Quem sou eu? O que faço

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João Pessoa, Paraíba, Brazil
Quem sou? O que faço. Sou Maria de Lourdes, tenho, agora, 62 anos, esposa, mãe e avó, formação jurídica, com pós graduação em Direitos Humanos e Direito Processual Civil, além de um curso não concluído de Filosofia. Conheci os clássicos muito cedo, pois não tinha permissão para brincar na rua. Nosso universo – meu e de meus irmãos – era invadido, diariamente, por mestres da literatura universal, por nossos grandes autores, por contistas da literatura infanto-juvenil, revistas de informação como Seleções e/ou os populares gibis. Todos válidos para alimentar nossa sede de conhecimento. Gosto de conversar, ler, trabalhar, ouvir música, dançar. Adoro rir, ter amigos e amar. No trabalho me realizo à medida que consigo estabelecer a verdade, desconstruir a mentira, fazer valer direitos quando a injustiça parece ser a regra. Tenho a pretensão de informar, conversar, brincar com as palavras e os fatos que possam ser descritos ou comentados sob uma visão diferente. Venham comigo, embarquem nessa viagem que promete ser, a um só tempo, séria e divertida; suave e densa; clássica e atual. Somente me acompanhando você poderá exercer seu direito à críticas. Conto com sua atenção.

quinta-feira, 19 de março de 2015

ALEXANDRE NERO O ATOR

A ROUPA PRETA DO COMENDADOR

A televisão brasileira tem se destacado no exterior por seu jornalismo, empreendedorismo, autonomia de expressão,  capacidade de chegar ao povo brasileiro desde as esferas mais carentes, às classes mais abastadas. Nesse particular, a Rede Globo de Televisão que, em suas novelas - das melhores tramas até às mais desastrosa  - tem transitado em imaginárias "altas sociedades", vivenciado o dia a dia do homem comum, a saga dos sem teto, dos sem terra e, inclusive, dos sem futuro e sem esperança. Tudo isso sem esquecer as lutas de classes, de gênero, opções religiosas, sexuais e até a classe política.*Imagem: pt.dreamstime.com


Em intrincados contextos, resta ao telespectador uma difícil missão: A arte imita a vida? Ou a vida imita a arte? Para os mais atentos e nesse segmento incluo os filósofos - geralmente olhados como etéreos que estão quase sempre distanciados da realidade - faço questão de registrar os magníficos contornos criados pelas nuvens, a formação de pássaros em pleno voo, as esculturas de bolhas formadas a partir da quebra de ondas nas praias, a superposição de matizes no verde das matas, os labirintos formados por raízes e cipós e tantas outra obras de arte ditadas pela natureza e, observadas por quem se dispõe a vê-las. Existentes independentes de serem notados ou não. Arte pura, dissociadas da mente e da mão humana.* Imagem: brasilescola.com


Na última semana tivemos o fechamento de mais um ciclo novelístico. A novela Império, da já falada TV Globo, da autoria de Agnaldo Silva,  teve seu último capítulo levado ao ar na sexta-feira, 13 de março. Coincidentemente mais uma (sexta feira 13) num ano apenas começado. Com um elenco excelente tivemos a oportunidade de conferir interpretações primorosas, com destaque para Alexandre Nero, Lília Cabral, Leandra Leal, Caio Blat, Paulo Vilhena, Drica Moraes,  Othon Bastos, Paulo Betti, José Mayer, Ailton Graça, Carmo Dala Lavecchia e Zezé Polessa, entre outros. *Imagem: pagina1news.com.br


A novela que se desenrolou num verdadeiro vale tudo em busca de Dinheiro e Poder, mostra relações doentias ditadas por personagens - movidas por desrespeito,  ambição desmedida, apegos, ausência de ética, exigências, imoralidades e, em determinados momentos, falta de senso crítico. Segundo a Wikipédia - Enciclopédia Livre houve a seguinte leitura: 1º. " A trama teve média de 32.8 pontos, e é a segunda pior audiência do horário, atrás apenas de Em Família". 2º. Em seu penúltimo capítulo a trama bateu recorde de audiência com 44 pontos e 67% de participação em São Paulo e 47 pontos com 71% de participação no Rio de Janeiro. O último capítulo teve média de 46 pontos, e 70% de participação em São Paulo." * Imagem: sissisemprine.com



