarantes-vinho.com.br.
À medida que as horas iam passando a estranheza ia
aumentando. Ledo engano, a comida em nada contribuíra para meu desconforto. O
dia 11 de fevereiro de 1982, amanheceu com o céu claro, de um azul anil límpido. As nuvens, branquinhas tal qual flocos de algodão, criavam figuras curiosas. O céu que, à noite, fora de Brigadeiro, logo cedo, tornara-se uma festa aos nossos olhos com a presença do rei sol, absoluto em sua majestade, a todos subjugando com a sua luz.
Pelas 9 horas não havia
mais dúvidas: Luzia estava a caminho e Fred chorava, queria o braço de sua mãe
que estava esquisita e ainda não o colocara em seu colo. Aí começa outro drama.
É eu estava no Sertão. Na casa de Fernando e Paula, meu cunhado, Médico, cirurgião. Havia a real
possibilidade dele fazer meu parto .... *Imagem:ru.dreamstime.com.
Uma coisa falou alto
dentro de mim. Meu irmão, também Médico Cirurgião estava mais próximo de nós
que a capital. Resolvi investir nesse raio luminoso e lá fomos nós para a
cidade de Piancó. A bolsa estourou e não havia contrações, tampouco dilatação. O Hospital da cidade, de nome Venceslau Lopes estava em
reforma. Havia barulho de obras, pessoas apressadas, corre corre. Era imprescindível operar e assim tudo aconteceu. *Imagem:fotosearch.com.br
A calma, entretanto, deu lugar
à apreensão quando a recém-nascida recusou alimentar-se. Lembro como se vivesse
o momento. Minha irmã, Paula, que nos acompanhara, já se preparava para viajar a
João Pessoa trazendo consigo minha filha. Fechei os olhos e pedi em silêncio, o
tempo pareceu congelar e mais uma vez tentei amamentá-la, como num sonho senti
que sugava o colostro, engoli em seco e novamente agradeci. Foram muitas as peripécias que cercaram o milagre da vida que se iniciava.* Imagem:mamifran.blogspot.com.
Minha filha, hoje adulta,
consciente, uma mulher admirável, uma profissional competente. Conseguiu o que
poucos conseguem: o respeito e a admiração até mesmo daqueles que discordam de
suas posições. Eu poderia passar a noite falando sobre ela. Entretanto, me
basta declarar meu amor, a minha admiração e respeito, agradecer a Deus pela
dádiva de sua existência em minha vida. Obrigada por, juntamente com seu irmão realizar o meu maior sonho, completar a minha vida. Obrigada por tudo!
2 comentários:
Lindo e emocionante! Família em cada frase...amor.
Gabi
Maravilhoso tia!!! Como sempre suas palavras eivadas de emoção e amor filial!!!
Muitas lembranças vieram à minha mente, me emocionei do começo ao fim. Te amo!!! Nanda
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