Quem sou eu? O que faço

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João Pessoa, Paraíba, Brazil
Quem sou? O que faço. Sou Maria de Lourdes, tenho, agora, 62 anos, esposa, mãe e avó, formação jurídica, com pós graduação em Direitos Humanos e Direito Processual Civil, além de um curso não concluído de Filosofia. Conheci os clássicos muito cedo, pois não tinha permissão para brincar na rua. Nosso universo – meu e de meus irmãos – era invadido, diariamente, por mestres da literatura universal, por nossos grandes autores, por contistas da literatura infanto-juvenil, revistas de informação como Seleções e/ou os populares gibis. Todos válidos para alimentar nossa sede de conhecimento. Gosto de conversar, ler, trabalhar, ouvir música, dançar. Adoro rir, ter amigos e amar. No trabalho me realizo à medida que consigo estabelecer a verdade, desconstruir a mentira, fazer valer direitos quando a injustiça parece ser a regra. Tenho a pretensão de informar, conversar, brincar com as palavras e os fatos que possam ser descritos ou comentados sob uma visão diferente. Venham comigo, embarquem nessa viagem que promete ser, a um só tempo, séria e divertida; suave e densa; clássica e atual. Somente me acompanhando você poderá exercer seu direito à críticas. Conto com sua atenção.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

O PORQUÊ DE SUELEN OU


E NÓS AONDE VAMOS?
  
As pessoas que me conhecem sabem que sou uma mulher de meu tempo. Gosto de rir, de brincar, trabalhar, ser feliz, viver. Busco realizar aquilo que necessito tentando causar o mínimo de impacto aos que me cercam ou qualquer um que possa ser alcançado pelo eco de minhas ações.

Sou, a um só tempo, comedida e ousada. A minha atitude, na maioria das vezes, depende do assunto e do resultado de alguma análise, reflexão. Se for algo no âmbito familiar é mais simples, até porquê se trata de pessoas conhecidas. Se for no trabalho, de certo modo, também é possível lidar dentro de uma zona de conforto. Entretanto quando é algo externo e relacionado á sociedade, ao público em geral, torna-se bem mais difícil fazermos a nossa crítica.

Porém algo me deixa muito a vontade, é a certeza de que se vou encontrar, com minhas posições, discordância e contrariedade, certamente também vou atrair adeptos. Tenho absoluta convicção de que eu não estou sozinha.

Falo dos vilões e vilãs que o imaginário de nossos autores produzem ininterruptamente. A lista é imensa, só a título de lembranças, dentre os que efetivamente pude ver em ação, podemos citar alguns como o Leôncio da Escrava Isaura; Odete Roitman e Maria de Fátima de Vale Tudo; Laura Prudente de Celebridade; Nazaré Tedesco de Senhora do Destino; Leonardo Brandão de Insensato Coração e Teresa Cristina de Fina Estampa.

É evidente que a amostra acima não é referencial para a sempre crescente “lista do mau”. Um dos aspectos preocupantes é que o nosso cotidiano é riquíssimo de personagens de má índole. Não há privilégios nesse sentido. Encontramos “a galera do mau”, entre jovens e velhos; brancos, negros, orientais; ricos, classe média e pobres; homens ou mulheres; cultos, incultos, analfabetos, alfabetizados; realidade ou ficção, enfim, como dissemos, não há imunidade para a perversão.


No cenário da fantasia, aonde a licença criativa corre a solta, por vezes nos chocamos por encontrar, no personagem mais odiado, características e atitudes de pessoas do nosso dia a dia. É triste, doloroso, ver que a maldade, o crime, a falta de ética, o desrespeito à legislação, a moral e aos bons costumes rende altos picos no IBOPE, eleva a tiragem e venda de jornais, muda conceitos e entram em nossas casas sem pedir licença.

Por mais que sejamos atuais, vivamos em harmonia com a nossa realidade, não dá para deixar de lado algumas abominações. Fatos terríveis e escândalos, cada vez mais escabrosos envolvem, diuturnamente, o nosso cenário político, onde Ex-Presidentes, Governadores, Senadores, Deputados e outros parlamentares ganham destaque na mídia, envolvidos em histórias indecorosas; a criminalidade cresce a olhos vistos; o tráfico invade as vidas destruindo, impunemente, as famílias; as doenças se alastram, principalmente entre os mais pobres e, via de regra, mais desassistidos; cresce, assustadoramente o número de crianças nas ruas e que são a cada minuto vítimas da violências, da fome, dos maus tratos e da insensibilidade das autoridades.

