Quem sou eu? O que faço

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João Pessoa, Paraíba, Brazil
Quem sou? O que faço. Sou Maria de Lourdes, tenho, agora, 62 anos, esposa, mãe e avó, formação jurídica, com pós graduação em Direitos Humanos e Direito Processual Civil, além de um curso não concluído de Filosofia. Conheci os clássicos muito cedo, pois não tinha permissão para brincar na rua. Nosso universo – meu e de meus irmãos – era invadido, diariamente, por mestres da literatura universal, por nossos grandes autores, por contistas da literatura infanto-juvenil, revistas de informação como Seleções e/ou os populares gibis. Todos válidos para alimentar nossa sede de conhecimento. Gosto de conversar, ler, trabalhar, ouvir música, dançar. Adoro rir, ter amigos e amar. No trabalho me realizo à medida que consigo estabelecer a verdade, desconstruir a mentira, fazer valer direitos quando a injustiça parece ser a regra. Tenho a pretensão de informar, conversar, brincar com as palavras e os fatos que possam ser descritos ou comentados sob uma visão diferente. Venham comigo, embarquem nessa viagem que promete ser, a um só tempo, séria e divertida; suave e densa; clássica e atual. Somente me acompanhando você poderá exercer seu direito à críticas. Conto com sua atenção.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

A mulher na história - parte 1


Contam-nos as civilizações, de diversas formas, a história da mulher  na humanidade. Em algumas, vamos encontrá-las em posições de destaque - atuando frontalmente - noutras, nos bastidores - heroínas sem rostos, sem nomes, sem holofotes, trabalhando, incessantemente. Igualmente, há relatos de mulheres, sorrateiramente, movimentando cordéis e transformando pessoas em títeres. A História grava o gênero – feminino – contraditoriamente, como minoria - com relatos que oscilam entre melancólicos a grandiosos, tristes, alegres, terríveis, maravilhosos, enfim as cores e os nuances recebem os matizes que a situação, então reproduzida, permite.

A mulher na Bíblia - Lilith e Eva

Lilith e Eva
A Cultura Ocidental, através da Igreja Católica, na versão mundialmente conhecida, relata que Deus criou a mulher a partir da costela de Adão – Gen.21 ,23,  pois não era bom que o homem ficasse sozinho, determinando, o Criador,  que o homem se unisse à mulher e gozasse com ela as delícias do Paraíso. Adão chamou a sua mulher de EVA, em hebraico HAVA que significa vida.

Numa versão pouco conhecida e que dizem ter sido abolida dos textos Sagrados no Concílio de Trento, fala-se que Deus criou a mulher: Lilith, da mesma essência de Adão, com base nos texto bíblicos de Gênese 1.27 e que teria fugido, após ter se rebelado contra sua posição – inferior ao homem.

Há, também, uma terceira variante que registra Lilith  como a serpente que incitou Eva a dar ao homem o fruto proibido. Eva ou Lilith, a mulher, desde a sua criação, mostra-se como autora, capaz de criar, suscitar reações, modificar conjunturas, transcender a papéis que a sociedade talha como tipicamente feminino.

A mulher no Antigo Testamento


Dorcas, a costureira generosa
O Universo Bíblico feminino, dependendo do momento enfocado, oscila entre o BEM  e o MAL.    Destacam-se no Antigo Testamento figuras ímpares como: 
SARA – que espera em  DEUS e obedece a Abraão. A Bíblia, em Gênesis 12:11, diz que Sara era mulher formosa à vista. Sua beleza ia além da física, pois era espiritualmente bela, leal, correta, submissa a seu esposo. Sua obediência trouxe-lhe, por vezes,  sofrimento e desesperança; sua fé e confiança irrestrita em DEUS a tornaram mãe quando a idade já lhe havia tirado a esperança da maternidade.  

 DÉBORA, profetisa e Juíza em Israel - no que era uma exceção - famosa pelo episódio com Baraque e Sísera – julgando-o por sua covardia ante a exigência de que ela, Débora, o acompanhasse no ataque e captura do inimigo. 