Não há como ignorar que o autor Agnaldo Silva, dessa feita, ousou no quesito desconstrução da Família. Vimos transmutar na telinha, valores até bem pouco tempo defendidos com unhas e dentes pelo tão sofrido povo brasileiro. Assim, tivemos o dissabor de constatar situações esdrúxulas onde conviviam, sob o mesmo teto, pais, filhos, amante da mãe, amante do pai e um ex marido da mãe, que tramava contra a família em conluio com um dos filhos. Tem mais, pais que empurravam sua única filha para prostituir-se, fato que foi minorado com a boa índole da moça que se envolveu e amou, até o final, um homem casado, rico e bem mais velho, porém sem a conotação de exploração. *Imagem: ros aleonor.blogs



As relações entrelaçadas traziam outras pérolas. Um chefe de família com um passado envolto em névoas, a um só tempo passional e frio. Passional na medida que expressava suas paixões independentemente de quem fosse atingido por tal acontecimento, desafiando tudo e todos. Desse modo, mostrava acintosamente seu amor, sua indiferença e seu desamor em relação a cada filho. Frio, na sua vitoriosa trajetória, modifica o centro de sua atenção elegendo a filha, que desconhecia ter, como sua predileta, sua sucessora, praticamente desprezando a que anteriormente era reconhecida como favorita e candidata a sucedê-lo à frente da Império. *Imagem:otvfoco.com.br



Não fosse suficiente, José Pedro, o primogênito do casal,  entrega sua mãe - que não conhecia limites ao defendê-lo - ao filho do ex-marido daquela, como parte de sua vingança. Também, enreda em seus tentáculo vingativos a sua esposa, armando para que ela caia nos braços do que se tornara amante de sua mãe. Finalmente, esse inusitado  modelo filial tenta assassinar seu pai até que o consegue, na terceira tentativa. Não posso calar. Me questiono: tal emaranhado de intrigas é criatividade ou direcionamento? Sim, porque num momento de tantas bandeiras desfraldadas vai que, de repente, o casamento torna-se alvo de maciça propaganda subliminar. Pode ser. *Imagem: mcquadrangular.blogspot



Em minha inadequada mania de observar e analisar as coisas, ainda me surpreende as constantes construções privilegiando a mentira, dominações, a inversão de valores, manipulações, a ausência de ética, a ambição desmedida, homicídios, assassinatos por encomenda...UFA. Volto a me questionar: essa enxurrada de atitudes desonestas, infames, extremas e negativas, contribui de que modo para a juventude que aí está?



Mas, as divagações certamente não traduzem o resultado obtido pelo autor ou pela emissora. Me proponho ao desafio de mudar o curso desse texto, acreditando em algo bom, em superar dificuldades ditadas por minha incapacidade de adequação ao que parece ter se tornado lugar comum no dia a dia. Pois é, resta-nos algo de bom a ser salientado: AS ATUAÇÕES. *Imagem: profcorelio.blogspot.com



Tenho absoluta certeza de que muitos odiaram e ao mesmo tempo nutriram sentimentos contraditórios, inclusive, pena, em relação á incoerente Maria Martha (Lília Cabral). Misto de vilã e pateta, capaz de suportar as traições do marido, esperando, um dia, tê-lo como troféu. Não pensem que só esperava, divertia-se com "Maurílio", personagem de Carmo Dala Lavecchia, que se mostra sórdido, capaz das mais cruéis baixarias, sendo figura central na vingança de seu "pai", o impecável Othon Bastos que enganou a todos com sua pseudo adoração a "Imperatriz". 



Impagáveis, também, o "Téo Pereira" de Paulo Betti; afetadíssimo e, por vezes dotado de uma irresponsabilidade a beira da insanidade. Afeito ao sensacionalismo nada lhe importa, exceto os cliques, porém, sem perder o charme. José Mayer na pele de Cláudio Bolgari, cerimonialista disputado na alta sociedade carioca, homem incapaz de lidar com suas paixões e que divide-se entre sua "esposa" Beatriz ( Suzy Rego) e "Leonardo", jovem aspirante a ator e que se torna  seu amante; ainda nesse núcleo os conflitos de Cláudio com o filho elitista, homofóbico e descontrolado "Enrico Bolgari", numa composição convincente de Joaquim Lopes. Redimido nas últimas semanas. *Imagem: biancavasques.com



