Quem sou eu? O que faço

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João Pessoa, Paraíba, Brazil
Quem sou? O que faço. Sou Maria de Lourdes, tenho, agora, 62 anos, esposa, mãe e avó, formação jurídica, com pós graduação em Direitos Humanos e Direito Processual Civil, além de um curso não concluído de Filosofia. Conheci os clássicos muito cedo, pois não tinha permissão para brincar na rua. Nosso universo – meu e de meus irmãos – era invadido, diariamente, por mestres da literatura universal, por nossos grandes autores, por contistas da literatura infanto-juvenil, revistas de informação como Seleções e/ou os populares gibis. Todos válidos para alimentar nossa sede de conhecimento. Gosto de conversar, ler, trabalhar, ouvir música, dançar. Adoro rir, ter amigos e amar. No trabalho me realizo à medida que consigo estabelecer a verdade, desconstruir a mentira, fazer valer direitos quando a injustiça parece ser a regra. Tenho a pretensão de informar, conversar, brincar com as palavras e os fatos que possam ser descritos ou comentados sob uma visão diferente. Venham comigo, embarquem nessa viagem que promete ser, a um só tempo, séria e divertida; suave e densa; clássica e atual. Somente me acompanhando você poderá exercer seu direito à críticas. Conto com sua atenção.

terça-feira, 25 de junho de 2013

"A LUA E EU"



“OLHA PRO CÉU MEU AMOR"





Essa música acompanhou os meus verdes anos. Sempre no mês de junho as letras que homenageiam Santo Antonio, São João e São Pedro saíam das gavetas e das casas do interior para as salas das cidades. Nessa época todos se irmanavam num sentimento único, celebrar os santos que enchiam de alegria e esperanças crianças, rapazes e moças, novinhas ou “moças velhas”, donzelas – comum naquele tempo – e senhoras.


Olhar para o céu mais que à procura da lua, demonstrava o quanto a jovem estava ansiosa por ter alguém com quem dividir aquele sentimento que a incomodava. Não sabia de que se tratava, suspiros, suspiros, suspiros. De repente não cabia dentro de si. Estava chegando o dia dos namorados, as coleguinhas correndo em busca de presentes e ela sozinha, que maldade, como pode?


Dúvida cruel, aceitar aquele pretendente que não fazia o seu coração acelerar somente para não estar só? Ou insistir em lançar olhares para aquele que “fingia” (é claro que ele via) não perceber sua emoção, seu atrapalho e todo o vermelho que enchia o seu rosto cada vez que ele se aproximava?


Dependia do seu estado de espírito a decisão. Estava dividida. Ora achava que devia tentar aquele, o dito cujo que não perdia oportunidade de demonstrar o seu interesse. Ora dizia a si mesma que não valia a pena. E se estivesse namorando e de repente o outro se manifestasse nesse sentido?


Oh céus, oh dor. Que fazer? Olhar para a lua e suspirar. Santo Antônio já se fora, com direito a trezena e tudo.  Vestir-se com esmero, cuidadosamente verificar cada detalhe. A roupa teria que deixá-la mais bonita, mostrar escondendo, para não tornar-se vulgar. Um decotinho ali, a cintura fina e marcada, o comprimento somente acima do joelho, cores bonitas, modelo chique.


Os sapatos com salto alto, bonito, porém confortável. Nada tira mais a cadência do andar que um sapato incômodo. Maquiagem e cabelos com requinte, bonitos, sem exageros. Aparentemente  a moça estava pronta, não só pra olhar o céu,  mas para encontrar alguém com quem dividir o olhar.



Faltava algo, o que seria? No vestir tudo certo. O que dizer se o galã resolvesse se aproximar queimava a ponta da língua, fora ensaiado inúmeras vezes. Quem sabe o perfume. Não esse era o ideal – Fleur de Rocaille – da Caron, perfumaria antiga, francesa e de excelente aceitação no mercado. Estava linda, elegante e cheirosa. Por que então a insegurança?


