Quem sou eu? O que faço

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João Pessoa, Paraíba, Brazil
Quem sou? O que faço. Sou Maria de Lourdes, tenho, agora, 62 anos, esposa, mãe e avó, formação jurídica, com pós graduação em Direitos Humanos e Direito Processual Civil, além de um curso não concluído de Filosofia. Conheci os clássicos muito cedo, pois não tinha permissão para brincar na rua. Nosso universo – meu e de meus irmãos – era invadido, diariamente, por mestres da literatura universal, por nossos grandes autores, por contistas da literatura infanto-juvenil, revistas de informação como Seleções e/ou os populares gibis. Todos válidos para alimentar nossa sede de conhecimento. Gosto de conversar, ler, trabalhar, ouvir música, dançar. Adoro rir, ter amigos e amar. No trabalho me realizo à medida que consigo estabelecer a verdade, desconstruir a mentira, fazer valer direitos quando a injustiça parece ser a regra. Tenho a pretensão de informar, conversar, brincar com as palavras e os fatos que possam ser descritos ou comentados sob uma visão diferente. Venham comigo, embarquem nessa viagem que promete ser, a um só tempo, séria e divertida; suave e densa; clássica e atual. Somente me acompanhando você poderá exercer seu direito à críticas. Conto com sua atenção.

terça-feira, 8 de março de 2016

VOCÊ MULHER

MIL SEGREDOS NO CORAÇÃO


Uma data festiva, 8 de Março – DIA INTERNACIONAL DA MULHER. Lembrei de algo bem brasileiro, um clássico da MPB, do tempo em que essa classificação incluía, tão somente, autores nacionais com visão marcantemente territorial. Pois é, um intérprete, um cantor, cujo nome MILTINHO, em nada lembra as estrelas atuais, muitos tão rebolativos e cheios de apelação.* Imagem:umacaixadesegredos.blogspot.com
A música cantada numa voz triste tocava fundo no meu coração, apesar de ainda criança. O compositor nos dizia: “Você, mulher / Que já viveu, que já sofreu / Não minta / Um triste adeus nos olhos seus / A gente vê, Mulher de Trinta.” Com a inexperiência de então, acreditava que a mulher viveria somente 30 anos. Graças  a Deus fui  resgatada  dessa melancólica imagem ao  entender que o  triste  adeus referia-se a um amor acabado. Eu nada sabia sobre Balzac, muito menos ainda sobre a "A mulher de trinta anos", mas superara o horror da morte aos trinta, que a música sugeria aos meus verdes anos quando a ouvia.*Imagem:saberebomdemais.com


Mesmo assim, o cancioneiro popular continuou influenciando o meu mundo. Me maravilhava, ouvindo as músicas preferidas de meus adultos preferidos: minha mãe e meu pai. Nelson Gonçalves era o ídolo. A mulher, em seu canto, era a um só tempo deusa, diaba, amor, paixão, ilusão, desilusão, loucura, razão, desejo, ou simplesmente MULHER. *Imagem:carva1.wordpress.com .

Por outro lado causava-me tremendo desconforto o que Ataulfo Alves e Mário Lago fizeram à pobre Amélia. Reservaram-lhe uma condição humilhante, subserviente e tristonha. Pobre Amélia cuja baixa estima fulminara seu instinto de sobrevivência, sua dignidade, tornando-a um triste exemplo do que efetivamente ocorria na sociedade de então, senão vejamos: ”... Às vezes passava fome ao meu lado/E achava bonito não ter o que comer/E quando me via contrariado/Dizia: Meu filho, que se há de fazer/Amélia não tinha a menor vaidade/Amélia é que era mulher de verdade” Triste Amélia, ainda bem que se foi. É certo que produziu seguidoras; hoje, graças a educação, a escola, e tantos outros veículos libertadores, cada vez em menor grupo. Que bom, Amélia levou com ela o masoquismo, a mesmice, a falta de vontade de SER.* Imagem:www.negociosdefamilia.com.br

Outro sucesso da MPB que busco no fundo do baú, a música Escultura, cuja letra criava um protótipo de beleza para o deleite do seu criador: “Comecei a esculturar/No meu sonho singular/Essa mulher fantasia:/Dei-lhe a voz de Dulcinéia,/A malícia de Frinéia/E a pureza de Maria./Em Gioconda fui buscar/O sorriso e o olhar;/Em Du Barry o glamour/E para maior beleza/Dei-lhe o porte de nobreza/De madame Pompadour./E assim, de retalho em retalho/Terminei o meu trabalho,/O meu sonho de escultor/E quando cheguei ao fim/Tinha diante de mim/Você, só você meu amor. LINDA, MUITO LINDA. Hoje, mais vivida me pergunto: E você escultor, tão cheio de poesia, o que reservou a essa mulher além do seu desejo? *Imagem:www.elo.7.br