HADASSA que passou para nossa historia pelo nome de ESTHER, judia e profetisa que tornou-se Rainha, esposa de Assuero ( Rei da Pérsia – também conhecido como Xerxes, sucessor de Ciro ) foi graças ao seu amor e sua fidelidade, para com o rei, que conseguiu salvar o seu povo de ser exterminado. 

RUTH, que era nora de Noemi, sua fiel companheira, mantem-se ao seu lado quando ela mais precisava, amando-a e honrando-a por atos e palavras, tornando-se exemplo de grande fidelidade fraternal.

  JAEL - Ao ler Juízes 4 e 5, descobrimos a história de uma mulher decidida e corajosa, cujo nome, Jael, significava "cabra selvagem ou montês", que foi considerada bem-aventurada, pois, com leite e água, atraiu e matou o inimigo de seu povo. Assim foi aclamada: “ Bendita seja entre as mulheres, Jael, mulher de Héber o quenita".... ( 5:24- 27)

Dentre as mulheres do Antigo testamento, ressalta-se, como anti-heroinas: 

A RAINHA DE SABÁ – Visitou o Rei Salomão, trazendo-lhe muitos presentes em ouro e preciosidades. Maravilhou-se ante a beleza e suntuosidade  do Templo e,  com o Rei de Israel, a quem pôs à prova por sua decantada sabedoria. Cheia de admiração viveu, com Salomão,  um caso de amor, tendo  retornado para seu reino grávida do amado, deu-lhe um  filho que  foi chamado de Menilek. Pelos escritos sobre a rainha, concluiu-se que era negra e de rara beleza.

DALILA – uma Filistéia do Vale de Soreque, amada por Sansão, a quem traiu, revelando a origem de sua força,  entregando-o nas mãos de seu povo. Por essa traição, ela recebeu vultosa recompensa.( Juizes, capítulo 16). 

JEZABEL - Idólatra, dominadora, perversa e perseguidora de santos. 

VASTI -  Rainha, insubmissa ao marido e ao Rei, perdeu a coroa e o marido. 

HERODIAS também chamada HERODÍADES-  adúltera e assassina de santos, através de sua filha, Salomé, obteve autorização de Herodes e mandou matar João Batista, exibindo sua cabeça numa bandeja de prata, num bacanal realizado no palácio real.

A mulher no Novo Testamento

Maria, nossa Mãe
MARIA, a mais forte personalidade feminina do Novo Testamento. Nascida em Nazaré, na Galiléia é a Santíssima Mãe dos católicos e escolhida por Deus para ser mãe de seu filho Jesus. Filha dos nazarenos Joaquim e Ana, seu pai era sacerdote israelense em Nazaré e descendia de Davi e de Ruth, de cuja descendência, conforme a profecia, viria o Messias.

Por influência de sua educação monástica, recebida sob a tutela de Zacarias, seu tio, demonstrou grande interesse pelos rolos de papiros das Escrituras Sagradas, guardados na sinagoga, onde eram lidos e discutidos nas reuniões semanais dos judeus de Nazaré. Assim foi desenvolvendo um extremo senso de religiosidade e ganhado a crença de que Deus a escolheria, dentre as mulheres, para uma missão divina aqui na Terra.

 Seu Magnificat, ou cântico de louvor ao Criador, entoada por ocasião de sua visita à prima Isabel, demonstra seu amor e devoção a Deus. Iniciando com Jesus a sua missão, conforme relato bíblico do primeiro milagre – Bodas de Canaã - seguiu-o durante sua vida pública de pregação (27-30 D. C.). Sofreu com ele sua paixão, vendo-o morrer crucificado.  Após a morte do filho, permaneceu em contato com os seus discípulos e mantendo uma vida de orações. Constantemente recebia as caravanas de peregrinos que vinham para estar com ela,  ouvirem e conhecerem seus relatos sobre seu Divino e tão amado Filho! É tradição cristã que morreu aos 72 anos de idade. O louvor a MARIA é chamado de culto MARIANO.