A Lua tão linda, o céu riscado por fogos de artifícios, as fogueiras esquentando tudo, inclusive os corações, crianças correndo para cima e para baixo. Bombinhas, chuveiros, traque, faziam a alegria dos menores. Os pré-adolescentes divertiam-se soltando bombas bujão e fogos que uma vez disparados se dividiam no céu em lagrimas de cores múltiplas. Uma beleza.


Aquela sensação esquisita da ausência de algo que ainda não sabia o que era. Olhando já percebera a presença, no pavilhão, daqueles dois: o pretendente e o pretendido. O primeiro era bonito, de olhos verdes e, grande amigo; o segundo, sequer era bonito, mas tinha um quê, provocava confusão, desordem na criatura, apesar de estar sempre com uma atitude distante, denotando total desinteresse.



Assim, de repente, como todas as boas idéias, a lua no céu provocou o que havia de mais bonito na garota. O seu rosto iluminado pelo reflexo lunar ficou radiante, começara a rir. E o riso era cristalino, transformava sua face. Ninguém sabia, mas ria de si mesmo, do quanto era boba. Como alguém pode se interessar por outra pessoa que sequer olha para ela?


Sorrindo, com a alegria de quem não tem recalques, viu algo muito estranho acontecer. O jovem, que sempre a esnobara, aproxima-se e diz: você está linda. Não tinha percebido ainda que se transformara numa bela moça. Sempre lhe admirei, mas a considerava uma criança. Vejo que me enganei. 



Ela, patética ouvindo aquela torrente de elogios. Não era possível, era um sonho. Efeito da magia que envolvia o mês de junho. Não era normal algo assim acontecer. Como quem não quer nada vem a frase: sabe que o sorriso lhe torna mais bonita ainda e que enche a rua de luz? Como? É isso que eu disse, seu riso irradia luz.


Embevecida com os elogios não se dá conta de que ela é que era a estrela naquele momento. Para sua surpresa as atenções voltaram-se para ela. O patinho feio desabrochara, era, agora, uma moça bela, sorridente e assustada.



O charmoso que mexia com seu equilíbrio, tão ao seu alcance, perdera um pouco do brilho. No meio dos rapazes e moças alguém ganhou destaque, não era o amigo ou mesmo o ex-pretenso futuro namorado. Alguém calado, de olhos apertados e que não estava acostumado a dedicar sua atenção a aquela jovem, muito jovem por sinal para aquele aluno de tradicional colégio para rapazes, todo perfumado e que, diferentemente dela,  já tivera namoradas.



Pois é, o até então príncipe virou sapo,  foi eliminado. Em seu lugar surgiu um novo rosto. Foram necessários meses, quase um ano, até que para a jovem surgiu o, hoje desusado, pedido de namoro. Diverso do que ocorre no presente, foi um período de aprendizagem, tudo era novo, pegar na mão, a mão no ombro, caminhar de mãos dadas, beijar o rosto, os olhos , até,  roubar beijos na boca, foi uma aventura construída a partir de um impulso, aceitar namorá-lo.


Assim olhar a lua passou a ter um novo componente. Não era mais  preencher um vazio, era ver a beleza, sentir-se banhada de prata, compartilhar a deliciosa aura que envolve os namorados  pois como diz o cancioneiro popular “ a lua é, é, dos namorados”.



A super lua, particularmente bonita sobre as águas de Manaíra, com certeza causou em muita gente um efeito avassalador, distribuiu amor, fez renascer sentimentos adormecidos, relembrou fatos e histórias de namoros abençoados por esse astro feminino.


Em mim e para mim há algo especial quando a lua brilha enorme, fulgurante; tanto faz se nasce por detrás da serra ou sobre as águas  do mar, pode funcionar como um amuleto, um afrodisíaco, qualquer coisa, menos passar em brancas nuvens. A lua cheia traz consigo força, mistério, magia e sedução. Desequilibra homens, mulheres, animais, é um doce e maravilhoso mistério.  Ah, ia esquecendo de dizer-lhes, nasci em dezenove de julho, sou de câncer, signo regido pela lua...


Um comentário:

Leones R. Nunes - Leo disse...

Sempre emocionando...

Gostaria de sentir o perfume de Fleur de Rocaile... desde o filme Perfume de Mulher e seu impressionante Tenente Coronel Frank Slade...

Beijo D. Lurdinha