A COROAÇÃO DE NOSSA SENHORA

A MULHER REVESTIDA DO SOL.  

A devoção Mariana recebe, a cada mês de Maio, cores e formas festivas. Cumpre-se, com amor, reconhecimento, a tradição do Terço e da Coroação. Assim os cristãos reiteram, proclamam e confirmam Maria Santíssima como Rainha Celeste, soberana da pátria  que o Criador magnanimamente colocou a disposição dos filhos e filhas. Maria é o exemplo milenar de que um ser humano é capaz de abraçar a causa suprema e fazer-se integralmente cumpridora da vontade Divina.

A sua posição celestial acha-se delineada na Bíblia desde a promessa messiânica até o Apocalipse. No último livro lê-se: “Então apareceu no céu um grande sinal: uma mulher vestida de sol, e sobre a cabeça uma coroa de 12 estrêlas” (Ap. 12,1).

Fazendo memória, lembro, perfeitamente, como acontecia o mês de Maio em minha cidade. Nasci e morei, até os 15 (quinze) anos de idade, em Santa Rita, a rainha da várzea, princesa dos canaviais, onde, na minha adolescência, evocava versos vendo as plantações de cana num movimento homogêneo, a visão das plantas vergando-se e produzindo uma onda me fazia pensar: verde cana ...verde plana ...

A cidade tornava-se diferente, animada, cheia de pessoas nas igrejas e nas ruas, era MAIO, mês das MÃES e de MARIA. As crianças e adolescentes, muitas já fazendo preparação para o Crisma, outras na Cruzada e outras pequenas aprendizes atentas e desejosas de vir a ser filhas de Maria, ficavam ansiosas e felizes com as celebrações que ocorreriam.

                                        

Sob esse sentimento e ambiente, ficávamos inquietas para sermos escolhidas e nos tornarmos Arcanjos durante 31 (trinta e um) dias. Cada uma das participantes deveria vestir-se com uma túnica branca, geralmente de tecido brilhoso (cetim, seda, tafetá), ter à cintura um torçal, trazer em suas costas asas brancas e acompanhar a imagem de Nossa Senhora, durante a sua peregrinação, ao local onde permaneceria por  um dia.

A procissão saía da Igreja Matriz no dia 1º de Maio, com um pequeno andor, cuidadosamente coberto por rosas, sendo os seus seguidores pessoas de fé que entoavam cantos e louvores à Mãe do nosso Salvador. Levavam em suas mãos lanternas artesanais, tendo em seu centro velas acesas. Na Igreja Matriz permanecia uma imagem maior, primorosamente ornamentada e a celebração diária com o terço e demais orações.

O evento era precedido de muita esperança. As meninas desejando, ardentemente serem anjos ou arcanjos. Os meninos, principalmente os maiores, curiosos para ver qual seria o anjo mais bonito. No final de abril, era aberta a “inscrição”, todas podiam ser anjos mas, os arcanjos seriam materializados por escolhidas. 

Representar o  Arcanjo Gabriel, que anunciou a Maria que ela seria a Mãe do Messias, era um dos postos mais desejados. Geralmente a escolha recaia sobre alguém que era piedosa e sabia  a importância da Anunciação. Ainda, o Arcanjo Rafael possuidor do dom da cura  e Miguel que chefiou as milícias celestes contra o mal, também estavam presentes e eram disputados. Esses arcanjos tinham as suas asas invertidas para se destacarem dos anjos e um pequeno colete sobre a túnica. Por sua vez os anjos, que eram crianças menores, traziam em suas cabeças pequenas coroas brancas e/ou auréolas que ficavam erguidas por uma haste fina. 

Todo o mês de Maio saíamos as 19:00 horas, em procissão, do local onde se encontrava a Santa e a escoltávamos até a casa seguinte. Ao chegar à residência que a acolheria, a hospedeira iniciava o terço que era seguido de cantos, louvor e da Ladainha de Nossa Senhora.Geralmente havia um lanche, sempre com salgadinhos e refrigerantes... delicioso. A volta para casa era sempre um momento de muito rebuliço. Não conseguíamos ficar serenas, a idade nos permitia ser tagarelas e as novidades eram muitas. 
  