A mulher também teve sua cota de maldades e alienação. Drica Moraes fez uma Cora odiada e mortal. Como anti-mãe, dotada de todas as mazelas morais, numa grande atuação de Zezé Polessa, Império trouxe Magnólia. Mulher destrambelhada, com fixação em dinheiro e poder; vivendo de golpes, faz vista grossa ao filho - que se prostitui - e pressiona a filha a se dar bem explorando o amante.  Surpresas à parte, revela-se mais humana quando gasta todo o dinheiro obtido em apostas de cavalos, decidindo viver unicamente para seu marido - Severo, diagnosticado, no penúltimo capítulo,  com o Mal de  Alzheimer.*Imagem: diariodonordeste.verdesmares.com



No núcleo bom - marcantemente de pessoas do bem - falta dinheiro e sobram solidariedade, determinação, honestidade,  garra, amizade, fidelidade, esperança, humor e até uma certa dose de ingenuidade. Aplausos para a atrapalhada "Xana Summer", vivida por um  Ailton Graça, estereotipado e tão humano quanto é possível ser. Mas e para não deixar passar a oportunidade, apesar do charme do personagem,  o autor  forja um casamento onde, mais uma vez a família atirada à lata de lixo. Xana, sua esposa e o ex-noivo dessa, num declarado triangulo amoroso, dividem a mesma casa, o mesmo quarto e até o beijo de Antônio. O  que decididamente, não condiz com a seriedade e importância do matrimônio, enquanto sacramento e na forma Constitucionalmente instituída. *Imagem: letrasuneb2009blogspot.com



Palmas para Leandra Leal que deu corpo e alma a  "Cristina Medeiros", fruto de um amor proibido de sua mãe com o cunhado, pobre, honesta e determinada, conquista o amor de seu pai, provoca a ira de seus irmãos e da madrasta, para, a final, superar todas as barreiras, se fazer respeitar, casar com o homem de sua vida e continuar na Império. Na escassa lista dos bons não poderia faltar "Ismael", vivido por Jonas Torres que é morador de rua, dotado de virtudes a toda prova. Casado com "Lorraine", trambiqueira compulsiva e que numa visão maniqueísta resgata seus erros, tornando-se... uma "pessoa" melhor. * Imagem: Kogut.oglobo.globo



E como esquecer Paulo Vilhena que magistralmente interpretou um pintor esquizofrênico, homicida e que tendo comprovada a sua deficiência mental, convivia em presídio comum lado a lado com criminosos das mais diversificadas tipificações penais.  Com um desempenho forte, gradativo, "o doidinho Salvador" repetidas vezes roubou, literalmente, a cena, tornando impar o trabalho do ator.* Imagem:tvcanal17.blogspot.com



Com uma conduta asquerosa, um dos personagens mais fortes ficou ao encargo de  Caio Blat, como filho mais velho do Comendador, cujo caracterização reuniu, numa só pessoa, uma índole má, pervertida, gananciosa,  homicida, fria, cruel, capaz de roubar, trair, encomendar e cometer assassinatos. Com uma interpretação capaz de causar nojo e ódio aos telespectadores, não há como se deixar de reconhecer o grande ator que  encarnou "José Pedro". *Imagem: noticiasdatv.uol.com



Como acontece em grande parte das mídias  e que têm sido um recurso utilizado nas novelas, a "revelação" aqui também ficou para o final. Inconteste a comunicação entre Alexandre Nero e o público. Com um personagem enigmático, ora cafajeste ora cavalheiro, capaz de suscitar em minutos "amor e ódio", apresentado como homem sedutor e dotado de "uma boa pegada", o Comendador José Alfredo conseguiu tornar-se mais um sucesso do performático ator. Brilhando na telinha na pele do homem de preto, encantou a todos no show anual do rei Roberto Carlos, a vontade, solto, fez dueto sua majestade.* Imagem: epoca.globo.com



Arrancando suspiros diários, com generosas insinuações de seu "desempenho sexual", o "Comendador" passou a povoar o imaginário de um público cada vez mais apaixonado.  O desempenho de Alexandre Nero deu credibilidade a criação de Aguinaldo Silva, superando seus defeitos morais, sua arrogância e machismo fazendo com que O COMENDADOR passe a integrar a galerias de personagens imortais, boas ou não, como Odorico Paraguaçu, Zeca Diabo, Senhorzinho Malta, Ravengar, José Inocêncio, Jorge Tadeu, ROQUE SANTEIRO, Giovanni Improta ...* Imagem: nilsonxavier.blogsfera.uol.com.br




Nunca o preto caiu tão bem numa "CRIATURA". *Imagem: extra.globo.com


O Comendador deixa saudades. Mate seu desejo vendo ALEXANDRE NERO degustar uma "Proibida", a cerveja, é claro. Na telinha.

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