Quem sou eu? O que faço

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João Pessoa, Paraíba, Brazil
Quem sou? O que faço. Sou Maria de Lourdes, tenho, agora, 62 anos, esposa, mãe e avó, formação jurídica, com pós graduação em Direitos Humanos e Direito Processual Civil, além de um curso não concluído de Filosofia. Conheci os clássicos muito cedo, pois não tinha permissão para brincar na rua. Nosso universo – meu e de meus irmãos – era invadido, diariamente, por mestres da literatura universal, por nossos grandes autores, por contistas da literatura infanto-juvenil, revistas de informação como Seleções e/ou os populares gibis. Todos válidos para alimentar nossa sede de conhecimento. Gosto de conversar, ler, trabalhar, ouvir música, dançar. Adoro rir, ter amigos e amar. No trabalho me realizo à medida que consigo estabelecer a verdade, desconstruir a mentira, fazer valer direitos quando a injustiça parece ser a regra. Tenho a pretensão de informar, conversar, brincar com as palavras e os fatos que possam ser descritos ou comentados sob uma visão diferente. Venham comigo, embarquem nessa viagem que promete ser, a um só tempo, séria e divertida; suave e densa; clássica e atual. Somente me acompanhando você poderá exercer seu direito à críticas. Conto com sua atenção.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

CABO DE SANTO AGOSTINHO

NATUREZA E HISTÓRIA


Ruínas do Mosteiro Carmelita 

Hoje resolvi fazer algo diferente. Falar aos meus amigos virtuais e presenciais sobre o ganho, para o corpo e a alma, de um pequeno passeio. Um final de semana para sair da rotina, uma volta ao passado na expectativa de captar algum conhecimento e, gozar da deslumbrante visão ofertada pela natureza. Mesclar atualidade e história fez a diferença nesta aventura.
Bloco de apartamentos Aymara Hotel

A nossa viagem, com saída programada para 31 de agosto e destino ao “Aymara Hotel Fazenda”, localizada na zona rural do Cabo de Santo Agostinho, numa gleba com 14,00 hectares. O hotel, cercado por um tapete verde, possui vista privilegiada para a Mata Atlântica, com muitas flores e pássaros numa paisagem típica das reservas naturais.


Detalhe Parque Aquático
O ponto forte do Aymara é a paz que os hóspedes desfrutam, em total harmonia com a natureza. Ali  se pode desfrutar de passeio de charrete, trilha ecológica, "pesque e pague", piscina com bar molhado, um bonito salão de eventos, espaço para meditação, área reservada para crianças entre outra atrações, o tornam um local onde a família e casais podem desfrutar dos ares do campo e de mais privacidade sem perder o contato com a cidade.


Recanto de meditação á sombra de S. Francisco de Assis
Ainda deve ser destacado como atrativo, no hotel, a presença de animais típicos de fazenda. Assim, pudemos desfrutar do vôo de pequenas aves, em formação semelhante a uma flecha, veloz, cortando o céu de um azul maravilhoso, repetidas vezes durante o dia. 

Que tal beber o leite in natura, produzido por vacas da fazenda? Nos deliciar com o ativo e namorador “pai de chiqueiro”, sempre alerta ao lado das cabras; ver os carneiros e ovelhas caminhando em busca do melhor capim; conferir a beleza dos cavalos, do pavão e, ainda, voltar no tempo, revendo um bando de galinhas correndo soltas como se efetivamente estivessem livre na natureza. Ver  a engenharia do "casaca de couro" na construção de seu ninho é ter a certeza do que foi declarado por Lavoisier "Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma".

Matriz de Santo Antônio

Na cidade, propriamente dita, nos maravilhamos com a beleza da Catedral, erigida em honra a Santo Antônio e cuja construção ocorreu entre 1590 a 1595, pelos próprios moradores do Arraial. Merece destaque o altar-mor em pedra sabão  e estilo barroco, as imagens antigas e ricamente trabalhadas, a estrutura com torre em abóbada ogival, e excelente acústica; a presença de urnas funerárias datadas de 1800; sinos enormes, escada em aspiral para a torre,  enfim, a certeza de que estamos diante de um bem de inegável valor histórico para o Estado Pernambucano.