Mesmo sendo os Arcanjos figuras de destaque, havia um personagem que incitava a disputa – confesso que jamais me candidatei a tal honra, nunca tive os principais requisitos -, falo daquela que iria coroar a Rainha no dia 31 de Maio. Entre as características exigia-se a harmonia do conjunto: a menina deveria ser bonita e ter uma bela voz, pois no ato da coroação ela estaria em evidência, sozinha junto à imagem e cantando.  Suavemente, colocaria a coroa sobre a cabeça de Nossa Senhora. Após a coroação havia uma chuva de pétalas de rosas, palmas e cantos. Uma linda festa de fé, amor e simplicidade.

No meu tempo de anjo fui o Arcanjo Gabriel por uns três anos e Socorro, minha irmã mais nova, foi a pessoa que lembro ter sido anjo por anos e anos. As que coroaram Nossa Senhora recordo de Anunciada, filha de Dona Eleanor e Sr. Antônio Gomes, linda, loura com longos cabelos lindos e brilhosos, possuía uma voz suave e maviosa. Foi um dos anjos mais bonito que já vi. Era bem mais velha que eu e ao deixar o “posto” foi sucedida por uma grande amiga de infância, Aliceana, filha de D. Analine e Sr. João Paiva. 

Aliceana uma menina super calma, de longos cabelos castanhos, olhos grandes e uma voz maravilhosa. Estudávamos juntas no Colégio Nossa Senhora das Neves, nossos pais eram amigos e nossas famílias conheciam-se há muito tempo.  “Sinha”, como era chamada, portava-se muito bem, possuía características próprias da idade mas, algo em seu semblante, em seus atos, mostrava uma maturidade prematura. Um anjo de carne e osso. Fez engenharia civil na UFPB.

Anunciada e Aliceana, tiveram suas vidas pontuadas por coincidências. Ambas tinham seus nomes iniciados por A; as duas, com razoável diferença de idade, foram irretocáveis no papel de coroar a nossa Mãe do Céu; as duas casaram e tornaram-se mães; infelizmente, as duas faleceram cedo e de forma inesperada, deixando filhos pequenos e causando enorme tristeza entre parentes e amigos.

Não cheguei a ver Anunciada ou mesmo ir ao seu velório. Sei apenas que morreu subitamente deixando órfãs quatro ou cinco crianças. Rememorar esse fato traz de volta os comentários de sua beleza, realçada pelas rosas que ornavam o seu corpo na urna funerária. Alguns diziam que em seu leito mortuário transcendera a mera beleza física, comparando-a a imagens e gravuras de Santas.

 Ainda hoje lembro, com nostalgia,  momento alegres com Aliceana, Tereza Cristina e Robério, seus irmãos. Recordo, também, de uma terrível sensação de impotência e dor quando a vi pela última vez em seu esquife; pálida, muito abatida, mas com uma aparência de paz e tranqüilidade. Sei que deixou um filho com um pouco mais de um ano. Alguns dizem que não existem coincidências, nesse caso fica difícil negar. Ambas foram disputar a honra da coroação no céu juntamente com outras que também foram chamadas, mundo a fora.

Mas estamos falando de fé. Maria mãe de Jesus, pelo mistério da Santíssima Trindade jamais poderá ser afastada do trono celeste. Sua historia de amor à humanidade é radical, extrema. Com o seu sim, tornando-se a Mãe do Messias aceita a maternidade de toda a humanidade. A decisão dá-lhe, por misericórdia Divina, ascendência sobre seus “filhos” e a faculdade suplicante que a torna intercessora de toda as horas. 

No ritual festivo, aos 31 de maio a “santinha” voltava para a Matriz e ali acontecia a Coroação de Nossa Senhora. A emoção corria solta. Muitas senhoras, com idade avançada, transpareciam em seus rostos todo o amor dedicado àquela a quem recorriam sempre, para interceder por seus filhos. Havia hinos especiais, para crianças menores, para a consagração a Nossa Senhora e um especialmente escolhido para a coroação.