Outras figuras femininas destacam-se no relato bíblico do Novo Testamento, entre elas:

ISABEL, a mulher humilde, mãe de João Batista,  prima de Maria e que a saudou como bem aventurada, enquanto seu filho estremecia em seu ventre. 

MADALENA – A mulher transformada e a quem o Nazareno apareceu ressuscitado. 

A CANANÉIA,  que era uma mulher gentia - grega, siro-fenícia de sangue – Uma mulher de fé e perseverança, que leva Jesus a modificar seu plano de ação, curando a sua filha, muito embora as Escrituras dissessem da vinda do Salvador para sarar os filhos doentes de  Israel. 

A SAMARITANA – A mulher evangelista que leva aos seus companheiros a novidade da presença do Cristo e os convence de suas arguições. 

TABITA OU DORCAS, a viúva generosa, rica em boas obras e esmolas que dava, foi ressuscitada por Pedro em Jope (Atos do Apóstolos 9, 36,42).

 A mulher na pré- História

Escultura pré-histórica
Em nossa viagem imaginária, em busca da mulher, a encontramos na pré-história, desnudada de sua aura bíblica; tornara-se um ser renovável em si mesma, para sobreviver à força bruta da natureza. A fertilidade é a sua característica marcante, a sua capacidade de gerar torna-a uma figura central – não principal - mas em volta de quem ergue-se um halo de divindade.

A evolução faz a mulher conservar-se mais tempo  em um mesmo lugar, para proteger o filho recém-nascido, aumentar a força de defesa, de trabalho  e o grupo. Com seus cuidados, a mulher pré-histórica inicia a mudança na rotina nômade do “homem”. Assim, por sua natural aptidão para a maternidade, torna-se a responsável pela descoberta da agricultura, iniciada com a colheita dos frutos, provocando o que seria o princípio da fixação do homem à terra. 



A mulher no Egito

Cleópatra, a rainha grega do Egito
Num outro olhar, buscando o Egito antigo, a história surpreende-nos pelo registro de que a mulher gozava de igualdade com o homem, possuindo os mesmos direitos, podendo adquirir bens, fazer contratos, casar, divorciar. Todavia, alguns autores na atualidade, entre eles Gay Robins, contrariam tais afirmativas, conservando, entretanto, a informação de que às mulheres caberia gerar, curar, manter o equilíbrio e, de certa forma, uma vida social diferente das demais.

A mulher mais famosa do Egito e quiçá do mundo, foi, sem dúvida, CLEÓPATRA, a rainha grega do Egito, nascida em Alexandria e que “se enviou enrolada num tapete a Júlio César”, envolvendo-o em sua teia de sedução, conquistando seu coração e um aliado, para alcançar o desejado trono egípcio.

Em Alexandria, no ano de 37 A.C,  envolveu-se com Marco Antônio – general e governador da porção oriental do Império Romano -  que também sucumbiu ao seu amor. Cleópatra, mulher de grandes paixões, deu-lhe dois filhos e ,  sob sua proteção, recebeu de volta territórios egípcios conquistados pelo Império Romano.

Todos os escritores antigos concordavam em reconhecer a sua conversa "fascinante", a sua bonita voz, a habilidade e a sutileza de sua linguagem". Ela falava seis idiomas, conhecia bem a história, a literatura e a filosofia gregas, era uma negociadora astuta e, ao que parece, uma estrategista militar de primeira ordem. Tinha também uma grande habilidade para cercar-se de uma atmosfera teatral.

Dona de uma personalidade forte, foi casada com seus irmãos – Ptolomeu 13 (morto em 47 AC) e Ptolomeu 14 (morto em 44 AC). Teve dois grandes amores e quatro filhos é, também, retratada como uma mulher preocupada com o luxo da corte e com a vaidade. Sua determinação e inteligência tornaram Cleópatra a mulher mais famosa de todos os tempos, entretanto a decantada beleza o foi por autores posteriores, o que coloca sob suspeita tais registros. .