A nossa luta obteve ganhos incríveis, além da Lei Maria da Penha que pune os agressores de suas mulheres. Cartola já previa essa mudança na belíssima “As rosas não falam”, onde traz uma esperança: - "Volto ao jardim/Com a certeza que devo chorar/Pois bem sei que não queres voltar/Para mim/Queixo-me às rosas/Mas que bobagem/As rosas não falam/Simplesmente as rosas exalam/O perfume que roubam de ti, ai.” O compositor não é mais o dono da mulher, ele a reconhece como ser autônomo, dona de seu sentimento. *Imagem:imagensdeflores.net.br
Nessa mesma direção temos o grande Pixinguinha na inesquecível canção da minha vida: Carinhoso. Que nos mostra um apelo: “Meu coração, não sei por quê/Bate feliz quando te vê/E os meus olhos ficam sorrindo/E pelas ruas vão te seguindo/Mas mesmo assim foges de mim...” Essa fantástica letra a ouvi, pela primeira vez, cantada por meu Pai e sempre a associarei a ELE, inclusive agradecendo o bom gosto musical .*Imagem:plus.google.com


Apesar dos avanços nas letras musicais, algumas musas ainda tornaram-se prisioneiras das músicas que inspiraram.     Garota de Ipanema deu à musa inspiradora uma identidade de segundo plano. Sempre que apontada a figura feminina, era identificada não por seu nome e sim por ter sido a causa da composição do Poetinha poetastro – Vinicius de Morais. *Imagem:catracalivre.com.br

A mulher no universo artístico e cultural tem sido, sem qualquer concorrente, senão a musa, a catalisadora do sucesso de poetas, compositores, escultores, pintores, desenhistas, fotógrafos e tantos outros artistas. Quase uma presença obrigatória em comerciais televisivos, e nas outras mídias. Está sempre presente na obra, na vida, na morte, na alegria e na dor. Não se intimida, exceto se há ameaça ao amor. Acuada se torna perigosa, potente articulista capaz das mais inesperadas reações.*Imagem:artedacervejaindaiatuba.blogspot.com 


A vida como ela é, real, palpável e, finita... produz diária e continuamente mulheres inimagináveis. Uma que enfrentou tudo e todos na defesa de seu bem maior: seu enteado a quem dedicou toda a sua vida; outra que trabalhava como lavadeira e na quinta feira, mandava o filho apanhar a roupa suja, pois a gravidez estava avançada – na terça seguinte vinha acompanhando o filho que trazia a roupa lavada e passada, feliz e sorridente para apresentar o mais novo filho. Sete, dos quais criou cinco. *Imagem:avioletadança.wordpress.com 


Entre os testemunhos que posso enumerar o mais pungente é o de uma mãe, muito próxima a minha avó, que não temeu por sua vida e de peito aberto se expôs a faca erguida pelo estuprador de suas filhas, infelizmente após a chegada da polícia e a dominação do agressor, sofreu um infarte fulminante, deixando órfãs quatro filhas, entre as quais três foram estupradas pelo pai biológico. Com a sua atitude heroica garantiu a perda do pátrio poder ao agressor, o encaminhamento das filhas a outra situação, permitiu-lhes estudar, crescer noutra realidade. Uma irmã deu a mão a outra, todas se ajudaram e  foram ajudadas por pessoas que as conheciam e conheciam sua mãe.*Imagem:nandodornelles.wordpress.com


Mulheres leoas com histórias de lutas, tragédias e superações enfeitam mais de sessenta anos de vida e quase quarenta anos de advocacia. São tantas que ficaria por meses a escrever. Retratar guerreiras que lutam todos os dias, independentemente dos reveses da vida, da ininterrupta mudança dos anos, das perturbações sociais, optando por enfrentar, deixando para trás preconceitos, desafios, brutalidades e injustiças.* Imagem:www.vozdabarra.com.br 


A você mulher, santa ou prostituta, guerreira ou alienada, letrada ou analfabeta, cientista ou lavadeira, dondoca ou gari, policial ou do lar, motociclista ou cozinheira, não importa a que você se dedica, sua essência é una, você é única embora sejamos 7.388.766.617 de humanos espalhados por esse globo e, desses, 3.662.415.054 sejam mulheres, que equivale a 49,6% da população mundial, ninguém neste vasto mundo é sequer uma cópia sua.*Imagem:megacurioso.com.br


A mulher é surpreendente, a baiana Bárbara de Oliveira, que se mudara para Sabará, onde morreu em 1766, possuía 22 escravos, mais mulheres que homens. Sua origem não pode ser negada, negra, descendente de escravos. Porém repetiu os gestos odiado pelos negros da época. Fez e manteve escravos seus semelhantes. Redimiu-se alforriando todos em testamento. Lhes digo não sejam escravas sequer do amor. Não se deixem escravizar por dinheiro, beleza, conforto, posição ou qualquer coisa que acene contra sua liberdade, seu jeito de ser, suas verdades e suas raízes. Resista, mesmo contra seus desejos, se eles podem significar sua perdição. *Imagem:pandir.com 