Explorando a cidade fomos ao Abrigo São Francisco de Assis, cuja fundação ocorreu aos 04 de outubro do ano de 1961, pela Madre Iva, que por longos sete anos permanecera paralítica, em consequência de uma enfermidade e, após ser desenganada pelos médicos sonhou com Francisco de Assis que falou à bondosa freira da seguinte forma:: “Iva por amor a Jesus crucificado, vou curar-te, minha filha, levanta-te e anda; constrói a minha Igreja, o Abrigo para os meus velhinhos…”

Abrigo S. Francisco de Assis
Desse sonho de amor e esperança surgiu casa que nós visitamos. Uma construção grande, sólida, com espaço confortável para oferecer aos abrigados – idosos carentes, na maioria vindos das ruas em condições de miséria e, alguns, encaminhados pelo Ministério Publico -  todo o necessário a acomodá-los dignamente, com adequação, inclusive às limitações de seus moradores.



No abrigo há, também, um espaço reservado ao seu patrono, São Francisco de Assis. Pequena e linda, a capela parece um pedacinho do céu neste mundo de Deus. Caracteriza-se por ser um recanto modesto porém, de uma beleza que nos emociona; em seu interior  encontramos uma imagem que mostra um São Francisco bem mais próximo à descrição de Celano, um homem de baixa estatura, de aparência tranquila, afável,  magro e com barba   pequena.  Ladeando a construção vitrais ricamente pintados com São Francisco e o menino Jesus, pássaros e, ainda, com imagem de Santa Clara. Ao centro um Sacrário e, em todo o ambiente uma paz contagiante.



Vitral da Capela
Os velhinhos e velhinhas bem cuidados, os dormitórios limpos, asseados e organizados. Conversamos com alguns e dois deles realmente mexeram com o meu emocional. Um senhor que estava um pouco afastado e que cumprimentei tentando entabular uma conversa, ele, calmamente tirou os óculos escuros e deixou a mostra olhos tão azuis que mais pareciam bolinhas de gude, elogiei falando da beleza de seus olhos e ele me disse: ”não adianta nunca mais vi minha nega”. Pela idade dele acredito que a musa daqueles olhos já se foi. 

Uma senhora com quem rapidamente me senti identificada, pequena, olhinhos apertados, bem arrumadinha, um diadema nos cabelos, uma flor presa no diadema e um colar  caprichosamente feito de botões coloridos, olhando firme para mim,  disse: “eu era como a senhora, gostava de me arrumar, de sapatos de salto alto, de sorrir e ser feliz”, me sensibilizou com seu queixume, com sua saudade, ao tempo em que não se curvou, permaneceu tentando conservar uma imagem pálida do que fora.

Na saída encontramos um Paraibano com um violão debaixo do braço. Todos os velhinhos, que estavam por perto, sorriam para ele e o artista nos informou que era de São José do Rio do Peixe, antiga Antenor Navarro, que era fã de Luiz Gonzaga e que a cada Domingo cantava e tocava o seu violão num abrigo de velhinhos e que fazendo um rodízio estava sempre em contato com todos. A capacidade de doação daquele senhor me trouxe lágrimas aos olhos.

Visão lateral antes da restauração
Fora da cidade fomos ver a parte histórica do Cabo de Santo Agostinho. Começamos pela Vila de Nazaré, que remonta ao Brasil colônia, especificamente ao século XVI; é um referencial na História do Brasil e segundo os historiadores na vila ocorreram inúmeros combates entre índios, portugueses, lusos brasileiros e holandeses. Quase nada existe que identifique o conjunto de casas, de hoje,  com a vila histórica.

Convento Carmelita Visão dos  Arcos
Entretanto ainda se vê a Igreja de Nossa Senhora de Nazaré situada na Vila de mesmo nome, com sua construção datada do século XVI, pelos portugueses e, ao longo de sua história objeto de inúmeras reconstruções. Caracteriza-se por ser uma edificação com estrutura retangular e apenas uma cúpula, coro, capela principal e um corredor lateral que segue até a sacristia. Segundo informações do Instituto do Patrimônio Histórico sua forma, com uma única torre e sua localização no ponto mais alto do cabo fazia com que os navegadores se referissem a ela como “uma vela branca” a guiar os seus destinos.