Assim era a nossa festa. Sintam a emoção que senti com esses maravilhosos tributo a nossa Rainha com músicas feitas sob medida para o seu louvor:

 

MÃEZINHA DO CÉU
 

Mãezinha do céu, eu não sei rezar,
Eu só sei dizer: "Quero te amar"
Azul é teu manto, branco é teu véu
Mãezinha, eu quero te ver lá no céu
Mãezinha do céu, Mãe do puro amor,
Jesus é teu filho,
E eu também sou
Azul é teu manto, branco é teu véu
Mãezinha, eu quero te ver lá no céu
Mãezinha do céu, vou te consagrar
A minha inocência, guarda-a sem cessar.
Azul é teu manto, branco é teu véu
Mãezinha, eu quero te ver lá no céu
Mãezinha do céu, em tua proteção
Oh, guarda meus pais e a todos os meus irmãos!
Azul é teu manto, branco é teu véu
Mãezinha, eu quero te ver lá no céu
Mãezinha do céu, eu não sei rezar;
Eu só sei dizer: "Quero te amar"
Azul é teu manto, branco é teu véu
Mãezinha, eu quero te ver lá no céu
Mãezinha, eu quero te ver lá no céu.

CONSAGRAÇÃO A NOSSA SENHORA

Ó, Minha Senhora e também minha mãe
Eu me ofereço, inteiramente todo a vós.
E em prova da minha devoção
Eu hoje vos dou meu coração.

Consagro a vós meus olhos, meus ouvidos, minha boca.
Tudo o que sou, desejo que a vós pertença.
Incomparável mãe, guardai-me e defendei-me,
Como filho e propriedade vossa, Amém
Como filho e propriedade vossa, Amém.

Ó, Minha Senhora e também minha mãe
Eu me ofereço, inteiramente todo a vós.
E em prova da minha devoção
Eu hoje vos dou meu coração.

Consagro a vós meus olhos, meus ouvidos, minha boca
Tudo o que sou, desejo que a vós pertença
Incomparável mãe, guardai-me e defendei-me,
Como filho e propriedade vossa, Amém
Como filho e propriedade vossa, Amém

MARIA DE DEUS, SENHORA DA PAZ

- É bom estarmos juntos nesta mesa do senhor.

E sentirmos Sua presença no calor do nosso irmão.

Deus nos reúne aqui, em um só Espírito em um só coração.

Toda família vem, não falta ninguém nesta comunhão.
E vem cantando entre nós, Maria de Deus, senhora da paz, e vem, orando por nós, a Mãe de Jesus.

 - Maria, nossa mãezinha, nos convida a união.  

Sua presença une, faz-nos todos mais irmãos.

Nossa senhora escuta o nosso silêncio a nossa oração, e apresenta ao filho, que se dá no vinho, que se dá no pão.

COROAÇÃO DE NOSSA SENHORA
 Adriana 

 Senhora, Rainha
Tão linda Estás
Trouxemos presentes
Pra te ofertar

Este manto celeste
Azul cor do Céu
Que protege e guarda
Teus filhos pra Deus

Senhora, Rainha
Tão linda Estás
Trouxemos presentes
Pra te ofertar

A coroa é prova
De quem soube amar
E pra ver teu sorriso
Colhemos pra ti

Chuva de pétalas!

Senhora, Rainha
Tão linda Estás
Trouxemos presentes
Pra te ofertar

Abençoa as famílias
O nosso país
As crianças
E os jovens
Que esperam em Ti

E por todos nós, um apelo a MARIA.

NOSSA SENHORA

Cubra-me com seu manto de amor. Guarda-me na paz deste olhar, cura-me as feridas e a dor me faz suportar. Que as pedras do meu caminho meus pés suportem pisar, mesmo ferido de espinhos me ajude a passar. Se ficaram mágoas em mim, Mãe tira do meu coração, e aqueles que eu fiz sofrer, peço perdão. Se eu curvar meu corpo na dor, me alivie o peso da cruz, interceda por mim, minha Mãe, junto a Jesus.

Nossa Senhora, me dê a mão, cuida do meu coração, da minha vida, do meu destino.  Do meu caminho, cuida de mim.

Sempre que meu pranto rolar, ponha sobre mim suas mãos, aumenta a minha fé e acalma o meu coração. Grande é a procissão a pedir a misericórdia, o perdão, a cura do corpo e pra alma a salvação. Pobres pecadores, ó Mãe, tão necessitados de Vós, Santa Mãe de Deus tem piedade de nós. De joelhos a vossos pés, estendei a nós vossas mãos, rogai por todos nós, vossos filhos, meus irmãos.