Você não tem que ser Madre Teresa de Calcutá – a quem tenho profundo respeito e admiração; você não tem que ser Lady Godiva a cavalgar nua pelo imaginário masculino; igualmente, você não precisa imitar Gisele Bundchen, belíssima, empresária de sucesso ou, a Jenny Beavan - a profissional que ganhou o Oscar 2016 pelo Melhor Figurino - e cuja apresentação pessoal foi classificada pelos experts como o pior figurino da noite. O desleixo, o impagável desprezo ao glamour rendeu críticas e admiração de muitos. *Imagem:notícias.uol.com.br


As mulheres não têm que comer alface de manhã, à tarde e a noite, exceto se isso as torna felizes. Muito menos explodir seu corpo, recheá-lo com drogas e toda a parafernália que existe no comércio, para, supostamente se apresentar linda e maravilhosa. Também não precisa ser eterna oferenda nas mesas cirúrgicas em busca de perfeição. Se você jamais será perfeita aos seus olhos,  imagine se o será aos olhos de terceiros. *Imagem:macemarinho.blogspot.com 


Vocês, eu, nós, mulheres de carne e osso precisamos sim de uma consciência livre de noções pré-fabricadas, de opções nossas sem o peso fatídico de agradar a sociedade, a família (sim, porque ela pode ser cruel ao extremo), ao marido ao mundo. Agora, como ninguém é de ferro, o agrado aos filhos, filhas, netos e netas, é permitido. Até porquê, na maioria das vezes as concessões são mútuas, diárias e prazerosas.  .*Imagem:www.a12.com
Brincadeiras a parte “sou feliz e agradeço aquilo que Deus me deu”. Não posso concluir sem registrar o amor, o doce exemplo de minha Mãe, D. Luzia que aos 84 anos atribui a baixa de sódio, em seu organismo, a ausência de banho de mar na Praia de Tambaba. O amor, o carinho e até mesmo o olhar meigo de minha filha quando me mostra erros no meu dia a dia, minha outra Luzia. A minha nora Lílian, com seu jeito de ser: brava e amiga, a um só tempo As minhas irmãs Paula Frassinette e Maria do Socorro, ambas mulheres valorosas, fortes, muitas vezes exemplos de superação e meta de vida. *Imagem:pt.dreamstime.com 


Minha amadas tias entre as quais escolho  Denise Fon para representá-las. Essa tia me inspira a cada texto, a cada risco que me imponho com as letras. Minhas sobrinhas adultas, mulheres: Fernanda Nóbrega, minha Promotora preferida – tão competente quanto amada; Giovanna Nóbrega – guerreira, tão irreverente e prática, que não poderia deixar de ser aquela onde encontramos alegria plena. Gabriella Nóbrega – séria, decisiva e que num segundo pode ser tão somente Gabi, a menina que buscava  balanço nos cabelos. Ana Carolina, com os olhos onde sempre gostei de mergulhar tendo a sensação de um riacho corrente. Ainda menina tornou-se mãe. Zeinha, sempre amiga, doce e calma, mas não se iludam, traz no sangue a placidez de um felino, num segundo se transforma numa pantera. *Imagem:thicabella.com 

 Não para por aí, ainda tenho Luíza – minha sobrinha que é capaz de surpresas inimagináveis, cuja maior preocupação é acertar na difícil missão que é ser mãe; Juliana: a Juli Buli – com essa grafia, pois é diminutivo de buliçosa. Criança, não parava, adulta, continua a mesma. Daniella, a guerreira menor e mais frágil que conheço. Não se enganem, tem brios e metas, sou sua admiradora. Bia, maluquinha que só vendo. Todos os dias, rogo a Deus por ela. Kalyne Maiume, minha sobrinha por afinidade, uma Japa pra ninguém botar defeito que já contribuiu para o crescimento da humanidade com um casal de lindos japinhas. *Imagem:minejr.woordpress.com

Brincadeirinha. Gente e as primas. Primeiras companheiras, aquelas que cresceram junto, sejam mais velhas ou mais novas, mas estiveram e participaram da aventura do crescimento uma das outras. Algumas convivendo apenas na infância, outras até a juventude e outras, ainda, até os dias atuais. Infelizmente tem aquelas que não são conhecidas e, outras que foram apresentadas na idade adulta. As prima formam um capítulo a parte da história de cada um. São detentora de segredos, de micos, de gafes, das primeiras paqueras, enfim é difícil se imaginar sem primas, elas são maravilhosas e trazem do passado momentos cheios de alegria e cumplicidade.*Imagem:fotosfrases.com.br


As crianças, do sexo feminino, reservo outra ocasião. As demais mulheres que fazem parte dessa plêiade, sejam conhecidas ou desconhecidas, a elas todo o Equilíbrio, Amor e Paz que possam absorver e exercitar. Pelos acertos,  que tornam mais fortes e mais conscientes as pessoas. Pelos erros que auxiliam no crescimento, alertando e mostrando que o Universo respira em conjunto e a lesão a qualquer de seus habitantes reflete em todos os demais. Quando a humanidade entenderá isso? *Imagem:www.thinkstockphotos.com.pt

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