Quem sou eu? O que faço

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João Pessoa, Paraíba, Brazil
Quem sou? O que faço. Sou Maria de Lourdes, tenho, agora, 62 anos, esposa, mãe e avó, formação jurídica, com pós graduação em Direitos Humanos e Direito Processual Civil, além de um curso não concluído de Filosofia. Conheci os clássicos muito cedo, pois não tinha permissão para brincar na rua. Nosso universo – meu e de meus irmãos – era invadido, diariamente, por mestres da literatura universal, por nossos grandes autores, por contistas da literatura infanto-juvenil, revistas de informação como Seleções e/ou os populares gibis. Todos válidos para alimentar nossa sede de conhecimento. Gosto de conversar, ler, trabalhar, ouvir música, dançar. Adoro rir, ter amigos e amar. No trabalho me realizo à medida que consigo estabelecer a verdade, desconstruir a mentira, fazer valer direitos quando a injustiça parece ser a regra. Tenho a pretensão de informar, conversar, brincar com as palavras e os fatos que possam ser descritos ou comentados sob uma visão diferente. Venham comigo, embarquem nessa viagem que promete ser, a um só tempo, séria e divertida; suave e densa; clássica e atual. Somente me acompanhando você poderá exercer seu direito à críticas. Conto com sua atenção.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

E SÃO JOÃO,

 POR ONDE ANDA?

Onde está São João? Não aquele festejado com mais de 30 dias seguidos de forró, balões, comidas, quadrilhas, mastros, paus de sebo, crendices tipo: simpatias, adivinhações; fogos e fogueiras, “sacramentos”, como: casamentos, renovação de votos e batismos, à beira da fogueira. O que busco é aquele nascido atemporal, quando não havia para seus pais Zacarias e Isabel, sequer a esperança de deixar descendência.

São João em Campina Grande /Pb.
Cadê São João? Estava realmente nas ilhas de arrasta-pé? Nos forrobodós e arraiais, que aconteceram e ainda acontecem pelo Nordeste inteiro e, também, nas grandes cidades, nos locais de concentração de nordestinos que migraram em busca de sonhos. Estava nas encenações de reisado, no arrastado do xote, sambas de coco também conhecidos com rodas de coco ou no xaxado? 


Será que a maior festa popular brasileira é a legítima representação do João?  Não, claro que não. SãoJoão , aquele que nasceu desacreditado, pois seu próprio pai ao ter a promessa de Deus, falou sobre a sua dúvida, tem sua representação exatamente na firmeza que o cercou por toda a vida. Na certeza de que anunciava o Messias e de que necessitava  combater os ímpios  e os falsos adoradores. Quanto ao seu pai ,  o seu descrédito, foram as últimas palavras do sacerdote que imediatamente foi tomado por uma mudez inexplicável.

Quadrilha, dança para velhos e novos.
E São João? Ah, certamente não estava no meio dos moços e velhos que, independente da idade, mostraram suas aptidões exibindo-se em largas danças, rodadas, passos marcados, requebros, mesuras e permissões que desconhecem artrite e outros males. 

Gente, não é a este São João que me refiro. Falo sobre um menino que estremeceu, ainda no ventre de sua mãe, ao receber a visita de Maria, mãe do Salvador. É isso, pergunto sobre aquele que venceu a velhice, desconheceu as barreiras dos hormônios, vingou num ventre tido e havido como estéril, por longos anos.

O figurino
E a comemoração do São João, como foi? Sem dúvida nenhuma o fizemos em grande estilo. Roupa nova: para as crianças pequenas, os costumeiros “trajes matutos”, vestidos rodados, com babados, bicos e rendas, enfeites e muitas cores e, para os meninos a tradicional camisa quadriculada e calças Jeans. Os pré-adolescentes já pediram calças, saias, blusas amarradas na cintura, botas de cano longo e salto, este ano, com muita força, roupas de couro e suas imitações. Aos adultos, embora “o figurino fosse exigente”, mais que a roupa interessou o lugar, as companhias e os “ACONTECIMENTOS”.