A MULHER  NA GRÉCIA


Palas Athena
Se lançarmos um olhar ao berço de nossa civilização, voltando a Grécia clássica vamos encontrar a mulher sempre definida como inferior ao homem. A história registra que Platão, grande filósofo, matemático, tendo como mentor Sócrates e por pupilo Aristóteles, autor de “O banquete”, tratava fluentemente de diferentes temas, entre eles a ética, a política, a metafísica e a teoria do conhecimento, "rendia, diariamente, graças aos deuses por ter nascido homem e não mulher, livre e não escravo."

Apesar da democracia ateniense, a mulher, em pouquíssimas ocasiões vinha a publico, vivia restrita ao gineceu, com suas escravas, onde realizava a distribuição da matéria prima para fiar e tecer suas vestes, de pouca importância social, não lhes era permitido acompanhar os homens em suas reuniões, deixando seus lares apenas por ocasião de festas religiosas .

 A jovem, na família, recebe instrução rudimentar, cozinha, borda, cose e canta, casa-se conforme a vontade paterna. A mãe de família é completamente sujeita ao marido; este, antes de morrer, pode escolher-lhe um segundo esposo; é considerada apenas como a primeira entre as escravas e pode ser, sem formalidade alguma, repudiada pelo marido. A posição da mulher na Grécia antiga traduz-se bem na estultice de Fílon de Alexandria , por exemplo, o qual opõe o "intelecto masculino" à "sensação feminina."O homem pensa, a mulher sente.


Helena e Paris - estopim de uma guerra
Todavia, nos palácios, nos templos, a mulher revelava-se por sua beleza e divindade, capaz de destruir exércitos, selar alianças, causar guerras, ser portadora de respostas às inquietações masculinas, através de oráculos. 

A mitologia grega registra, com ênfase, HERÓFILA que era uma sibila oriunda de Marpesso, na região de Tróia e dali para Delfos, onde proferia seus oráculos, sobre uma rocha.

Foi Herófila quem predisse a guerra de Tróia, anunciando que uma mulher chamada Helena seria a responsável por ela. Gregos e troianos entraram em guerra por causa do rapto da princesa HELENA DE TRÓIA (esposa do rei lendário Menelau), por Páris (filho do rei Príamo de Tróia). Reza a história que o príncipe troiano foi à Esparta, em missão diplomática e tomou-se de paixão por Helena, raptando-a. Helena, por sua beleza e fatos que a cercam repercute de forma a tornar-se sinônimo do arrebatamento Grego. A Ilíada, poema épico, Homerico, focaliza os acontecimento míticos-lendários em torno de Tróia, Menelau, Helena, Páris e do cavalo de madeira, como sinônimos de paixão e logro,  respectivamente.

A mulher continua seu percurso histórico na Idade Média, chegando a Idade Moderna e a Idade Contemporânea, nos levando a realizar um novo mergulho em busca de vultos marcantes.

Mas isso é uma outra história...


 

3 comentários:

Leonardo Dantas disse...

D. Lourdes, seus textos são muito bons, ricos em conteúdo, história, mitologia, filosofia... Parabéns!
Aguardo, curioso, quase impaciente, a continuação dessa história.

pensamentosnoespelho disse...

Pois é, D. Lourdinha, nós, mulheres sempre fomos alvo de dúvidas, fascínio, mistérios, riquezas; S
Somos alvos de estudos, pesquisas, teorias; estamos relatadas em livros e músicas com as mais diversas opiniões e pontos de vista.

Mas uma coisa é, sem sombra de dúvidas, inegável: fomos, somos e seremos sempre assim: polêmicas.

Talvez o que seja mais intrigante para aqueles que nos observam é que trazemos dentro de cada uma de nós, a ousadia e a coragem de Lilith, a fidelidade e fé de Maria, o instinto maternal que nos acompanha desde a Antiguidade; a sabedoria de Cleópatra, os mistérios da Herófila, os encantos de Helena... alternando, apenas, o momento de sua atuação.
Beijocas!

kelly disse...

Adorei o texto o que acabou me instigando a ler mais sobre a condição da mulher na história...sem sombra de dúvida fiz a escolha certa para meu objeto de estudo,meu tcc vai ser otimo.