Ruínas vistas acima do muro do cemitério local
Ao lado da Igreja estão as ruínas do convento Carmelita, também construído pelos descobridores portugueses entre o término do século XII e início do século XVIII. Mesmo as ruínas foram objeto de obras de manutenção e sua visão é fantástica. Para melhor vê-la fizemos o acesso pelo cemitério local e, somente subindo sobre um túmulo antiqüíssimo conseguimos a visão que nos encantou.


Descobrindo  a   História   in loco,  vimos,  um dos maiores  tesouros  históricos    do  Cabo   de    Santo    Agostinho.    Trata-se das  ruínas  do  antigo farol e da   casa do faroleiro.  Segundo   os    historiadores   o farol ,  antigo,    foi   movido   à  corda,   e a querosene,   tendo   sido  desativado na década  de   quarenta. Por  uma    descida  íngreme,    totalmente    danificada    pela   erosão,  distando   aproximadamente 800 metros  de  descida  se  vê, também,numa   visão  magnífica,   as    ruínas   da casa do faroleiro. Os restos de ambas estão  localizados em uma das extremidades de Cabo de Santo Agostinho.  


Vista do Farol 
Apesar  de    saber    da   existência  de   outros   pontos    históricos   no Cabo  de  Santo  Agostinho,    como  as ruínas    de    um    antigo quartel português,  do   forte   Castelo    do  Mar, a  bica  do ferrugem e a pedra sobre   pedra,   tal     prazer        foi adiado   pela necessidade de voltar ao   hotel  e  retornarmos  a    João Pessoa.

Em   quaisquer   dos    pontos  onde nos   estivemos    a     natureza  se impôs,  absoluta,    plena,   por sua extraordinária     beleza.     O  mar límpido,   de   um     azul inimitável, oferta  ao observador imagens belíssimas. 

O acidente  natural  do  Cabo,   cria   paisagens   deslumbrantes  onde  até mesmo  a  erosão  se  apresenta  com  contornos   e   desenhos  por vezes semelhantes um bordado.
Vista de Cima do Farol
Além das belezas conferidas nos resta uma reflexão. De acordo com historiadores nas primeiras décadas do século 16, franceses exploravam pau-brasil no litoral do Nordeste como se fossem donos do território. Há evidências de que já conheciam a costa brasileira bem antes de 1500. Um francês, Jean de Cousin, teria tentado se estabelecer na Amazônia em 1488. Entretanto os descobrimentos seguiam outras lógicas diferentes do fato de se chegar primeiro.


A História do Tratado de Tordesilhas, que  vale a pena ser revisitada nos livros de História, registra o seguinte: “No auge das grandes navegações, os portugueses concluíram, com razão, que a partilha estipulada pela bula papal "Intercoetera"  não os beneficiavam, pois apenas algumas ilhas ficariam sob seu domínio. Por esse motivo Portugal exigiu um novo acordo, que foi concretizado pelo já referido Tratado de Tordesilhas, assinado em 7 de junho de 1494. Com ele, ampliavam-se os direitos dos Portugueses com o aumento da distância de suas potencialidades ,como proprietários, de novas terras de 100 para 370 léguas a partir das ilhas de Cabo Verde. 

O novo documento, assegurou a Portugal o domínio das terras descobertas a oeste do Atlântico. D. Manuel organizou uma das maiores expedições que o reino já havia preparado, composta por uma esquadra formada por dez naus e duas caravelas e cerca de 1.500 homens, sob o comando de Pedro Álvares Cabral, nobre de tradicional família portuguesa. Foi erigido um monumento para lembrar aos povos a assinatura do Tratado.

Assim e não obstante a chegada dos franceses e espanhóis ao Brasil, ao Cabo de Santo Agostinho ou Cabo de ”Santa Maria de La Consolácion”, anteriormente aos portugueses, foi consolidada a posse da terra em nome de Portugal. Ante o quadro, decorridos séculos de tais fatos,  só nos restou concordar com inteligente crítica, que foi amplamente divulgada, em forma de pergunta: “Onde está escrito o testamento de Adão que dividiu o mundo entre espanhóis e Portugueses?