Essas vestes guardaram alguma correlação com o São João? É evidente, pois as festas Juninas são verdadeiramente ligadas ao homem do campo, aquele “matuto, caipira”, do mato, da roça, que trabalha sob o sol e sob a chuva, aquele que acorda ao som dos galos, a luz dos primeiros raios de sol, que escuta músicas ao som de acordeom (sanfona), cavaquinho, zabumba, pandeiro e triângulo.... . Pelo menos era assim. Mas o São João, aquele que também se chamava Batista e dormia ao relento, no deserto, sob uma pele de animal e que tinha por despertador o sol sob seu rosto, também cantava e dançava ao som de tão agradáveis instrumentos? E para São João, o que se tornou sua marca registrada no quesito vestimenta?

São João do Carneirinho
Onde anda aquele, supostamente desequilibrado, que vestia couro de carneiro, tinha por dieta gafanhotos e mel? Onde está o menino de cabelos encaracolados, ora representado com um cordeirinho nos braços, ora com uma expressão dura, um cajado nas mãos, vociferando contra a luxuria, o adultério, o descumprimento das Sagradas Escrituras. Aquele que condenou as bacanais de Herodes, a traição de Herodíades e a disponibilidade de Salomé.

Sim, São João, ele está no calendário.  Na folhinha, como chamam os mais simples. Na Bíblia, como dizem os católicos e no anuário, como conhecem os que realmente são praticantes do exercício diário da fé. Mas será só isso? Uma data, festas por todo o País. Tem mais, enganam-se os que pensam em privatização do Santo.  


Não é só no Brasil que se tem tal “devoção.”, digo, festejos. Na Europa, historicamente uma festa pagã, liga o acontecimento aos chamado solstício de verão, isso, segundo o calendário pré-Gregoriano. Mesmo na atualidade, a fogueira de São João é um traço de união entre países que celebram o Santo, como é o caso de Portugal, Finlândia, França, Noruega, Suécia, Estônia, Irlanda, Reino Unido, entre outros. Também há festejos, em nome de São João nos Estados Unidos, Porto Rico, Canadá e Austrália. Isso, mas São João como fica?

São João Batista
A voz que preparou os caminhos do Messias. Aquele que era primo de Jesus o Nazareno e que o batizou, não com água, mas, com o fogo do Espírito Santo. São João Batista que se opôs aos poderosos da época, afrontou aos doutores de lei que se submetiam ao jugo de Roma, condenou o desvario, pagou com a própria vida.

São João Batista, o precursor de Jesus Cristo, filho de Isabel que era prima de Maria, da casa de Davi. Filho de um sacerdote e uma mulher profundamente religiosa, que pertencia a uma irmandade denominada “as filhas de Aarão”, que tinham por obrigação vários rituais e procedimentos religiosos. Teve como professores o seu pai e os demais sacerdotes, como criança educada na Sinagoga, aos 14 anos completou seu estudos iniciais e foi levado a Engedi onde se daria sua iniciação na educação nazarita, na comunidade liderada por Ebner.   

Entre 18 e 19 anos João Batista perde o seu pai. Nesta hora de angústia põe a prova um de seus votos: “não tocar nos mortos” que fizera juntamente com a abstinência de bebidas intoxicantes e deixar os cabelos crescer. João, com a morte de seu genitor passou a ter a responsabilidade de manter a sua mãe, mudando-se para Hebron, adotando o pastoreio como fonte de sobrevivência. Com o falecimento de sua mãe, se desfaz de todos os bens materiais e começa a sua vida da forma como se tornou reconhecido.

O Batismo
Por suas andanças e exortações foi, constantemente, comparado a Elias. Sua forma de falar, de vestir e mesmo o seu pensar são característicos do Profeta, tendo João se tornado, para muitos, a re-encarnação de Elias. 