 Uma disparidade assustadora com um Brasil dos abastados que educam seus filhos nas melhores escolas no exterior; possuem, invariavelmente, altos valores em dinheiro e ações, se locomovem em jatinhos particulares, ostentam jóias caríssimas, são proprietários de imóveis espetaculares, de veículos que podem ultrapassar a “bagatela” de R$ 2,8 milhões de reais – preço da Ferrari Four, trazida ao Brasil no final de 2011, para 11º Fórum Empresarial de Comandatuba, na Bahia.

Esta é uma panorâmica de nossa Pátria onde se desenrola a história na qual Suelen é coadjuvante. A atriz, uma moça muito bonita, dona de um rosto quase angelical, um corpo escultural, bastante representativa da beleza perseguida por muitas mulheres. Todavia não é sobre a profissional e sim sobre o personagem por ela interpretado.

Pautar com clareza nossos objetivos pode conter uma grande dificuldade, principalmente se a indignação é a cada dia alimentada com a descida de mais um degrau rumo à devassidão. Pois é, na novela Avenida Brasil, Suelen é o protótipo da imoralidade, da promiscuidade, da luxúria, da falta de ética, do mau gosto, da vulgaridade, da indecência.

Qual o propósito de ter uma personagem como a dessa moça? A primeira vez que a vi em cena havia uma discussão em torno de uma chantagem que a mesma usava para obrigar “Diógenes” e seus filhos a “hospedá-la”. Nessa ocasião – quando era hóspede, através de uma extorsão - a jovem mantém relações com Leandro, um dos filhos do dono da casa. Até aí, aparentemente, dentro da normalidade, de alguém que se dispõe a constranger outras pessoas.

No mesmo período, a história se desenrola mostrando a anti-heroína, sempre apelativa em roupas típicas de academia de ginástica, sensualmente vestida ou propositalmente desnuda, pulando de “cama em cama”, com o já citado Leandro, com Darkson, Iran e Lúcio, insinuando-se para Adauto, Valentim e, presumivelmente “se divertindo” com outros personagens, leia-se: o time de futebol do Divino.

Não fosse suficiente, a personagem após ser atendida num serviço médico – rede pública – convence um enfermeiro, fazendo sexo com aquele profissional, para que diga aos homens presentes e que a acompanhavam na ocasião, que ela está grávida. Daí em diante passa a gozar da hospedagem de um, a pedir dinheiro a outro para fazer um aborto e, ainda, dinheiro a outros, sob as mais ridículas e estaparfúdias desculpas.

A personagem é um poço de falcatruas. Nada tem que se possa extrair de digno. Em determinado capítulo fiquei pasma quando a mesma repreendeu um jovem que explora sua mãe. Ledo engano, no minuto seguinte exige desse a quantia de R$ 2.000,00 para fazer um aborto, que já pedira a outro, tudo para matar um feto inexistente. Mesmo assim, ainda tem a desfaçatez de tentar dar lição de moral, coisa que não denota conhecer sequer superficialmente.


Não fosse o péssimo exemplo de promiscuidade e total despudor passado às nossas jovens e adolescentes que, muitas vezes, movidas pela natural sede de viver com liberdade, deixam-se iludir pelo mundo imaginário da televisão, sobraria, ainda, a irresponsabilidade das relações sem proteção sugerida nas entrelinhas, isto porquê ao atribuir a paternidade de seu “filho” a três homens, “Suelen” deixa claro ter tido sexo com esses sem a menor preocupação de resguardar-se de alguma doença ou de uma gravidez indesejada, ou até mesmo as duas coisas simultaneamente.

Em sua farsa há diversão maldosa em relação à mãe de um dos pseudos-pais; Suelen se compraz em torturá-la, manipula o filho contra a mãe, se insinua para o futuro marido dessa e ainda a destrata sempre que pode.  

Há mudança nas maldades e não o é em sentido decrescente. O que se mostrava como uma mocinha desprotegida, “tonta”, revelou-se desonesta, sem escrúpulos, má, chantagista, despudorada e, no bom e velho linguajar Nordestino, uma sem vergonha.

Algumas questões me incomodam. Por que Suelen, por que personagens como essa estão sendo, sempre repetidas? A que se deve a insistência em mostrar como normais à chantagem, a promiscuidade, a irresponsabilidade, a exploração do outro, a falta de objetivos? Tudo isso sem falar no que seria absurdo, diante dos “predicados” da moça, como por exemplo, um trabalho digno, estudo, normalidade, coerência.