A expressão "o testamento de Adão" surgiu da insatisfação do Rei Francês Francisco I, que se opôs a divisão das terras de além mar entre os Portugueses e Espanhóis, determinada pela Santa Sé, posto que à Igreja Católica detinha a soberania sobre todas as ilhas da Terra, fato assegurado pelo Edito do Imperador Constantino que liberou o culto Cristão em Roma, isso no século IV . Consideradas pelos Europeus que todas as terras a serem descobertas "seriam ilhas", portanto, recairiam sobre o Papa os poderes para administrar tudo o que adviesse dos navegadores europeus que partissem em busca de novas terras, inclusive, destinar as descobertas, antecipadamente. 


"Com o processo de centralização política  ocorrido com os países europeus após a crise do feudalismo, Portugal e Espanha passaram a ser ameaçados pelas potências emergentes. As terras das Américas começaram a ser valorizadas, a tal ponto que o monarca francês Francisco I (1515/1547) contestou a autoridade do Papa, que havia interferido na divisão das novas terras entre Portugal e Espanha com legitimização através da Bula Inter Coetera (1493) e do Tratado de Tordesilha  (1494). 

Às pretensões ibéricas definidas pelo Papa Alexandre VI, respondeu o monarca francês pedindo pra ver o "testamento de Adão e Eva que dividira o mundo entre Espanha e Portugal". Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre. A França demonstrou seu interesse no Brasil através de continuado contrabando de matéria prima, das constantes invasões e da permanência em território brasileiro.


Caravelas Santa Maria, Pinta e Nina
Pois é, logo ali, no vizinho Estado de Pernambuco, a cidade “Cabo de Santo Agostinho” que faz parte da região metropolitana do grande Recife. Esse Município, historicamente, foi povoado pelos índios Caetés. Segundo Martín Fernández de Navarrete em sua obra: "Viaje de Vicente Yáñez Pinzón", esse navegador, comandante da caravela “Nina”, foi o primeiro a chegar à costa do Brasil, através de uma península que denominou de ” Santa Maria de La Consolácion”, aos 20 de janeiro de 1500, tomando posse da terra em nome da Espanha. A área descrita pelo historiador corresponde ao cabo de Santo Agostinho.

Ainda há muito a ser contado mas, essa é outra história!






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4 comentários:

Cynthia Pessoa disse...

Lourdinha, foi um passeio muito interessante esse seu. Só senti falta das fotos onde vc aparece linda e maravilhosa no meio das paisagens...kkkk Obrigada pela belíssima aula de História. Esse meu Pernambuco é mesmo muito cultural...kkkk Beijos!!

Unknown disse...

Olá Lourdes,

sou arquiteta, mestranda do programa de pós-graduação em Desenvolvimento Urbano da Universidade Federal de Pernambuco. Desenvolvo pesquisa sobre a paisagem do Cabo de Santo Agostinho e Baía de Suape.

Bom, vi sua postagem e gostaria que, se você pudesse, respondesse ao formulário de entrevista que está disponível no link: https://docs.google.com/spreadsheet/viewform?formkey=dDU5Q0dqcFBoQU1FOThscUkwRXZCX1E6MQ

Ficarei muito agradecida em poder contar com sua colaboração.

Helen Palmeira disse...

Olá Giselle,

sou arquiteta, mestranda do programa de pós-graduação em Desenvolvimento Urbano da Universidade Federal de Pernambuco. Desenvolvo pesquisa sobre a paisagem do Cabo de Santo Agostinho e Baía de Suape.

Bom, vi sua postagem sobre sua visita ao Cabo e gostaria que, se você pudesse, respondesse ao formulário de entrevista que está disponível no link: https://docs.google.com/spreadsheet/viewform?formkey=dDU5Q0dqcFBoQU1FOThscUkwRXZCX1E6MQ

Ficarei muito agradecida em poder contar com sua colaboração.

Anônimo disse...

Andei muito por cima daquelas pedras, desde Ponta de Xaréu até SUAPE na desembocadura do rio (não lembro o nome). É um lugar mágico que devia ser melhor preservado. Vi que muito da vegetação desapareceu desde o final da década de 70. Fiquei triste, primeiro com a construção de um hotel, depois com a construção do porto. Muitos coqueiros foram derrubados, e os tubarões começaram a atacar os banhistas por não encontrarem mais alimentos na desembocadura do rio. Muitas destruição é feita em nome do progresso. Progresso esse que só beneficia as grandes corporações. Proporcionalmente poucos empregos são criados. Salários baixos. Poluição.