Inclusive, no Evangelho de Lucas, há a referência de que o espírito de Elias atuava sobre João, sobre suas ações. Sua principal missão: a vinda do Messias; sua crítica voraz, o adultério de Herodes e Herodíades; seu grande momento, o Batismo de Jesus; sua saída deste mundo, numa bandeja de prata, servido como prêmio a Salomé que em troca prometera dançar para o Rei e deitar-se com aquele, como era costume posto que dançar para o rei, especificamente para aquele, era assumir o seu leito, ainda que por uma única noite.


Conta a lenda que  Herodes, louco de desejo, pede: "Salomé, dança mais uma vez!" Ela recusa, esquiva, mas de novo o tetrarca seu tio insiste: "Dança para mim outra vez! Se o fizeres, pede-me o que quiseres que te darei, nem que seja metade dos meus reinos. Tudo será teu!" Salomé hesita, mas depois, num relance, percebe que tem, naquele momento um poder imenso e vai usá-lo. Como? Caprichosa, e sem pestanejar, como quem tira um fruto maduro de uma taça, diz: "Quero a cabeça de João Baptista numa bandeja de prata."


A voz que clama no deserto
Pois é, lembrar o pastor com ares de louco, coberto de andrajos, alimentado por frutas silvestres, pequenos gafanhotos, mas, arauto da mais perfeita realeza de que se tem notícia, não é muito comum, não combina com a dança, com a paquera, com as comidas ou as bebidas. E ai, o que fazer? No mínimo uma expiação como esta e, agradecer a Deus, a São João e a todos os Santos e Santas de Junho, Santo Antônio, aquele da conexão com cupido; a São Pedro, o pescador de homens que, segundo a crença, tem as chaves do céu, a Senhora Santana, avó, que foi de Jesus. Agradecer a chance de mais uma vez poder reunir famílias em torno de uma mesma oração, ter em mente uma mesma diversão e, prometer, quem sabe, com um pouco de esforço, no próximo Junho lembrar também daquele homenzinho, João Batista, consagrado e que admoestava a todos visando à purificação através do batismo.

João Batista mais uma vez surpreende. Não pertence ao Cristianismo. É universal e holístico. Para evangélicos da Igreja Batista, esta provém de João Batista, sendo, portanto a única e verdadeira. Para o Espiritismo, é a re-encarnação de Elias. Na Ubanda é o Orixá-Xangô; é, ainda, o patrono dos Maçons e reverenciado como um dos profetas Muçulmanos.

Simplicidade na Fé
Pois é, o São João amados por Nordestinos passeia livremente por esse mundo de Meu Deus, tem devotos por todos os lados e demonstração de fé as mais curiosas possíveis. Isso é outra história. Por hora peço a João Batista que me redima se, animada pelos folguedos, esqueci um pouco o Santo, levei-o no coração para onde fui, mas, não fiz minha oração. Faço-a agora e convido a todas a fazê-la.



ORAÇÃO A SÃO JOÃO BATISTA


São João Batista, voz que clama no deserto: “Endireitai os caminhos do Senhor... fazei penitência, porque no meio de vós está quem vós não conheceis e do qual eu não sou digno de desatar os cordões das sandálias”, ajudai-me a fazer penitência das minhas faltas para que eu me torne digno do perdão daquele que vós anunciastes com estas palavras: “Eis o Cordeiro de Deus, eis aquele que tira o pecado do mundo”.
São João, pregador da penitência, rogai por nós.
São João, precursor do Messias, rogai por nós.
São João, alegria do povo, rogai por nós. 


 Ah, quase esqueci, São João anda no coração de todos que gostam de coisas simples, verdadeiras e que são dádivas diárias de nosso Senhor.
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Um comentário:

Leonardo Dantas disse...

Belo texto, belo enfoque. Com história, religião, com emoção e sensibilidade...

Parabéns!