Aonde vamos com visões tão distorcidas de como deve se comportar um ser humano? Aonde nos levará o exercício diário, por quase uma hora, de mentiras, adultério, traições, enganos, furtos, coação? Como assistir calmamente as maquinações cada vez mais escabrosas de pessoas numa mesma “família”, contra seus familiares? O que estamos repassando aos nossos filhos com nossa atitude de mesmice, vendo e calando diante de tantas iniqüidades?

 O meu desabafo é a crítica que faço a esta invasão diária aos nossos lares por personagens tão nocivas e às vezes mais que Suelen. A novela em foco tem uma senhora galeria de personagens deturpadas.   Aos que pensam no simples ato de mudar de canal ou desligar a televisão como opção aos que não gostam do que vêem, deixo um alerta: cuidado! Sua filha, seu filho, sua irmã, seu irmão ou quem sabe, aqueles primos , sobrinhos, adolescentes, de que você tanto gosta, pode estar num shopping, numa sorveteria, ou mesmo em casa, “aprendendo” com excelentes professores, como extorquir, enganar os pais e outros, se promiscuir, ridicularizar de quem age com seriedade.

Não esqueça, Suelen sabe, pratica, ensina e ainda premia você e quem gosta com um sorriso angelical. Aos que pensam como eu, tentem, se possível, mostrar como a personagem é falsa e como é nociva aos que se aproximam dela, em razão de seu modo de ser, de ver a vida e de se relacionar com seus semelhantes. Boa sorte.



5 comentários:

Fernanda Nóbrega disse...

Assino embaixo e não mudo uma vírgula.
Suelen, sob o manto da comédia, pode influenciar fortemente comportamento e atitudes de crianças, adolescentes e até adultos, fazendo com que o seu comportamento amoral seja encarado como "normal" dentro do contexto que se apresenta. É lamentável, chega a ser criminoso exposições dessa natureza.
Parabéns Tia, pelo post lúcido e muito bem elaborado.

Anônimo disse...

Querida irmã Maria de Lourdes, não quero me identificar para não ferir os meus filhos(as) bem como também ferir minha esposa.
Eu era assinante de uma empresa de tv a cabo para que eles tivessem opções melhores.
Cancelei por ter flagrado todos, assistindo essa porcaria que a tv aberta favorece ao brasil.
sinto muita saudade da ditadura, sem vergonha naquela época ia prá pêia.
Um abraço fraterno e parabéns

Luzia disse...

Os defensores da "telinha" dizem que a mesma apenas obedece à demanda da própria sociedade e baseia-se nas tendências, nos novos conceitos e necessidades demonstradas pelo público, procurando assim isentar a mídia do poder de influência que exerce sobre uma sociedade inteira, ainda que parte dela se recuse a ter contato direto com algumas destas porcarias.
O fato é que é muito fácil e simples reproduzir um discurso totalmente despreocupado e preso apenas à “diversão” ou entretenimento, quando não se é parte dos quase 90% da população brasileira que vive em precárias condições educacionais, afetivas, nutricionais e de segurança, na busca constante de referenciais e à mercê de uma mídia irresponsável que valoriza e reforça modelos tão desprovidos de respeito por si mesmo e pelo outro, tão destrutivos, dos quais, para piorar, a única coisa que se salva é a beleza exterior, infelizmente o maior valor da atualidade. “Seja ‘belo’ ou rico, e mais nada, e será feliz” (mídia).
Concordo totalmente com sua posição e mais uma vez parabenizo o seu excelente texto. Beijo grande mainha. Sua admiradora.

Anônimo disse...

Sinceramente é uma pena existirem pessoas assim, pq de fato elas existem e ainda causam ibope. Assim como o Cadinho (da mesma novela) tem 3 mulheres e ainda fazem disso uma piada, que mais uma vez não consegui achar a graça.Pra mim isso é cômico, ridículo e degradante, ou seja humilhante.

Luíza Henriques

TANIA MARA disse...

Antes de mais nada queria agradecer sua visita e comentário, inclusive fiz um post à respeito.

Concordo contigo quanto à "galera do mal". Não tenho por hábito generalizar pois vivemos numa época em que a falta de caráter não tem cor, raça nem razao social.

E faz tempo minha querida, que não vejo nada de construtivo na "tv brasileira".

Um grande abraço e um ótimo fim de semana pra vc